SÃO PAULO (Reuters) - O comportamento relativamente calmo do mercado financeiro nos últimos dias reflete a percepção de que a atual agenda econômica brasileira vai adiante mesmo com uma eventual mudança do presidente da República, disseram presidentes de unidades de grandes bancos estrangeiros no país.
"O comportamento do mercado mostra que o investidor acredita que a agenda de reformas vai adiante independente do desfecho da crise política", afirmou o presidente-executivo do Credit Suisse no Brasil, José Olympio Pereira, durante o Fórum de Investimentos Brasil 2017.
O presidente-executivo do JPMorgan no Brasil, José Berenguer, por sua vez, afirmou que "a percepção do mercado é de que a agenda de reformas é do país, não de um presidente".
As declarações vêm na esteira do recrudescimento da crise política no Brasil, após a divulgação de informações sobre gravação de conversa do empresário Joesley Batista, da JBS (SA:JBSS3), com o presidente Michel Temer, na qual supostamente concorda com a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.
O episódio, que envolveu delações de Joesley e outros executivos do grupo J&F, controladora da JBS, tem levado a pedidos pela saída de Temer. O presidente da consultoria Eurásia, Christopher Garman, presente no evento com os banqueiros, estimou em 70 por cento a chance de Temer não concluir o mandato, que vai até o fim de 2018.
Após forte reação inicial dos mercados, com o principal índice da Bovespa chegando a cair mais de 10 por cento durante o pregão e o dólar tendo a maior alta diária frente ao real em 18 anos, os ativos domésticos vêm apontando leve recuperação.
Nesta terça-feira, o dólar fechou em leve baixa, enquanto o Ibovespa teve ligeira alta.
Para Olympio, do Credit Suisse, além da reação dos ativos, outro forte indicador de que a confiança dos investidores segue firme no país é a sequência de pedidos para ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês).
Desde a revelação das delações do grupo J&F, três pedidos de registro chegaram à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o do Atacadão, que controla as operações do Carrefour (PA:CARR) no Brasil, o da operadora de planos de saúde Notre Dame e o da resseguradora IRB Brasil. Desde 2013, o país tem tido apenas um IPO por ano.
"O investidor voltou a confiar no país", disse Olympio, acrescentando que os IPOs já realizados neste ano já captaram mais de 15 bilhões de reais, a maioria de investidores estrangeiros.
Para Berenguer, do JPMorgan, mesmo com a crise política o Brasil ainda tem muitas vantagens para quem aposta no longo prazo, como em ativos de infraestrutura.
"O Brasil é o melhor cavalo para se apostar entre os mercados emergentes", disse Berenguer.
Para Olympio, há muitas oportunidades pouco aproveitadas de receber mais investimento internacional, se o Brasil se dispuser a entrar numa nova rodada de privatizações.
"Precisamos endereçar casos como essa vergonha mundial da área de saneamento; cerca de metade da população sem saneamento, que está nas mãos do governo e que não tem capacidade de investir", disse Olympio.
MAIS CRÉDITO
No mesmo painel, o presidente do Banco do Brasil (SA:BBAS3), Paulo Caffarelli, afirmou que mudanças implementadas pelo governo Temer em concessões de infraestrutura devem incentivar maior uso de recursos do mercado de capitais no setor, o que deve começar a ser sentido com mais intensidade nos próximos dois anos.
Segundo o executivo, a melhora da percepção da economia também tem se refletido no aumento das concessões de crédito no BB, que cresceram 25 por cento em 2017 até agora para o varejo e 20 por cento para empresas, na comparação com os primeiros meses do ano passado.
(Por Aluísio Alves)