Por Jessica Bahia Melo
Investing.com – Em um momento macroeconômico desafiador a nível internacional, com altas nos juros pressionando os resultados das companhias, a união de esforços pode ajudar a enfrentar os ventos contrários. Na visão de especialistas consultados pelo Investing.com Brasil, ao contrário das aberturas de capital, o cenário deste ano é promissor para os M&As, siga em inglês para fusões e aquisições, de companhias.
Panorama do mercado de M&A de relatório da Fortezza Partners aponta que o cenário de M&As a nível mundial teve um recorde de transações no ano de 2021, mas redução em volume e no ticket por operação no ano passado. Segundo a Fortezza, o mercado de capitais como um todo, incluindo transações de M&A sofreu os impactos da alta nos juros, visando o combate inflacionário, além das tensões geopolíticas causadas pela guerra da Ucrânia, tensões geopolíticas e desaceleração da China, com políticas rígidas contra a covid-19. Para 2023, a tendência é de crescimento, ainda que em um ritmo mais tímido.
No Brasil, não foi diferente. com 1.728 transações e um montante total de R$256 bilhões, o ano passado demonstrou maior estabilidade do mercado brasileiro na comparação com outros países, pontuou o relatório. Os destaques ficaram por conta da aquisição de 6% da Vale (BVMF:VALE3) pela Cosan (BVMF:CSAN3), por cerca de R$ 22 bilhões, além da fusão da Rede D'Or (BVMF:RDOR3)com a SulAmérica (BVMF:SULA11), formando o maior grupo hospitalar brasileiro no segmento de seguro saúde. Os setores considerados “mais quentes” no ano passado foram de a tecnologia da informação e internet, passando de 900 transações.
Além da guerra da Ucrânia e seus impactos nas commodities, o lockdown da China e o mau humor global com as políticas monetárias contracionistas diante das pressões inflacionárias gerou turbulência nos mercados de forma geral, na visão de Carlos Lobo, sócio do escritório de advocacia norte-americano Hughes, Hubbard & Reed LLP. “A área de fusões e aquisições teve uma queda significativa do número de operações, os valuations nas operações que ocorreram foram bem menores em termos de múltiplos, perdurando até boa parte do ano passado. No segundo semestre, destravou um pouco, mas ainda em patamares inferiores”, detalha.
Lobo avalia que o ambiente de negócios está mais saudável, trazendo novo ânimo para essas operações. “A gente começa a ver os vendedores mais abertos a esse novo patamar de valuation e, com isso, os negócios começam a fluir um pouco mais tanto nos Estados Unidos quanto na Europa”.
O que esperar para o Brasil em 2023
Ainda que os volumes e número de transações no Brasil tenham apresentado queda no ano passado, a base de comparação era elevada, pois 2021 foi um ano recorde. “De fato, temos um mercado em constante evolução em uma perspectiva mais longa. 2023 tende a ser um ano bom, mas acho que não fica muito fora da média de 1500 transações”, acredita Denis Morante, fundador da Fortezza Partners, lembrando que o ano de 2019 marcou o momento em que esse mercado rompeu a barreira de 1000 transações e não parou mais.
Morante aponta que como o país atravessa um período de juros altos, com inflação que não foi completamente ancorada, esses fatores trazem impactos nos investimentos de longo prazo. “Não vai ser um ano brilhante, mas não tende a prejudicar muito a média dos últimos quatro anos, bem superior ao período anterior”, pondera.
O mercado tende a ser promissor porque muitos setores devem ter consolidação, independente do cenário macro, afirma Morante, como o setor de saúde, tecnologia, consumo, telecomunicações que devem continuar seguir nessa linha nos próximos meses. Além disso, o varejo, com “corda no pescoço”, também pode ser promissor.
“É uma tendência de longo prazo. O setor de saúde, inclusive, está pressionado. Setor pressionado tende a ter M&A”. Vai ocorrer pressão de venda no mercado brasileiro em 2023, resta saber se haverá compradores, na visão do especialista. Juros altos atrapalham, mas não impedem esse tipo de transação por completo. “Como o Brasil ainda é um mercado repleto de empresas familiares, psicologicamente, é um ano propenso à venda de empresas, com macro pressionado e novo governo que não está mostrando muito otimista para o empresariado”, completa.
Com a mudança de governo no Brasil, a imagem do país no exterior é melhor neste momento, mesmo com os ruídos, o que pode atrair investidores, acredita Lobo. “Os investidores internacionais devem começar a aproveitar oportunidades”. O ano de 2023 deve ser melhor para as fusões e aquisições, com ambiente favorável, e o escritório de advocacia percebe que a puxada no número de operações já teve início.
Com juros mais elevados, realizar a venda de uma parcela da companhia pode ser mais vantajoso do que enfrentar um custo de capital caro e um cenário macroeconômico ainda desafiador. Segundo Leonardo Horta, sócio fundador da Maitreya, no momento, M&As fazem bastante sentido. Em um momento em que alguns setores nem se recuperaram completamente da pandemia, ainda que não haja perspectivas de que possam quebrar, a possibilidade de que sejam logo ultrapassadas aumenta.
Nesse sentido, se um player maior do segmento fizer uma aquisição, ou a empresa ainda não possui as finanças totalmente equalizadas, o M&A entra na pauta. “Com o dólar mais barato, é possível também que investidores estrangeiros comprem a empresa a um preço mais barato. Fica mais fácil o acesso para esse player”.
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