Por Yasin Ebrahim
Investing.com – As ações empreenderam um forte rali e encerraram em alta a primeira semana de negociações do ano. O cenário de escassez de mão de obra nos EUA foi, em grande medida, colocado de lado com a redução do crescimento dos salários. Mas, ao mesmo tempo em que os investidores interpretavam o relatório de empregos como uma vitória do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) e um incentivo a uma política monetária menos rígida, alguns analistas em Wall Street alertavam contra o excesso de empolgação.
“A escassez de mão de obra combinada com a desaceleração do crescimento econômico e uma demanda ainda forte por serviços distingue o atual ciclo econômico dos anteriores”, afirmou Brian Mulberry, gerente de portfólio de clientes da Zacks Investment Management, em uma entrevista ao Investing.com, na sexta-feira.
“Um mercado de trabalho forte evitará que o Fed forneça um alívio para a economia na forma de juros menores, o que muitas pessoas estão esperando”, acrescentou Mulberry.
A economia americana criou 223.000 empregos no mês passado, acima das estimativas dos economistas de 200.000. Os ganhos por hora trabalhada recuaram para 4,6%, mais do que o esperado, alimentando esperanças de que o Fed está ganhando a batalha contra a inflação e pode, em breve, reduzir sua rigidez.
“Os dados salariais de sexta-feira parecem ter provocado uma mudança de curso [na precificação de juros maiores]”, declarou o Jefferies. O mercado futuro de juros (Fed Funds) mostrou apostas de que o pico dos juros ficará abaixo de 5% após os dados, ao mesmo tempo em que um corte de juros no fim do ano continua sendo precificado.
Os 223.000 empregos criados em dezembro fizeram com que a criação média de postos de trabalho nos últimos três meses ficasse em cerca de 247.000 por mês. Esse ritmo de criação de empregos, se sustentado, poderia eliminar a disponibilidade de mão de obra em apenas quatro meses, segundo o Jefferies, estimando que a ociosidade no mercado de trabalho seria de cerca de 1,5 milhão de trabalhadores.
Para evitar uma inevitável aceleração dos salários, o crescimento do emprego terá que registrar uma significativa desaceleração. Mas os dados de emprego da semana passada, mostrando que ainda havia quase o dobro de vagas para cada candidato a emprego em novembro, sugerem que o aquecido mercado de trabalho continuará em vigor, prolongando a guerra do Federal Reserve contra a inflação por mais tempo do que o esperado.
“Ou a criação de empregos cai consideravelmente a partir de agora, ou o mercado de trabalho continuará restrito, intensificando as pressões salariais”, acrescentou o Jefferies. “Ainda estamos inclinados para o último cenário”.
Outros analistas corroboram essa visão, apontando que a escassez de mão de obra é o principal risco de que o Fed prolongue o ciclo de aperto.
“Embora os dados fortes de sexta-feira não mudem nossa expectativa de uma elevação de 25 pontos-base na próxima reunião de política monetária, a força da criação de empregos aumenta o risco de um prolongamento do ciclo de aperto além da próxima reunião”, afirmou o Morgan Stanley (NYSE:MS) em nota.
Alguns investidores continuam querendo apostar contra o Fed, na expectativa de que o banco central mudará sua postura, apesar das sinalizações em contrário, o que está provocando uma queda nas taxas das treasuries de curto prazo.
Porém, a ata da reunião de política monetária de dezembro mostrou que nenhum membro espera um corte de juros neste ano. Isso também acabou gerando preocupações com uma “indesejada flexibilização das condições financeiras”, o que poderia complicar o combate do banco central contra a inflação.
“Quando se vê a ponta curta da curva de juros invertida da forma como está, é possível acreditar que, em seis a nove meses, os juros terão que vir para baixo”, declarou Mulberry.
“Isso já aconteceu no passado e não é uma avaliação equivocada, mas, na ata da reunião de dezembro do Fed, a posição unânime dos membros votantes é que as taxas continuarão elevadas durante todo o ano”, concluiu.