Por Tim Hepher e Philip Blenkinsop e David Shepardson
LONDRES/BRUXELAS/WASHINGTON (Reuters) - Os Estados Unidos obtiveram aprovação nesta quarta-feira para impor tarifas de importação sobre bens europeus no valor de 7,5 bilhões de dólares, devido a subsídios ilegais da União Europeia (UE) concedidos à Airbus, ameaçando desencadear uma guerra comercial transatlântica num momento em que a economia global patina.
A decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC) empurra uma disputa corporativa de 15 anos sobre o apoio ilegal a gigantes de aviões para o centro das cáusticas relações comerciais do mundo e vem na esteira de uma guerra tarifária entre Washington e Pequim.
Em resposta, os Estados Unidos pretendem impor novas tarifas de 10% sobre aeronaves e de 25% sobre bens agrícolas e industriais e outras mercadorias europeias a partir de 18 de outubro, disse uma autoridade do escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês).
A autoridade descreveu a decisão como uma "vitória significativa" para os Estados Unidos.
Mas as tarifas das aeronaves não se aplicariam às peças dos aviões, poupando as operações de montagem da Airbus no Alabama de custos mais altos e protegendo as peças europeias utilizadas pela fabricante de aviões norte-americana Boeing.
Os árbitros da OMC disseram que a Boeing havia perdido o equivalente a 7,5 bilhões de dólares por ano em vendas e interrupção nas entregas de algumas de suas maiores aeronaves por causa de empréstimos baratos do governo europeu para a rival Airbus.
A decisão, confirmando um número divulgado pela Reuters na semana passada, permite a Washington atingir o mesmo valor de produtos da UE, mas impede qualquer retaliação contra os serviços financeiros europeus.
Também é parte de uma disputa de mão dupla que diplomatas e especialistas em comércio esperam que leve a tarifas retaliatórias da UE contra bens dos EUA no próximo ano devido a subsídios estatais à Boeing.
O governo Trump pediu à OMC uma reunião de emergência para obter a ratificação formal necessária para as tarifas em meados de outubro.
No início deste ano, autoridades comerciais dos EUA divulgaram uma lista de 25 bilhões de dólares de alvos europeus, de aviões a helicópteros, vinho, queijo, bebidas destiladas e produtos de luxo.
Mercadorias de países da UE que não fazem parte do consórcio Airbus, como a Itália, ainda seriam alvo, disse uma autoridade do USTR, porque todos os países da União Europeia são responsáveis pela situação.
Um forte e amplo movimento de vendas nos mercados de ações que puniu ações europeias mais cedo nesta quarta-feira, em meio a preocupações com a desaceleração do crescimento global, se acelerou com a decisão, revivendo preocupações com os danos à economia regional, já em dificuldades.
O índice pan-europeu STOXX 600 encerrou em queda de 2,7%, seu pior dia desde dezembro de 2018. As ações da Airbus fecharam em queda de 2%.
Os principais índices de Wall Street sofreram o maior declínio diário em quase seis semanas nesta quarta-feira, depois que dados de emprego e do setor manufatureiro sugeriram que a guerra comercial EUA-China está cobrando um preço cada vez maior da economia dos EUA.