Apesar de pressão nas margens, esta ação da B3 escolhida por IA bate o CDI em 2025
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira, reflexo de preocupações com os potenciais efeitos das tarifas comerciais norte-americanas que devem começar a vigorar na próxima semana, com as ações das gigantes WEG e Embraer entre as maiores perdas.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,15%, a 133.807,59 pontos, tendo marcado 133.647,84 pontos na mínima e 135.362,58 pontos na máxima do dia.
O volume financeiro somou R$15,66 bilhões, bem abaixo da média diária do mês, de R$21,2 bilhões, referendando o cenário de cautela conforme se aproxima o prazo para início da taxa de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, em 1º de agosto, sem qualquer acordo em vista.
"A falta de perspectivas para um acordo e a manutenção das tarifas em patamares elevados aumentaram a incerteza no mercado, levando agentes econômicos a anteciparem uma desaceleração ainda mais intensa da atividade ao longo do segundo semestre", afirmou o analista Arthur Barbosa, da Aware Investments.
"Esse contexto elevou a aversão a ativos de risco, dado que intensifica a percepção de que o desempenho das empresas, em especial exportadoras, poderá frustrar as expectativas neste período", acrescentou.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira que o governo estuda uma série de medidas como plano de contingência à tarifa, inclusive linhas de crédito, e reiterou que o planejamento será apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na próxima semana.
De acordo com Haddad, mais de 10 mil empresas brasileiras serão afetadas pelas tarifas. Segundo dados compilados pela assessoria técnica do Senado, das 27 unidades da federação, 13 Estados têm os EUA como maior ou segundo maior destino das suas exportações e serão diretamente afetados pela aplicação da taxa.
O governo vem fazendo rodadas de reuniões com empresas para avaliar potenciais impactos da medida e estudar possíveis respostas, mas tem encontrado dificuldades para fazer contato com o alto escalão do governo do presidente norte-americano, Donald Trump, e tentar uma negociação.
Na véspera, o Ibovespa fechou em alta de quase 1%, com o bom desempenho em Wall Street apoiando um ajuste positivo no pregão brasileiro, após quedas recentes em meio à escalada da tensão entre EUA e Brasil e preocupações sobre as suas consequências político-econômicas.
No começo do mês, antes do anúncio de Trump sobre a tarifa de 50%, o Ibovespa renovou máximas históricas, ultrapassando os 141 mil pontos pela primeira vez.
"Com a iminente taxação de 50% dos EUA sobre o Brasil, uma medida que envolve mais questões políticas do que comerciais, o risco de manter posições na bolsa brasileira aumenta consideravelmente", avalia o chefe da mesa de renda variável e sócio da GT Capital, Anderson Silva.
"Isso tem levado investidores que carregam posição há mais tempo a iniciar movimentos de realização de lucros, inclusive com o objetivo de fazer caixa para eventuais oportunidades, caso ocorra uma correção mais acentuada em meio à ’guerra político-comercial’ que atravessamos", acrescentou.
No anúncio sobre a tarifa, Trump vinculou a decisão ao tratamento recebido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que está sendo julgado sob acusação de planejar um golpe de Estado.
Em Nova York, por sua vez, o S&P 500 e o Nasdaq registraram máximas de fechamento, em meio a balanços corporativos, incluindo o da Alphabet (NASDAQ:GOOGL), e ao noticiário recente mais favorável envolvendo as negociações comerciais entre EUA e seus parceiros, entre eles Japão e União Europeia.
DESTAQUES
- WEG ON (BVMF:WEGE3) recuou 4,68%, depois de um tombo de 8% na véspera, quando divulgou resultado trimestral abaixo das previsões de analistas, incluindo desaceleração no crescimento na receita. Preocupações sobre eventuais adiamentos de decisões de investimento em projetos de grande porte dado o ambiente geopolítico desafiador adicionam dúvidas sobre o ritmo de crescimento da companhia no segundo semestre. Executivos da WEG afirmaram em teleconferência nesta quinta-feira que, se a situação tarifária envolvendo os EUA persistir, espera mitigar maior parte dos impactos realocando rotas de exportação. Tal movimento, porém, não tende a ser rápido ou simples. No mês, a ação já acumula um declínio de 15%.
- EMBRAER ON (BVMF:EMBR3) caiu 3,89%, ampliando a correção negativa desde as máximas registradas no começo do mês, também pressionada pelos receios sobre os reflexos das tarifas comerciais norte-americanas. A fabricante de aviões é vista por analistas como uma das mais afetadas pelas medidas dos EUA, principal mercado da Embraer. Em meados do mês, o presidente-executivo da companhia, Francisco Gomes Neto, afirmou que as tarifas de 50% podem ter um impacto na receita semelhante ao da crise da Covid-19. Desde a cotação recorde de fechamento de R$ 83,49 no dia 4 de julho, as ações da terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, atrás da Airbus (EPA:AIR) e da Boeing (NYSE:BA), acumulam uma queda de 21%.
- MAGAZINE LUIZA ON (BVMF:MGLU3) fechou em baixa de 3,33%, devolvendo boa parte do "respiro" da véspera, quando encerrou em alta de 4%. LOJAS RENNER ON (BVMF:LREN3) perdeu 3,12%, também na ponta negativa. O tom negativo prevaleceu em papéis sensíveis à economia doméstica, com o índice de consumo da B3 (BVMF:B3SA3), que engloba papéis de companhias de varejo, educação, saúde, alimentos, construtoras, entre outras, terminando o pregão com declínio de 1,28%. Mas houve exceções entre as ações de empresas sensíveis a juros, entre elas GPA (BVMF:PCAR3) ON, que avançou 1,45%, e PETZ ON (BVMF:PETZ3), que se valorizou 1%.
- BTG PACTUAL (BVMF:BPAC11) UNIT perdeu 2,3%, pior desempenho em um dia negativo para bancos do Ibovespa, com BRADESCO PN (BVMF:BBDC4) e SANTANDER BRASIL UNIT (BVMF:SANB11), que reportam seus resultados do segundo trimestre na próxima semana, fechando o dia com declínio de 1,26% e 0,45%, respectivamente. ITAÚ UNIBANCO PN (BVMF:ITUB4) cedeu 0,93% e BANCO DO BRASIL ON (BVMF:BBAS3) apurou queda de 0,69%.
- VALE ON (BVMF:VALE3) recuou 1,55%, acompanhando o movimento dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrou as negociações do dia com queda de 0,55%, a 811 iuanes (US$113,40) a tonelada.
- PETROBRAS PN (BVMF:PETR4) cedeu 0,16%, após movimento mais positivo dos últimos três pregões, quando acumulou uma valorização de mais de 3%. A queda teve como "freio" o avanço do barril do petróleo Brent, usado como referência pela estatal, que fechou com acréscimo de 0,98%, a US$69,18. PETROBRAS ON (BVMF:PETR3) subiu 0,11%.
- RAÍZEN PN (BVMF:RAIZ4) fechou em baixa de 1,95%, em pregão marcado pelo anúncio de que fechou nesta quinta-feira a venda de 55 usinas de geração distribuída de energia para a Thopen Energia e Grupo Gera, em negócio de valor agregado de cerca de R$600 milhões. Na véspera, a ação havia avançado quase 5,5%, entre os destaques positivos do Ibovespa, depois de ter marcado na terça-feira uma mínima histórica, a R$1,46. No mês, o papel soma uma perda de 8,5%, em parte por preocupações relacionadas ao endividamento da companhia, uma joint venture entre a Cosan (BVMF:CSAN3) e a Shell (NYSE:SHEL). Neste mês, a Raízen também anunciou a descontinuidade das operações da usina Santa Elisa (SP) por tempo indeterminado, além de contratos para venda de cana.