Por Rod Nickel e Ana Mano
WINNIPEG, Canadá/SÃO PAULO (Reuters) - Virando uma página de sua estratégia de crescimento agressivo nos Estados Unidos, a gigante canadense Nutrien planeja investir no Brasil em uma tentativa de abocanhar até 30 por cento das vendas de suprimentos agrícolas no país.
Mas os negócios no setor agrícola brasileiro --o que mais cresce no mundo-- afastam-se das práticas comuns nos cinturões produtores da América do Norte, onde a Nutrien é um dos principais fornecedores de fertilizantes, produtos químicos e sementes.
O Brasil ainda é um lugar onde a antiga economia de barter, de troca de colheitas por fertilizantes, continua comum, ajudando agricultores brasileiros a mitigar a alta dependência de crédito. Vender diretamente aos agricultores como pretende a Nutrien é um risco que as rivais Mosaic e Yara International estão evitando, disseram altos executivos de ambas as empresas à Reuters.
Para a Nutrien, vendas em varejo de sementes, produtos químicos e fertilizantes para agricultores brasileiros são uma maneira de gerenciar outro risco --a volatilidade nos preços de fertilizantes. As lojas de varejo nos Estados Unidos são uma "benção" durante períodos de alta oferta e preços baixos --como agora-- porque dão ao maior produtor mundial de fertilizantes a garantia de demanda em um grande mercado agrícola.
Os barters brasileiros geralmente envolvem agricultores, manipuladores de grãos como Cargill e vendedores de fertilizantes em acordos de três vias em que os produtores comprometem uma parcela de sua futura colheita para a trading de grãos em troca de fertilizantes.
Esses mecanismos são desnecessários no Canadá e nos Estados Unidos, onde os bancos e os financiadores governamentais oferecem amplo crédito aos agricultores durante o outono, quando podem começar a vender sua produção. Os agricultores brasileiros não possuem credores tão dispostos e, por isso, monetizam culturas que nem foram plantadas ainda.
"Produtores brasileiros usam sua soja como dinheiro, usam milho como dinheiro", disse Rick McLellan, vice-presidente sênior do Brasil para a Mosaic, que faz alguns acordos de barter.
A Nutrien, formada em janeiro por uma fusão da Potash Corp of Saskatchewan e a Agrium, divulgou no mesmo mês que pretende se tornar um grande fornecedor no Brasil, estendendo seu alcance além da América do Norte, Austrália e Argentina.
O CEO, Chuck Magro, revelou à Reuters que a empresa procura alcançar até 30 por cento das vendas de varejo em bolsões produtores do Brasil --um nível que ele avalia que não levantará preocupações antitruste. O plano de crescimento depende principalmente da compra de revendedores existentes.
Chegar lá pode levar muitos anos, com os valores para comprar revendedores atualmente em alta, disse Magro, recusando-se a colocar uma linha de tempo em seus planos.
"O que estamos fazendo hoje será um programa que vai durar muitos, muitos anos", disse ele. "A visão é ter uma empresa integrada entre Américas do Norte e do Sul. Se pudermos chegar lá, esse é um complexo global bastante poderoso."
Para construir seu negócio no Brasil, a Nutrien está disposta a barters aceitando grãos como garantia contra crédito, semelhante à sua atuação na Argentina, disse Magro.