SÃO PAULO – O mercado não gostou da qualidade dos números do primeiro trimestre que o Itaú Unibanco (SA:ITUB4) apresentou na manhã desta terça-feira (3). O lucro líquido de R$ 5,2 bilhões não veio muito fora do que os analistas esperavam, mas algumas linhas surpreenderam para o lado negativo.
A queda superior a 4% das ações do Itaú (SA:ITSA4), porém, é menos em razão do que os números mostraram sobre o passado e mais sobre o que eles apontam à frente: que os calotes vão continuar crescendo.
A inadimplência afeta tanto a carteira de clientes pessoa física quanto de empresas. O diretor de relações com investidores do Itaú, Marcelo Kopel, espera um aumento dos atrasos nas linhas de crédito para pessoa física até o fim do ano devido ao avanço do desemprego no país, mas nada abrupto.
“Se o cenário de desemprego que estamos esperando se materializar, o pico [de inadimplência] deve ser no primeiro semestre do ano que vem”, disse Kopel em teleconferência com a imprensa.
O banco também espera que o índice de calotes mostre avanço na carteira de pequenas e médias empresas nos próximos trimestres, mas em um ritmo menor do que o apresentado neste início de ano. Para grandes empresas, porém, o diretor do Itaú afirmou ser mais difícil de prever o comportamento dos calotes na carteira.
Sobre a Sete Brasil, empresa de sondas de petróleo que entrou com pedido de recuperação judicial na semana passada, o diretor do Itaú disse que o banco não pode falar de casos específicos, mas que vem reforçando provisões para empresas de vários segmentos, entre eles o de óleo e gás.
O banco fez provisões para perdas com calotes de R$ 6,4 bilhões de janeiro a março, alta de 38,1% sobre o quarto trimestre e de 43,7% sobre um ano antes. Esse número já deduz a recuperação de créditos, que foi menor do que em trimestres anteriores. Desse total, R$ 2,9 bilhões são para o segmento de grandes empresas, segundo Kopel.
“Embora o aumento de 40 pontos-base da inadimplência acima de 90 dias na comparação trimestral não está esteja longe do consenso, o Itaú realizou o rebaixamento de ratings de alguns clientes corporativos durante o trimestre (empréstimos classificados entre E e H mostraram uma alta importante), o que quase duplicou o montante das provisões para empresas no primeiro trimestre em relação ao anterior”, observaram os analistas Eduardo Rosman e Gustavo Lobo do BTG Pactual (SA:BBTG11).
A taxa de inadimplência superior a 90 dias da carteira de crédito total do Itaú terminou o trimestre em 3,9%, ante 3,5% no quarto trimestre e 3% um ano antes.
Para tentar controlar os atrasos, o banco tem feito um esforço para renegociar empréstimos. “O banco está atuando ativamente. É importante para lidar com os clientes em um ambiente de maior risco”, declarou Kopel. O volume de créditos renegociados foi de R$ 22,7 bilhões no primeiro trimestre, 17% maior do que um ano antes.
Crédito
Além da disparada do calote e das provisões, os analistas apontaram fraqueza tanto nas receitas de crédito quanto de tarifas. “O crescimento dos empréstimos estão encolhendo mais rápido do que o esperado e está afetando a linha de cima do Itaú”, dizem os analistas do BTG.
O diretor do Itaú estima que a demanda por crédito pode ter alguma recuperação mais para o fim do ano, a depender do nível de confiança das empresas e das pessoas na economia. “O banco está com o balanço pronto e robusto para participar dessa eventual recuperação”, disse.
O Itaú projeta para a carteira de crédito uma queda de 0,5% a avanço de 4,5% neste ano. Kopel disse que o banco espera que o desempenho fique mais próximo da faixa de baixo da projeção.
As receitas com operações de crédito vieram abaixo do esperado no trimestre e foram compensadas, mais uma vez, com os expressivos ganhos da tesouraria. As receitas com serviços também desapontaram ao encolherem 6% no trimestre e crescer 4,4% no ano.
Do lado positivo, os analistas destacaram o bom controle de custos, a melhora da eficiência, a menor taxa de imposto pago, e a constituição de provisões para perdas maiores do que o aumento da inadimplência, reforçando o balanço do banco.