SÃO PAULO (Reuters) - A Eldorado Brasil teve lucro líquido de 347 milhões de reais no terceiro trimestre, resultado 20 vezes maior que o registrado um ano antes, quando os preços da celulose nos mercados internacionais apenas iniciavam um ciclo de alta que deve perdurar pelos próximos trimestres.
A companhia, que está sendo vendida pela holding J&F para a holandesa Paper Excellence, atravessa um momento de transição para a nova gestão que deverá assumir o comando da fabricante de celulose no final deste mês.
A Paper Excellence terá como opções para o futuro da Eldorado seguir adiante com projeto de ampliar a capacidade da companhia em 2,5 milhões de toneladas anuais, desenvolvido na gestão atual de José Carlos Grubisich, e até entrar em novos mercados como papel, diversificação que está sendo perseguida por rivais como Suzano (SA:SUZB5) e Klabin (SA:KLBN11).
"A Paper Excellence tem vocação para fazer outras coisas além de celulose. Eles tem conhecimento também em papel e tissue (papeis sanitários), com estratégia integrada...Eles têm como oportunidade eventualmente colocar uma fábrica de papel ao lado da Eldorado Brasil para fazer tissue e outras coisas", afirmou Grubisich, que deixará o comando da Eldorado em 28 de novembro.
A J&F está discutindo como será a transição após a saída de Grubisich da presidência da Eldorado. Um novo presidente para a empresa ainda não foi escolhido.
Segundo o executivo, antes da venda da Eldorado para a Paper Excellence, a fabricante brasileira de celulose chegou a aventar a possibilidade de atrair um cliente para construir uma fábrica de papel ou de papel tissue ao lado da unidade da companhia em Três Lagoas (MS).
"Não achamos oportuno explorar isso porque ainda estávamos focados em ter celulose competitiva...O projeto mais rentável para a Eldorado era fazer a expansão de 2,5 (milhões de toneladas", disse Grubisich.
A Suzano, em encontro com analistas na semana passada afirmou que deve iniciar as vendas de papel tissue, um novo mercado para a empresa, no primeiro trimestre de 2018 e que avalia aquisições na área como meio de acelerar seu crescimento. Os planos de aquisições correm em paralelo com para ampliar sua capacidade de produção de celulose, algo que deve ser decidido no primeiro trimestre de 2018. [nL1N1NG0Z2]
A Eldorado encerrou o terceiro trimestre com lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 501 milhões de reais, crescimento de 52 por cento sobre o desempenho de um ano antes.
A companhia produziu 390 mil toneladas de celulose no terceiro trimestre, praticamente estável sobre um ano antes, apesar de 10 dias de parada para manutenção programada. No ano, a produção soma 1,3 milhão de toneladas, perto da capacidade instalada de 1,7 milhão de toneladas anuais.
Grubisich afirmou que a próxima parada de manutenção está programada para o quarto trimestre de 2018 e que em 2019 a empresa não deverá fazer paradas.
Enquanto isso, a Eldorado vê espaço para novo reajuste no preço da celulose em dezembro. "Muito provavelmente será anunciado em dezembro...Aumento da ordem de 30 dólares por tonelada na Ásia e 50 dólares na Europa e EUA", disse Grubisich.
Na semana passada, o presidente da Suzano, Walter Schalka, disse que o mercado global de celulose corre risco de enfrentar uma situação de falta de estoque diante da demanda aquecida e atrasos em projetos de ampliação de capacidade do setor.
Questionado sobre a situação, o presidente da Eldorado concordou que os estoques no setor estão "muito justos. Mas não acho que há risco de faltar celulose".
Entre setembro de 2016 e novembro deste ano, o preço da celulose subiu entre 250 e 270 dólares a tonelada, disse ele.
A Eldorado começou no terceiro trimestre a produzir mudas de seus dois clones próprios de eucalipto, um plano de gradualmente ampliar a participação de material genético próprio em suas florestas. Grubisich comentou que a Eldorado deve ter áreas de plantio dos dois clones em 2018, algo que não deve ultrapassar 10 por cento de áreas plantadas.
Os clones são capazes de produzir 46 metros cúbicos de madeira por hectare por ano, disse o executivo, um aumento de 16 por cento na produtividade florestal da empresa.
(Por Alberto Alerigi Jr.)