SÃO PAULO (Reuters) - A companhia aérea Gol viu com otimismo a adesão de cerca de 20 por cento do total de detentores de bônus à sua oferta de troca de dívida, mas continuará avaliando o mercado para equacionar sua situação financeira no médio prazo, afirmou nesta segunda-feira o vice-presidente financeiro da empresa, Edmar Lopes Neto.
Questionado por jornalistas sobre a baixa adesão de investidores à operação de troca de bônus, Lopes afirmou que a volatilidade do cenário cambial pode ter impactado na decisão dos credores. Ele acrescentou que a valorização do real contra o dólar nos últimos seis meses gerou redução de 1,4 bilhão de reais no estoque da dívida da Gol. Segundo ele, 50 por cento das despesas da Gol, como combustível, são atreladas ao dólar.
"Daqui pra frente basicamente vamos continuar olhando o mercado para ver que alternativas teremos no médio prazo para equacionar a situação da dívida como um todo", afirmou o executivo, após o anúncio da conclusão da permuta. A empresa informou mais cedo que a oferta de permuta, que previa uma redução de até 70 por cento no valor da face dos papéis, teve adesão de 174,7 milhões de dólares de um total de 780 milhões pretendidos pela companhia.
"No cenário atual, é relevante, sim, conseguirmos 100 milhões de dólares em redução de dívida", disse Lopes, acrescentando, porém, que vê impactos pequenos e administráveis na negociação paralela de dívidas da empresa com bancos brasileiros e empresas de leasing de aeronaves. Ele não deu detalhes sobre estas discussões, mas informou que a empresa está buscando 300 milhões de reais em dinheiro novo e deve dar notícias a respeito ainda neste mês.
As ações da Gol tinham recuo de 0,6 por cento às 11h45, enquanto o índice de Small Caps, no qual estão listadas, avançava 1,4 por cento.
Na visão do gestor Eduardo Roche, da Canepa Asset Managemente, o resultado poder ser considerado bom porque ajuda na desalavancagem da empresa e destrava negociações de dívida junto a bancos, mas ficou também a sensação de que era para ter sido melhor. "A adesão foi menor do que se comentava no mercado".
CAIXA
Para Lopes, a situação do caixa da Gol "continua desafiadora e está longe de ser resolvida". Ao final do primeiro trimestre, a empresa tinha 1,8 bilhão de reais em caixa, uma queda de 21 por cento sobre o final do ano passado. O total de empréstimos e financiamentos caiu 15 por cento na mesma comparação, para 7,9 bilhões de reais, dos quais 837 milhões vencem no curto prazo.
A empresa promoveu medidas para cortar cerca de 20 por cento de sua capacidade, em meio à contínua queda na demanda por viagens no Brasil e desaceleração na procura por voos internacionais. Segundo Lopes, as medidas de cortes implementadas pela companhia continuam, apesar do cenário cambial mais favorável e expectativas mais otimistas do empresariado brasileiro sobre o segundo semestre do ano.
"Não tem nada que nos diga para revermos nossa estratégia de corte", disse o executivo. "Neste momento, não tem nada que nos diga que tenhamos que mudar o planejamento, muito pelo contrário", afirmou.
Ele comentou que a projeção de caixa da Gol depende do comportamento das vendas nos próximos meses e dos custos e que atualmente o cenário é de que a empresa conseguirá cumprir sua programação de operações neste ano.
Questionado se a Gol avalia recuperação judicial como um caminho após o baixo nível de adesão dos detentores de bônus da empresa, trilha optada recentemente pelo grupo de telecomunicações Oi (SA:OIBR4), Lopes descartou a alternativa.
"Essa hipótese para nós não existe neste momento. Estamos cada vez mais longe disso", afirmou o executivo.
(Por Alberto Alerigi Jr.)