SÃO PAULO (Reuters) - O quadro de oferta de aço plano no mercado interno já tem dificultado aumentos de preços e a situação tende a se agravar no segundo semestre para as usinas siderúrgicas, quando uma série de instalações paradas para manutenção atualmente voltarem a operar, segundo expectativas do presidente da associação de distribuidores, Inda, Carlos Loureiro.
As usinas tentaram reajustes de preços de dois dígitos no mercado interno recentemente, mas acabaram conseguindo implementar apenas 5%, afirmou o executivo, citando ainda que parte desse percentual teve que ser absorvido pelos distribuidores já que não pode ser repassado na totalidade aos clientes.
"As vendas nossas (distribuidores) estão sendo feitas com muita dificuldade...O último aumento de 5%, a grande maioria dos associados (do Inda) não conseguiu repassar", disse Loureiro.
Para os distribuidores, momentos repentinos de quedas de preços do aço geram prejuízos contábeis já que o estoque comprado a preços mais caros acaba perdendo valor.
Loureiro citou que, além da parada para reforma geral de alto forno da Usiminas (BVMF:USIM5) em Ipatinga (MG), que só deve ser retomado em agosto, instalações da usina Vega do Sul, da ArcelorMittal, e da Gerdau (BVMF:GGBR4), passam por períodos de manutenção. "Mesmo a CSN (BVMF:CSNA3) está tendo diversos problemas de produção."
Além da questão da oferta nacional, as importações são outra ameaça, avançando 46,7% em abril sobre um ano antes, a 161 mil toneladas de aços planos e acumulando no ano alta de 18,5%, a 659,5 mil toneladas, segundo os dados do Inda.
Isso tem ocorrido diante da queda dos preços internacionais da liga, na esteira de temores de recessão global em razão da elevação dos juros em economias desenvolvidas. Segundo Loureiro, o chamado "prêmio" - o quão mais caro o aço nacional está em relação ao preço internacional - está atualmente em cerca de 25%. "É um dos mais altos da história", disse o executivo.
Os distribuidores encerraram abril com 817,6 mil toneladas de aços planos estocados, um crescimento de 2,1% ante março e equivalente a 2,7 meses de vendas, acima da média histórica de 2,5 meses. Um ano antes, o inventário estava em 721,8 mil toneladas.
Diante do cenário, o Inda reviu sua expectativa de crescimento de cerca de 3% nas vendas em 2023 para uma visão "pessimista" de estabilidade, com risco de queda.
Em abril, a entidade que representa as siderúrgicas, Aço Brasil, já havia revisto para baixo a previsão de vendas este ano, que passou de alta de 1,9% para queda de 0,7%.
As vendas dos distribuidores de aços planos despencaram 18,7% no mês passado sobre março e recuaram 0,5% sobre abril de 2022, para 301,1 mil toneladas, segundo os dados do Inda. No acumulado do ano, o segmento que é responsável por cerca de um terço da produção das usinas siderúrgicas do país, apura queda de 0,6% nas vendas, a 1,28 milhão de toneladas.
"Estamos mais pessimistas...Agora achamos que deveremos terminar o ano muito próximo de zero, já que aqueles 3% (de crescimento de vendas) que achávamos que seria possível, nos parece muito distante", disse Loureiro.
(Por Alberto Alerigi Jr.)