Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO, 24 de (Reuters) - A Bovespa fechou com o seu principal índice em queda pelo sexto pregão consecutivo nesta sexta-feira, a maior série de perdas desde setembro de 2014, refletindo a apreensão de investidores com as mudanças no plano fiscal e com a queda dos papéis da Petrobras (SA:PETR4) e da Vale reforçando o viés negativo.
O Ibovespa caiu 1,13 por cento, a 49.245 pontos, encerrando a semana com queda acumulada de 5,9 por cento. Nas últimas seis sessões, a queda supera 7 por cento. O giro financeiro da sessão de sexta-feira totalizou 6,76 bilhões de reais.
A decisão do governo na quarta-feira a noite de cortar drasticamente as metas de superávit primário de 2015, 2016 e 2017 acentuou as preocupações sobre um possível rebaixamento da classificação de risco do país, com agentes financeiros preocupados sobre a perda do nível grau de investimento do país.
Em nota a clientes, o Credit Suisse disse que na véspera, pela "primeira vez depois de um bom tempo", sua mesa de operações teve fluxo predominantemente vendedor de investidores estrangeiros, e que, se essa tendência permanecer, deve manter a pressão sobre o Ibovespa, já que os investidores locais ainda não "estão nada dispostos" a comprar.
As ações brasileira também tiveram seus pesos reduzidos em portfólios de ações, com a questão fiscal entre os principais fatores embasando a decisão.
O HSBC cortou o Brasil para "neutro" em sua carteira para mercados emergentes, enquanto o Morgan Stanley (NYSE:MS) rebaixou o país para "underweight" (abaixo da média do mercado).
O Morgan Stanley disse que tomou a decisão porque a redução nas metas de superávit primário devem levar a um aumento na inclinação da curva de juros, inflação mais alta e cortes de juros em 2016, crescimento econômico fraco e equilíbrio mais fraco na taxa de câmbio.
O mercado doméstico também foi contaminado pelo declínio de commodities, em meio a números inesperadamente fracos sobre o setor manufatureiro na China. O índice Thomson Reuters de commodities cedeu quase 1 por cento.
DESTAQUES
=PETROBRAS preferencial encerrou em queda de 1,28 por cento, em meio à debilidade dos preços do petróleo e com investidores na expectativa do resultado de reunião do Conselho de Administração da estatal, que deve abordar o plano de desinvestimentos. Funcionários da Petrobras iniciaram greve de 24 horas nesta sexta-feira contra o processo de venda de ativos colocado em curso. A plataforma P-15 em Campos teve a produção paralisada. Segunda a empresa, a paralisação é anterior à greve.
=VALE preferencial recuou 2,3 por cento, após números negativos da indústria chinesa, com os preços futuros de minério de ferro na China registrando a quarta semana de queda, por conta do aumento na oferta das principais mineradoras globais e demanda fraca.
=BRASKEM caiu 4,14 por cento, com agentes financeiros também repercutindo decisão do Ministério Público Federal de denunciar à Justiça executivos das construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez, acusados de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras investigado pela operação Lava Jato. A petroquímica é controlada pela Odebrecht.
=CCR, que é controlada pela Andrade Gutierrez e pela Camargo Corrêa, também figurou entre as maiores quedas do Ibovespa, com recuo de 3,92 por cento, pressionada ainda pela alta das taxas de juros de longo prazo, além de notícia de que não foi habilitada pelo governo para fazer os estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental das próximas concessões de aeroportos, conforme o jornal Valor Econômico.
=ITAÚ UNIBANCO fechou em queda de 0,45 por cento, enquanto BRADESCO subiu 0,79 por cento, reduzindo a pressão no Ibovespa, após perdas mais fortes mais cedo e na véspera. Múltiplos elevados, combinados com preocupações sobre inadimplência, mantinham os papéis pressionados antes da divulgação dos balanços, apesar de expectativas ainda favoráveis para as margens. BANCO DO BRASIL caiu 0,97 por cento e SANTANDER BRASIL subiu 0,25 por cento.
=ESTÁCIO PARTICIPAÇÕES e KROTON (SA:KROT3) EDUCACIONAL subiram 3,64 e 1,71 por cento, respectivamente, liderando as poucas altas do Ibovespa, após perdas consideráveis nos últimos pregões. Em relatório mais cedo, o BTG Pactual (SA:BBTG11) disse que continua avaliando como atrativo o setor de educação no longo prazo, apesar de curto prazo desafiador. Na visão dos analistas da casa, o espaço de baixa parece limitado e já está precificado.
=LOCALIZA encerrou com variação negativa de 0,35 por cento, após sessão volátil, com agentes analisando a queda de 7,2 por cento do lucro no segundo trimestre, em período marcado por ações promocionais e recuo da tarifa média. Em nota a clientes, a Brasil Plural (SA:BPFF11) considerou o resultado fraco, apesar de acreditar que o desempenho já havia sido antecipado pelo mercado, uma vez que o negócio de aluguel de carro é altamente correlacionado com o PIB e todas as suas dividas são atreladas ao CDI.
=FIBRIA E SUZANO PAPEL E CELULOSE subiram mais de 1 por cento, amparadas em nova alta do dólar ante o real para a máxima em 12 anos, que também deu suporte à EMBRAER (SA:EMBR3), que terminou com acréscimo de 0,42 por cento.
=ELETROPAULO, que não está no Ibovespa, caiu 6,48 por cento. Profissionais do mercado citaram movimentos de realização de lucros, além de expectativa acerca de novos desdobramentos relacionados a processo sobre dívida antiga, pré-privatização, com a ELETROBRAS, que também fechou em queda expressiva, de 2,42 por cento.
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(Edição de Raquel Stenzel)