O Ibovespa devolveu o avanço de quase 2% do dia anterior e zerou a recuperação da semana (agora -0,47%), vindo de perda de 3,38% no intervalo entre os dias 30 de janeiro e 3 de fevereiro, na abertura do mês. Hoje, acentuando mínimas ao longo da tarde, a referência da B3 (BVMF:B3SA3) cedeu 1,77%, aos 108.008,05 pontos, entre piso de 107.766,59 (-1,99%) e máxima de 110.045,92 na sessão, saindo de abertura aos 109.951,97 pontos. Após a recuperação vista ontem, o giro financeiro voltou a se enfraquecer nesta quinta-feira, 9, limitado a R$ 23,9 bilhões. Com o desempenho de hoje, o Ibovespa eleva as perdas do mês a 4,78% e volta a ceder terreno no ano (-1,57%), após a oscilação positiva do dia anterior.
Na Bolsa, após a retomada de ontem, o dia foi de perdas distribuídas pelas ações e setores de maior peso no Ibovespa, como as de commodities e as do setor financeiro. Na ponta negativa do índice, além de Azul (BVMF:AZUL4) (-11,85%), exposta à pressão sobre o câmbio, destaque para Gerdau (BVMF:GGBR4) (PN -7,93%) e para Gerdau Metalúrgica (BVMF:GOAU4) (-7,80%), após o Goldman Sachs (NYSE:GS) rebaixar a ação PN da Gerdau SA, de compra para neutro, e cortar o preço-alvo, de R$ 38,00 para R$ 31,00. Entre as perdedoras da sessão, destaque também para Soma (-8,81%). No lado oposto, Pão de Açúcar (BVMF:PCAR3) (+1,49%), à frente de Natura (BVMF:NTCO3) (+1,46%), WEG (BVMF:WEGE3) (+0,85%) e Suzano (BVMF:SUZB3) (+0,76%) - apenas sete ações do Ibovespa fecharam a sessão no positivo.
Depois do respiro de ontem - quando o presidente Lula não fez comentários sobre o nível da Selic, nem críticas ao presidente do BC, Roberto Campos Neto -, a aversão ao risco doméstico voltou a dar o tom nesta quinta-feira, afetando também o câmbio e os juros futuros. Assim, ficou totalmente no retrovisor a desaceleração do IPCA em janeiro, divulgada pela manhã, em leitura também abaixo da mediana das expectativas para o mês.
Após a trégua da sessão anterior, quando o mercado tomou nota de declarações em tom apaziguador do ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) sobre a disputa entre governo e BC quanto a metas de inflação e taxa de juros, o tema dominante voltou a ser a queda de braço dos últimos dias, ao que parece se inclinando a favor do Executivo, não da autarquia. Relatos da imprensa apontam que Campos Neto estaria disposto a antecipar a revisão do centro da meta, levemente para cima (de 3,25% para 3,50%), em tentativa de acomodação com o governo, que detém a maioria de assentos no Conselho Monetário Nacional (CMN).
"A discussão do momento não deveria ser essa, sobre a política monetária, o que afeta diretamente as expectativas na medida em que a meta é um balizador. Não deveria haver discussão sobre a meta em si. Mas já que a discussão foi colocada, melhor que se decida logo do que esperar até junho (quando a revisão seria avaliada, conforme o cronograma)", diz Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.
Ainda assim, "seria melhor se, em vez de questionar a política monetária, o governo estivesse olhando para seu lado: o fiscal, os gastos. A discussão até agora, antes de o governo entrar no assunto, era sobre quando a Selic começaria a ser cortada", acrescenta a economista.
"Uma das grandes vitórias do último governo foi aprovar a independência do Banco Central, que resguarda a autarquia de não ter os seus poderes tolhidos, mesmo com troca de parte dos diretores. Depois do ataque recebido de Lula, a indicação de que Campos Neto pode rever meta de inflação é algo complicado, ainda que pequena, de 25 pontos-base (para 2023). Mostra que pode estar começando a ceder (às pressões). É preocupante, uma luz amarela, mas ainda é preciso esperar para ver (o que de fato acontecerá)", diz Rodolfo Carneiro, especialista da Valor Investimentos.
"Há disputa de narrativas, com muita coisa contratada (em promessas), do que o presidente Lula faria, e uma taxa de juros de dois dígitos, que prejudica a estratégia do governo. O grande fator agora é o rumor de que o presidente do BC vai elevar um pouco a meta de inflação, o que causa desconforto especialmente para os ativos de risco, como os da Bolsa", diz Gustavo Neves, especialista em renda variável da Blue3, observando que o governo parece "querer entregar, cada vez mais rápido, o que prometeu".
"Ontem teve alívio com o ministro Padilha, um pouco na linha do 'deixa disso', de que não há fritura do Banco Central e de que a autonomia será mantida. E de que não há movimento também para reverter a privatização da Eletrobras (BVMF:ELET3), o que contribuiu para acalmar então o mercado", diz o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, referindo-se à descompressão tanto em câmbio e juros como também à recuperação do Ibovespa, no dia anterior.
Pela manhã, o IBGE divulgou hoje a pesquisa mensal do varejo referente a dezembro, em queda forte (-2,6%) ante novembro, quase no piso das expectativas para o mês, observa Gala, corroborando percepção de desaceleração do nível de atividade, com efeito para o PIB e também para a inflação, acrescenta o economista.
"A tendência de queda no setor (de varejo) observada nos últimos meses é um sinal de que a taxa de juros já começa a influenciar, além do aumento do endividamento e da inadimplência das famílias, o que vem diminuindo o ímpeto por gastos em consumo", observa em nota Rafael Perez, economista da Suno Research, que projeta que a tendência de desaceleração do varejo tende a se manter nos próximos meses.