Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - Incertezas sobre as propostas do próximo governo do Brasil ainda endossam uma posição reduzida em ativos brasileiros pela SPX Capital dentro de seu portfólio de investimentos, apesar da agenda positiva sinalizada pela equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro, afirmou o sócio-fundador, Rogério Xavier.
"As ideias são boas, mas não há propostas concretas...não se sabe como será a reforma da Previdência ou a independência do Banco Central aventadas, por exemplo. Faltam informações do que será de fato levado ao Congresso e como serão as negociações", afirmou Xavier em entrevista à Reuters nesta quarta-feira.
Segundo ele, apenas entre 5 e 10 por cento do portfólio de quase 40 bilhões de reais sob gestão da SPX estão aplicados em ativos do Brasil. A gestora, de perfil discreto, é a 15ª maior do país em patrimônio sob gestão, segundo ranking da Anbima.
"Eu não consigo comprar o que acho difícil de visualizar", disse, explicando que, a partir das declarações do presidente eleito e sua equipe, se trata de um panorama nas relações entre executivo e legislativo.
Ele elogiou o economista Paulo Guedes, que está à frente do programa econômico de Bolsonaro, classificando-o como um profissional "brilhante", mas ainda assim disse que prefere esperar sinais mais críveis sobre os planos do novo governo. "Às vezes não basta ter a melhor equipe."
Xavier, que é coordenador do Comitê Executivo e diretor responsável pela área de juros da SPX, afirmou que o movimento recente de melhora no mercado brasileiro decorreu de uma redução nos prêmios de risco para a chance de uma vitória do Partido dos Trabalhadores e não representa uma euforia.
Em uma espécie de mea culpa, ele afirmou que o seu cenário mais pessimista para o desfecho da eleição, com pressão negativa no mercado, não se confirmou.
Também citou que fatores conjunturais como a queda nos preços dos combustíveis e a apreciação do real corroboraram o controle dos preços e, assim, a perspectiva de manutenção da taxa Selic em mínima recorde, diferente do que previu no começo de outubro, aventando inclusive a chance de alta dos juros.
Mesmo para o crescimento econômico, a SPX hoje trabalha com uma expectativa de alta de 1,4 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018. Em relatório sobre a gestão de seus fundos em maio, a estimativa era de expansão de 0,8 por cento.
Xavier ressaltou, contudo, que a situação fiscal do Brasil é delicada, o que torna realização de uma reforma da Previdência essencial. "Tem que encaminhar essa proposta o quanto antes e aprovar muito rápido", afirmo, ponderando, contudo, que não vê algo concreto saindo até o fim do ano.
Ele destacou a necessidade de tal ação principalmente devido ao cenário externo mais desafiador, com potencial reversão de fluxo de investimento dada a expectativa de normalização de políticas monetárias em países desenvolvidos, particularmente nos Estados Unidos.
"Esse é o nosso grande problema", afirmou, destacando que se o governo evoluir na questão fiscal pode atenuar um efeito mais danoso vindo do processo de elevação de juros pelo Federal Reserve, que ele vê chegando a 4 por cento ao ano se a economia norte-americana seguir robusta e a inflação acelerar nos EUA.
No mercado brasileiro, Xavier destacou que medidas de múltiplos ainda sugerem que as ações estão baratas nominalmente apesar da alta recente, enquanto o real tende a acompanhar o movimento de uma cesta de moedas emergentes se as reformas caminharem e não ocorrerem eventos excepcionais.
Em relação aos contratos de DI, vê pouco prêmio nas taxas dos contratos mais curtos dado que, apesar da inflação baixa, não faz sentido um corte da Selic em razão dos sinais de melhora da economia. As posições nos contratos mais longos, por sua vez, dependem do andamento da agenda do novo governo.
"Considerando um cenário em que propostas como a reforma da Previdência e a independência do BC sejam aprovadas, percentuais entre 10 e 11 por cento parecem relativamente altos", afirmou.