Após acumular ganho de 2,23% na semana passada na contramão da cautela externa, o Ibovespa se manteve em baixa nesta segunda-feira desde a abertura, mesmo nos momentos em que Nova York esboçava reação, devolvida ao longo da tarde. Assim, com dólar tendo chegado à faixa de R$ 5,41 na máxima do dia, a referência da B3 (BVMF:B3SA3) encerrou em queda de 2,33%, a 109.114,16 pontos, menor nível de fechamento desde 9 de agosto, então aos 108.651,05. Nesta segunda-feira, saiu de máxima na abertura a 111.712,70 e tocou na mínima 109.021,62 pontos, no fim da tarde, com giro a R$ 31,2 bilhões na sessão. No mês, o Ibovespa zera o avanço de setembro, cedendo agora 0,37% no intervalo e limitando o ganho do ano a 4,09%.
Entre as blue chips, apenas Vale (BVMF:VALE3) (ON -0,83% no fechamento) conseguiu se descolar da correção em parte do dia, especialmente forte no setor financeiro, o de maior peso no Ibovespa, com perdas que chegaram a 4,62% (BB (BVMF:BBAS3) ON) entre os grandes bancos no encerramento. Na contramão inclusive do ajuste em siderurgia (Gerdau (BVMF:GGBR4) PN -4,69%, Usiminas (BVMF:USIM5) PNA -4,60%, CSN ON (BVMF:CSNA3) -3,98%), Vale chegou a figurar como quarta maior alta do Ibovespa, mas virou para o negativo em direção ao fechamento.
Na ponta perdedora, destaque para 3R Petroleum (BVMF:RRRP3) (-6,83%), Petz (BVMF:PETZ3) (-6,63%), Magazine Luiza (BVMF:MGLU3) (-6,26%), Natura (BVMF:NTCO3) (-6,18%) e BTG (BVMF:BPAC11) (-5,87%). No lado oposto, São Martinho (BVMF:SMTO3) (+0,60%), Qualicorp (BVMF:QUAL3) (+0,22%) e Klabin (BVMF:KLBN11) (+0,17%), os únicos três componentes do Ibovespa que conseguiram sustentar alta, ainda que leve, no fechamento do dia.
Assim como para as ações expostas à economia doméstica, o dia foi negativo também para o petróleo, com o Brent em queda superior a 2%, negociado abaixo de US$ 85 por barril. Na B3, Petrobras ON (BVMF:PETR3) e PN cederam, respectivamente, 0,79% e 1,60%, contribuindo para recuo de 2,09% no índice de materiais básicos (IMAT), inferior porém ao do ICON, o índice de consumo (-2,89%).
"As bolsas no mundo todo estenderam hoje o mau humor de sexta-feira, com um cenário de 'sell off' nos mercados", aponta Álvaro Feris, especialista da Rico Investimentos. Ele destaca a preocupação em torno de "potencial inflação descontrolada no Reino Unido", na esteira de "pacotes de estímulo econômico e de cortes de impostos para evitar uma recessão por lá".
Com as dúvidas sobre o Reino Unido, os custos de empréstimo no médio prazo para o país sofreram um salto, ficando acima de dois membros considerados entre os mais fracos da zona do euro, Itália e Grécia. O retorno do bônus de 5 anos do Reino Unido avançava a 4,535% nesta segunda-feira, segundo a Tradeweb, enquanto o yield para papéis com mesmo vencimento de Itália e Grécia seguia abaixo de 4%.
"O movimento segue a piora do sentimento local após o anúncio de corte de impostos e aumento de gastos no Reino Unido mesmo com uma situação fiscal frágil, o que elevou as taxas de juros futuras e gerou especulações de que o BC inglês terá de realizar ação emergencial para conter a desvalorização da moeda", observa a Guide Investimentos em nota, ressaltando a queda acentuada da libra, "atingindo valor próximo à paridade, em mínima a US$ 1,03 nesta manhã".
"O temor é de que esses pacotes de estímulos causem ainda mais problemas com relação à inflação, e por isso os investidores buscaram porto seguro no dólar fazendo com que a libra se desvalorizasse bastante no dia de hoje", diz Leonardo Neves, especialista em renda variável da Blue3, ressaltando também o impacto dos receios quanto a uma recessão global nos preços de commodities como o minério e o petróleo, com efeito direto sobre o Ibovespa nesta segunda-feira.
"Continua o estresse nos mercados globais, mais um dia complicado depois de semana que já havia sido difícil para a bolsa americana, com recuo de 5% e o S&P 500 vindo abaixo de 3.700 pontos. O Brasil se segurou na semana passada, e a Bolsa brasileira ainda é um dos destaques do ano em relação às globais. Mas o clima lá fora ainda é de temor de recessão global, com notícias problemáticas como a crise energética na zona do euro, choque de juros nos Estados Unidos e falta de sinais de melhora no conflito do Leste Europeu", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
Apesar da relativa resiliência mostrada pelas ações brasileiras frente ao mal-estar externo, o cenário doméstico nesta semana que antecede o primeiro turno das eleições é também desafiador, pelo que ainda conserva de incerteza para o próximo ano. "Os desafios do próximo presidente serão muitos: PIB fraco, juros altos, inflação resistente, possível piora do desemprego e aumento da dívida pública", diz Rodrigo Simões, professor da FAC-SP, especialista em finanças e economia.
Nesta segunda, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a taxa Selic este ano é "freio de mão puxado", mas estimou que o PIB pode ter crescimento de até 3%, mesmo com a política de aperto monetário. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa básica em 13,75%, interrompendo o ciclo de 12 altas seguidas da taxa.