Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) -O Bradesco (BVMF:BBDC4) amargou nesta quarta-feira a maior queda diária no valor de suas ações em mais de 20 anos, registrando uma perda de valor de mercado ao redor de 31 bilhões de reais, após o segundo maior banco privado do país reportar queda surpreendente no lucro do terceiro trimestre e indicar dificuldades adiante.
A rápida piora na qualidade da carteira de crédito levou o Bradesco a ampliar fortemente as provisões para perdas esperadas com calotes no terceiro trimestre. Com isso, a rentabilidade sobre o patrimônio, que mede como um banco remunera o capital de seus acionistas, desabou 5,1 pontos percentuais, para 13%.
Em videoconferência sobre o balanço, executivos do Bradesco afirmaram que o banco deve sair ao longo de 2023 do que chamaram de "tempestade perfeita" no terceiro trimestre, mas que o lucro deve continuar pressionado nos próximos trimestres.
As ações preferenciais do Bradesco fecharam em queda de 17,38%, maior baixa desde setembro de 1998, a 15,35 reais, menor valor desde outubro de 2020.
O movimento ajudou a arrastar para baixo outros papéis de bancos. Itaú Unibanco (BVMF:ITUB4), que divulga resultado na quinta-feira, afundou 4,8%, e Santander Brasil (BVMF:SANB11) despencou quase 6%. O Ibovespa cedeu 2,2%.
A perda de valor de mercado do Bradesco nesta quarta-feira, de 30,7 bilhões de reais supera o valor de mercado de empresas como CCR (BVMF:CCRO3), Assaí (BVMF:ASAI3) e Braskem (BVMF:BRKM5), entre outras.
Analistas do BTG Pactual (BVMF:BPAC11) cortaram a recomendação das ações do banco para "neutra" e o preço-alvo de 25 para 21 reais após o balanço, além de reduzirem previsões de lucro para até 2024.
"Alguns dos problemas que afetam os resultados são provavelmente cíclicos, mas é difícil não acreditar que possa haver algo mais estrutural explicando a diferença de desempenho (em relação aos pares)", afirmaram Eduardo Rosman e equipe em relatório. "A recuperação dos resultados e da confiança do mercado não será rápida."
Analistas do Citi afirmaram ver a rápida deterioração das expectativas por parte da administração como um ponto de preocupação, que deve pressionar a ação dada a "falta de visibilidade para resultados futuros".
Rafael Frade e equipe de analistas do Citi também cortaram a recomendação das ações do Bradesco para "neutra", reduzindo o preço-alvo de 23 para 19 reais, bem como estimativas para o lucro em 2022 e 2023.
"Os resultados do terceiro trimestre do Bradesco surpreenderam não apenas com um grande aumento nas provisões, mas com uma indicação de que o quarto trimestre deve ser ainda pior, apresentando uma melhora gradativa a partir daí."
Na visão dos analistas do Safra, de modo geral, os resultados foram negativos, e a revisão da projeção para provisões aponta para um final de ano fraco.
"Apesar do crescimento do volume de crédito e da expansão dos spreads, as pressões sobre a margem financeira (NII) com o mercado e a deterioração da qualidade do crédito levaram a um resultado abaixo do esperado", afirmaram Silvio Doria e Gabriel Pucci em relatório a clientes.
Os analistas do Safra também acrescentaram que o balanço do Bradesco também mostrou uma perspectiva difícil de curto prazo.
(Edição de Alberto Alerigi Jr.)