Por David Shepardson
WASHINGTON (Reuters) - A Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) está iniciando uma investigação formal sobre o Boeing (NYSE:BA) 737 MAX 9 depois que um pedaço da fuselagem da aeronave se soltou em pleno voo em uma rota da Alaska Airlines na semana passada, forçando um pouso de emergência, informou o órgão regulador na quinta-feira.
No sábado, a FAA suspendeu a operação de 171 jatos Boeing MAX que tem o mesmo equipamento conhecido como plugue de porta que se soltou durante o voo da Alaska, enquanto aguarda inspeções de segurança. A maioria deles é operada pelas companhias aéreas norte-americanas Alaska Airlines e United Airlines (NASDAQ:UAL).
O incidente foi o mais recente de uma série de eventos que abalaram a confiança na fabricante de aeronaves.
As negociações entre a Boeing, a FAA e as companhias aéreas sobre as instruções revisadas de inspeção e manutenção da Boeing, que o órgão regulador deve aprovar para que as companhias aéreas possam voltar a voar com os aviões, terminaram na quinta-feira sem acordo, de acordo com fontes com conhecimento do assunto.
A FAA disse que o incidente da Alaska Airlines "nunca deveria ter acontecido e não pode acontecer novamente".
A agência disse à Boeing, em uma carta datada de quarta-feira, que a investigação era para determinar se a fabricante de aviões não havia conseguido garantir que os produtos concluídos estivessem em conformidade com seu projeto aprovado e estivessem em condições de operação segura de acordo com as regras da FAA. A agência citou "discrepâncias adicionais" em outros aviões 737 MAX 9.
"Cooperaremos de forma completa e transparente com a FAA e o NTSB em suas investigações", disse a Boeing em um comunicado.
As ações da Boeing fecharam em queda de 2,3% na quinta-feira e caíram mais de 10% desde o incidente.
"ERRO" DA BOEING
A Alaska Airlines e a United disseram na segunda-feira que encontraram peças soltas em várias aeronaves que tiveram as operações suspensas durante verificações preliminares, levantando novas preocupações sobre como a família de jatos mais vendida da Boeing é fabricada.
As duas companhias aéreas cancelaram centenas de voos desde sábado, com os aviões MAX 9 em terra, incluindo 230 da United e 152 da Alaska Airlines nesta sexta-feira.
Um número crescente de parlamentares norte-americanos expressou preocupações mais amplas sobre a FAA e a Boeing e perguntas sobre o controle de qualidade da fabricante de aviões.
"Considerando os trágicos acidentes anteriores com aeronaves Boeing 737 MAX, estamos profundamente preocupados que os parafusos soltos representem um problema sistêmico com a capacidade da Boeing de fabricar aviões seguros", escreveram os senadores Ed Markey, JD Vance e Peter Welch para o presidente-executivo da Boeing, Dave Calhoun.
A presidente do Comitê de Comércio do Senado, Maria Cantwell, em uma carta à FAA, questionou o controle de qualidade da Boeing e disse que os processos de supervisão da FAA "não têm sido eficazes" para garantir que a Boeing produza aviões em condições operacionais seguras.
A Reuters informou na terça-feira que a fabricante de aviões disse aos funcionários que as descobertas estavam sendo tratadas como uma "questão de controle de qualidade" e que as verificações estavam em andamento na Boeing e na fornecedora Spirit AeroSystems.
Calhoun disse à CNBC na quarta-feira que houve um "escape de qualidade" que fez com que o MAX 9 que estava no ar tivesse parte da fuselagem solta.
Em um discurso interno para a equipe na terça-feira, Calhoun disse: "Vamos abordar esse problema reconhecendo nosso erro".
O escritório de advocacia Stritmatter entrou com uma ação coletiva contra a Boeing na quinta-feira em King County, Washington, em nome dos passageiros do voo da Alaska Airlines, citando a admissão de Calhoun do "erro" da Boeing em relação ao MAX 9.
Daniel Laurence, advogado dos passageiros, disse que o episódio em voo "causou consequências econômicas, físicas e emocionais contínuas". A Boeing não quis comentar.
Mais viajantes estão verificando o modelo de uma aeronave antes de reservar voos após o incidente com a Alaska Airlines, disseram várias operadoras de viagens.
PROCESSOS SOB ESCRUTÍNIO
A aeronave da Alaska Airlines, que estava em serviço há apenas oito semanas, decolou de Portland, Oregon, na última sexta-feira e estava voando a 4.900 metros de altura quando parte da fuselagem se soltou do avião, abrindo a porta da cabine. Os pilotos levaram o jato a Portland, com apenas ferimentos leves sofridos pelos passageiros.
As práticas de fabricação da Boeing "precisam estar em conformidade com os altos padrões de segurança que eles são legalmente responsáveis por cumprir", disse a FAA. O Conselho Nacional de Segurança dos Transportes dos EUA (NTSB) está verificando se os parafusos que prendem o painel estavam devidamente apertados ou se algum deles estava faltando.
Na quarta-feira, o secretário de Transportes dos EUA, Pete Buttigieg, não quis informar quando a FAA poderá permitir que os aviões retomem os voos, mas disse que a Boeing deve garantir que seus aviões sejam "100% seguros".
Em 2019, as autoridades globais suspenderam todos os aviões MAX por 20 meses, depois que 346 pessoas morreram em acidentes na Etiópia e na Indonésia, ligados a um software de cockpit mal projetado.
A crise corroeu a participação de 50% da Boeing no mercado de jatos de passageiros e a empresa terminou 2023 em segundo lugar, atrás da rival Airbus (EPA:AIR), em entregas de aeronaves pelo quinto ano consecutivo.
A Airbus registrou na quinta-feira um recorde de pedidos anuais de jatos, registrando quase 2.100 novos pedidos líquidos em 2023, enquanto a Boeing registrou 1.314 novos pedidos líquidos. O presidente-executivo da Airbus, Guillaume Faury, disse aos repórteres que estava monitorando de perto a investigação de sua rival.
"Estaremos aprendendo tudo e esperamos que a Spirit faça exatamente o mesmo", acrescentou.
A companhia aérea brasileira Gol (BVMF:GOLL4) disse que as questões de qualidade em todo o setor de aviação devem ser avaliadas e planos de mitigação de risco devem ser implementados.
A autoridade de aviação civil do Panamá disse que havia proibido temporariamente as operações de 21 MAX 9s da Copa Airlines.