Ainda na contramão de exterior negativo, o Ibovespa alcançou nesta quinta-feira o quinto ganho consecutivo, estendendo sequência iniciada na última sexta-feira, antes do primeiro turno da eleição, e complementada nas quatro sessões seguintes com o entusiasmo em torno do perfil do Congresso eleito - especialmente o Senado - bem como pelo fôlego e mesmo vitória, no próprio domingo, de aliados ou simpatizantes do governo, nos Estados. Aqui, a retomada do petróleo após decisão, na quarta-feira, da Opep+ de cortar oferta em novembro contribuiu para manter Petrobras (BVMF:PETR4) (ON +2,95%, PN +3,41%) entre os destaques desta quinta, acumulando ganhos de 12,95% (PN) a 13,75% (ON) na semana.
"O impacto a médio prazo deste corte na oferta ainda é incerto. Pelo lado 'bearish', pode-se dizer que um corte da Opep+ é um sinal de que existem preocupações significativas em torno da demanda global de petróleo e um aumento da capacidade de reserva da Opep+ retira parte do prêmio de escassez. No lado 'bullish', pode-se dizer que está sinalizando um forte desejo de apoiar os preços do petróleo, e qualquer oferta saindo do mercado é positiva para preços mais altos", observa em nota Noah Barrett, analista de pesquisa de energia da Janus Henderson Investors.
Entre fatores externos e domésticos, o Ibovespa teve leve alta de 0,31%, aos 117.560,83 pontos no fechamento da sessão, saindo de abertura a 117.199,70 pontos e tocando na máxima do dia os 118.382,31 pontos, o maior nível intradia desde 12 de abril (118.615,38) - na mínima desta quinta-feira, oscilou aos 117.143,65. Faltando a sessão de sexta para a conclusão da semana, o Ibovespa acumula ganho de 6,84% no intervalo, em desempenho não visto desde o começo de novembro de 2020, quando avançou 7,42% na primeira semana daquele mês. No ano, o índice da B3 (BVMF:B3SA3) sobe 12,15%.
Embora sem realizar lucros em cima do salto de 5,54% da segunda-feira, o Ibovespa manteve desempenho bem mais tímido nas três sessões seguintes, em altas de 0,08%, 0,83% e 0,31%, de lá para cá. O giro desta quinta-feira foi a R$ 33,5 bilhões.
"O mercado segue em compasso de observação, principalmente do cenário internacional. Hoje, o dado ruim sobre pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos, acima do esperado, poderia ser lido de forma positiva, mostrando certa desaceleração (do mercado de trabalho) que contribui para a contenção da inflação. De algum forma, ajudou aqui, com o Ibovespa chegando a recuperar os 118 mil pontos durante a sessão", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
"Aqui dentro ainda tem a questão eleitoral. Cada vez mais Lula acena para o centro, atraindo outros nomes da economia em seu apoio, o que contribui para acalmar o mercado, dando uma certa previsibilidade, independente de ser considerada boa ou ruim", acrescenta Moliterno. Ele observa que as pesquisas posteriores ao primeiro turno, mesmo nos casos em que mostram diferença de quatro pontos nos votos válidos entre Lula e Bolsonaro, na faixa de 52% a 48% para a decisão do dia 30, possivelmente ainda não espelham as movimentações políticas mais recentes.
Depois dos recentes apoios de André Lara Resende e de Arminio Fraga, outros nomes associados à estabilização da inflação no País nos anos 90 manifestaram apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste segundo turno: Edmar Bacha, um dos formuladores do Plano Real e economista histórico ligado ao PSDB; o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, dos anos FHC; e Persio Arida que, além da ligação com o Plano Real, presidiu o Banco Central no início do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso.
A vantagem de Lula nas pesquisas para o segundo turno contribuiu nesta quinta para o desempenho de ações do setor de educação, entre as quais Cogna (BVMF:COGN3) (+6,85%), na ponta do Ibovespa na sessão - logo atrás de Via (+8,03%) -, com a intenção afirmada pelo candidato do PT de retomar o Fies, caso venha a ser eleito. Além de Cogna e Via, destaque nesta quinta-feira para IRB (BVMF:IRBR3) (+6,67%), Méliuz (BVMF:CASH3) (+6,30%) e Yduqs (BVMF:YDUQ3) (+4,98%).
No lado oposto, pesos-pesados como Vale (BVMF:VALE3) (ON -1,83%) e Bradesco (BVMF:BBDC4) PN (-2,06%), em realização de lucros que contribuiu para minguar o desempenho do Ibovespa em direção ao fechamento do dia, majoritariamente negativo para os grandes bancos, à exceção de BB (BVMF:BBAS3) (ON +1,78%).
"A melhora dos indicadores econômicos e o valuation atrativo favorecem os ativos de risco no Brasil. Mas, após quase 10% de valorização do índice Bovespa em cinco dias (desde a última sexta-feira), o momento é de atenção para encontrar alguma oportunidade que tenha ficado esquecida", aponta Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora.