Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - A bolsa paulista fechou em queda nesta quinta-feira, com o Ibovespa pressionado pelo tombo de 14 por cento das ações da Petrobras, em meio à apreensão dos investidores com o risco de interferência política na empresa após decisão de reduzir o preço do diesel por causa dos protestos dos caminhoneiros.
O índice de referência do mercado acionário brasileiro caiu 0,92 por cento, a 80.122 pontos. No pior momento, recuou 2,3 por cento, indo abaixo de 80 mil pontos. O volume financeiro da sessão somou 16,5 bilhões de reais.
De acordo com profissionais da área de renda variável, o movimento da Petrobras reavivou temores de interferência política na companhia, enquanto as medidas do governo para enfrentar a greve adicionaram preocupações à situação fiscal do país, particularmente em um ano de eleição.
"A decisão mostrou que a Petrobras não está blindada de interferências políticas", afirmou o gestor chefe da Garín Investimentos, Ivan Kraiser, ponderando também que os papéis da estatal vinham mostrando forte valorização no acumulado do ano.
Dados sobre a participação de estrangeiros continuaram a mostrar saída no mês de maio, o que também vem pressionando as ações brasileiras, com o saldo negativo de capital externo no mês alcançando 3,5 bilhões de reais, de acordo com números da bolsa até o dia 22.
DESTAQUES
- PETROBRAS PN e PETROBRAS ON desabaram 13,71 e 14,55 por cento, respectivamente, perdendo 47 bilhões de reais em valor de mercado, após anunciar a redução em 10 por cento do preço do diesel nas refinarias para ajudar na negociação com os caminhoneiros, que entraram no quarto dia de greve nesta quinta-feira. Analistas cortaram a recomendação dos papéis da companhia, entre eles os do Credit Suisse, Morgan Stanley (NYSE:MS) e Itaú BBA. "As regras do jogo mudaram", destacou André Hachem, do Itaú BBA. No ano, contudo, Petrobras PN (SA:PETR4) ainda sobe 25 por cento e Petrobras ON (SA:PETR3) avança 37 por cento.
- ELETROBRAS PNB (SA:ELET6) e ELETROBRAS ON (SA:ELET3) caíram 6,51 e 4,51 por cento, respectivamente, ainda pressionadas pela frustração dos investidores com a dificuldade do governo para seguir adiante com a privatização da companhia.
- BANCO DO BRASIL (SA:BBAS3) recuou 3,06 por cento, liderando as perdas do setor bancário no Ibovespa. A ação do banco estatal tende a sofrer mais em momentos de preocupação com riscos políticos no país. ITAÚ UNIBANCO PN, na outra ponta, subiu 1,32 por cento, ajudando a atenuar a pressão negativa sobre o Ibovespa. BRADESCO PN (SA:BBDC4) encerrou com variação positiva de 0,16 por cento.
- BRF (SA:BRFS3) avançou 6,40 por cento, com operadores citando especulações de que Pedro Parente poderia sair da Petrobras e assumir a presidência-executiva da companhia de alimentos, onde já é presidente do conselho de administração. Em teleconferência à tarde, Parente disse que não deixaria sua posição na atual situação da Petrobras. Mas isso não foi suficiente para abrandar o ânimo dos investidores com a ação, que ainda acumula perda de quase 38 por cento em 2018.
- SUZANO valorizou-se 6,02 por cento, encontrando na valorização do dólar ante o real suporte para a recuperação após queda nos três pregões anteriores. O dólar avançou 0,64 por cento, a 3,6483 reais na venda.
- BRASKEM encerrou em alta de 5,57 por cento, apoiada em expectativas relacionadas a aquisição do controle da petroquímica, após o jornal Valor Econômico noticiar que a holandesa LyondellBasell preparou uma nova proposta à Odebrecht para comprar o controle da Braskem (SA:BRKM5), avaliando a petroquímica brasileira em 41,5 bilhões de reais. A Braskem disse que a Odebrecht negou ter recebido proposta da LyondellBasell.
- VALE (SA:VALE3) fechou com acréscimo de 1 por cento, ajudando a limitar a queda do Ibovespa, tendo como pano de fundo a alta dos preços do minério de ferro na China.