Por Andre Romani e Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Processadores de carne suspenderam o fornecimento ao Carrefour (BVMF:CRFB3) Brasil, afirmou o grupo supermercadista nesta segunda-feira, com frigoríficos reagindo à declaração da liderança do varejista na França contra a carne do Mercosul.
"Infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade", afirmou o Carrefour Brasil em comunicado.
O presidente-executivo do Carrefour, Alexandre Bompard, prometeu na semana passada manter a carne sul-americana fora das prateleiras da rede na França, em um atitude vista pelo setor no Brasil, maior exportador global de carne bovina, como protecionista, em meio às discussões para um acordo Mercosul e União Europeia.
A França, um dos maiores produtores agrícolas do bloco, é contrária a um acordo com o Mercosul, diante de preocupações de que seus agricultores sejam prejudicados pelo avanço de safras e produtos sul-americanos.
O Carrefour Brasil citou ainda, em comunicado, que está em busca de "soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne nas nossas lojas o mais rápido possível, respeitando os compromissos que temos com nossos mais de 130 mil colaboradores e com milhões de clientes em todo o Brasil".
O Carrefour Brasil ressaltou ainda que "não há falta de carne nas lojas até este momento".
No final de semana, o Carrefour havia classificado como "improcedente" a alegação de que a rede estava sofrendo desabastecimento no Brasil, após notícia de que frigoríficos brasileiros teriam parado de fornecer carne no país, como um boicote à varejista depois da declaração do presidente da empresa francesa.
Procurada nesta segunda-feira, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), uma das principais entidades do setor, afirmou que não comentaria o assunto.
Anteriormente, a Abiec havia dito que a posição do Carrefour na França contra a carne sul-americana era "contraditória", já que o grupo historicamente sempre vendeu carnes do Brasil em sua rede local. Após a declaração do executivo, o empresa afirmou que nada mudava no país.
Representantes do Carrefour disseram à Reuters que o varejista atualmente não vende na França carne do Mercosul.
Empresas como JBS (BVMF:JBSS3), Marfrig (BVMF:MRFG3) e Minerva (BVMF:BEEF3) pararam de fornecer carne ao Carrefour Brasil, segundo notícias publicadas na mídia.
Procurada, a Marfrig manteve sua posição de não comentar o assunto, mesmo comentário feito mais cedo pela Minerva. A JBS não comentou o assunto imediatamente.
A unidade brasileira do Carrefour foi responsável por cerca de 20% das vendas totais do grupo francês, de acordo com dados do terceiro trimestre.
O ministro da Agricultura do Brasil, Carlos Fávaro, disse nesta segunda-feira que estava feliz com a decisão dos fornecedores locais, após ter chamado na semana passada a promessa de Bompard de uma "ação orquestrada" por empresas francesas para sabotar o pacto comercial entre a União Europeia e o Mercosul, que as autoridades pretendem finalizar este ano.
Os analistas do Goldman Sachs (NYSE:GS) estimaram que cada dia de vendas de carne perdidas, incluindo carne bovina, de frango e suína, pode representar um declínio de até 1,8% nas estimativas de lucro líquido do quarto trimestre do Carrefour Brasil.
(Por André Romani e Roberto Samora)