Investing.com — O forte desempenho das ações chinesas na última semana representou a melhor performance semanal desde 2008 para o índice Shanghai Shenzhen CSI 300, impulsionado por uma série de medidas de estímulo introduzidas pelo banco central e reguladores do país.
A combinação de suporte monetário, fiscal e direto ao mercado indica uma tendência de alta contínua para as ações chinesas. No entanto, investidores questionam a durabilidade desse movimento e como melhor aproveitá-lo.
De acordo com a Gavekal Dragonomics, embora os ganhos iniciais do mercado tenham sido expressivos, a extensão dessa alta dependerá da capacidade dos formuladores de políticas de concretizar as promessas recentes de suporte fiscal e monetário.
Historicamente, os mercados acionários da China alternaram entre períodos de grande alta e queda acentuada. Nos últimos 20 anos, cinco grandes ralis ocorreram, três deles movidos por estímulos governamentais.
"Os ralis gerados por estímulos resultaram em ganhos de 50% a 100%, portanto, se as ações chinesas estiverem iniciando outro rali desse tipo, ainda há muito potencial de alta, mesmo após o salto recente," afirmou a Gavekal em uma nota na segunda-feira.
Contudo, esse cenário otimista depende da implementação rápida e decisiva das políticas. A nota alerta que a economia da China enfrenta grandes desafios, como fragilidade no mercado de trabalho, consumo fraco e queda no crescimento das exportações, fatores que podem dificultar a alta se não forem resolvidos.
Até o momento, a escala dos estímulos anunciados é modesta. O Banco do Povo da China (PBOC) cortou as taxas de política monetária em apenas 20 pontos-base na semana passada. No entanto, a expectativa de um pacote fiscal maior, possivelmente de RMB 2 trilhões em nova dívida, está alimentando esperanças de suporte mais robusto.
Além disso, novos mecanismos foram introduzidos, como um swap de RMB 500 bilhões para investidores institucionais e uma linha de refinanciamento de RMB 300 bilhões para apoiar recompra de ações. Essas medidas podem representar uma versão mais agressiva e explícita do chamado "China put" no mercado.
A Gavekal argumenta que grande parte do rali atual é movida por uma mudança nas expectativas, mais do que por medidas concretas de estímulo até o momento.
"Os primeiros dias desse rali são mais impulsionados por expectativas, além do suporte direto do banco central ao mercado." O programa de recompra do PBOC pode quintuplicar o ritmo das recompras corporativas na China, o que aumentaria consideravelmente a liquidez do mercado.
Em termos de estratégia de investimento, a Gavekal recomenda uma mudança de foco para ações listadas no mercado doméstico. Em dois dos três ralis anteriores impulsionados por estímulos, as ações onshore superaram as offshore em 20% a 40%.
"Na última semana, ações onshore e offshore responderam de forma praticamente idêntica, mas à medida que o rali avança, é provável que as onshore levem vantagem, especialmente porque o financiamento do PBOC para suportar os mercados está focado diretamente nas ações onshore," aponta a nota.
"Entre as ações onshore, os papéis listados em Shenzhen superaram os de Xangai entre 5% e 20% nos últimos três ralis de estímulo e provavelmente continuarão a ter um desempenho superior," afirma o relatório.
Em termos de setores, indústrias cíclicas como industrial, materiais e consumo discricionário historicamente tiveram desempenho 10% superior durante ralis anteriores. Além disso, incorporadoras imobiliárias em dificuldade podem ser as mais beneficiadas, caso o governo cumpra as promessas recentes de ajuste na política habitacional.
Efeito sobre o aço
Segundo analistas do UBS, o impacto das recentes medidas de estímulo da China sobre a demanda por aço deve ser limitado, apesar de um possível entusiasmo inicial do mercado.
Embora os anúncios tenham gerado um aumento acentuado nos preços do minério de ferro, que subiram quase 20% no final de setembro, o efeito de longo prazo sobre a demanda por aço provavelmente será menor do que o esperado por alguns.
As medidas incluem cortes nas taxas de juros, redução nos pagamentos de hipotecas e maior financiamento para habitação social, focando principalmente no suporte ao consumidor, em vez de impulsionar investimentos substanciais em propriedade e infraestrutura.
Os analistas do UBS destacam que o setor imobiliário da China continua a enfrentar dificuldades com excesso de estoques e queda nos preços, enquanto os projetos de infraestrutura estão limitados por dívidas dos governos locais e a falta de novos empreendimentos economicamente viáveis.
Consequentemente, embora esses esforços de estímulo possam contribuir para a estabilização da economia, é improvável que provoquem uma grande alta na demanda por aço, como ocorreu com as intervenções econômicas de grande escala vistas em 2009 ou 2015.
A oferta de minério de ferro tem se mantido elevada, com o aumento das exportações de grandes fornecedores como Austrália e Brasil em 2024. No entanto, a produção de aço na China tem sido relativamente fraca este ano, e os estoques de aço nos portos chineses aumentaram.
Apesar de um aumento sazonal na produção no final de setembro, a perspectiva de demanda geral permanece incerta.
O UBS prevê que o mercado de minério de ferro entrará em moderado superávit em 2025, com os preços estabilizando em torno de US$ 100 por tonelada.