Por Ana Julia Mezzadri
Investing.com - Após abrir em queda na terça-feira (4) após a a divulgação do balanço do segundo trimestre, o Itaú falou sobre perspectivas para inadimplência e tendências para os próximos trimestres em conferência com analistas e imprensa. No resultado trimestral o banco teve lucro líquido recorrente 40% menor do que no mesmo período do ano anterior.
A ação preferencial ITUB4 afunda 6% com o balanço e a marcação da votação do PL para estabelecer um teto de juros no país nesta quinta-feira. A decisão foi tomada após reunião de líderes do Senado.
A inadimplência de 90 dias, na visão de Candido Bracher, presidente-executivo do banco, deve subir no próximo ano. Uma das razões é o fato de as condições oferecidas atualmente, flexibilizadas, terem ajudado muitos devedores prorrogar os pagamentos e evitar os calotes.
Para diminuir a inadimplência, segundo Milton Maluhy, diretor financeiro da instituição, o banco criou condições para “fazer com que as condições comerciais levadas para os clientes coubessem no tempo, no custo e na capacidade de pagamento das empresas, justamente para evitar perdas na frente. Grande parte do nosso plano foi reduzir as provisões reduzindo o risco no tempo.” Batizado de Programa Travessia, o Itaú passou a oferecer carência no pagamento, alongamento de prazos e oferta de crédito adicional. Ao todo, o banco entregou R$ 52 milhões em flexibilização das condições de pagamentos no período.
No futuro, o banco prevê uma menor necessidade de provisões, uma recuperação da economia e uma melhora na carteira de crédito. “Provisões menores e recuperação de margens financeiras devem ocorrer se a economia continuar se recuperando”, resume Bracher.
A redução nas margens financeiras deve vir de uma mudança no mix da carteira de crédito, que deve expandir no segmento de grandes empresas e, com a flexibilização do crédito para pessoas físicas, micro e pequenas empresas, manter a estabilidade nesses segmentos. Outro fator que pode impulsionar a redução das margens é uma menor taxa de juros na remuneração do capital de giro e na margem de passivos.
De fato, na perspectiva do banco, os indicadores sugerem que o fundo da atividade econômica já foi ultrapassado e agora estamos em fase de recuperação. A recuperação da economia deve ter como efeitos importantes para o banco o aumento nas receitas de serviços e seguros e, com a melhora nas condições financeiras dos clientes, a redução do custo do crédito.
Ainda assim, na tentativa de mitigar o impacto da crise da Covid-19, o banco busca reduzir os custos operacionais de 2020 e 2021, disse Maluhy. “A gestão estratégica de custos baseada no contínuo investimento em tecnologia, nas novas formas de trabalho, na otimização dos canais de distribuição, além dos projetos estruturais de eficiência continuará trazendo benefícios nos próximos trimestres”, afirmou.
Outra previsão é que o retorno sobre o patrimônio tenha atingido seu ponto mais baixo, em 13,5% no trimestre, e que a partir de agora comece a melhorar. “Mesmo que no ano que vem a recuperação do ROE do banco não deva retornar aos 20 e poucos (por cento), devemos voltar a ter números bem razoáveis”, diz Candido.
Segundo Bracher, o banco não vê uma perspectiva clara para a pandemia e, assim, não acredita ser recomendável fornecer um guidance.
Visão dos analistas
A XP Investimentos destaca que o Itaú publicou um resultado em linha com as estimativas e as de mercado, com lucro de R$ 4,2 bilhões (vs. R$ 4,3 bilhões do esperado mercado), implicando 13,9% de retorno sob patrimônio líquido.
Se comparado ao Santander (SA:SANB11) (SA:SANB11) e Bradesco (SA:BBDC4) (SA:BBDC4), a equipe acredita que o mercado possa ter uma reação negativa. Embora os resultados gerais tenham chegado como esperado, a combinação de uma queda de NIM dos clientes, taxas/seguros mais baixos e uma queda abaixo da média nas inadimplências e nos custos pode estar abaixo das expectativas dos investidores. No entanto, os analistas reiteram a recomendação neutra e preço-alvo de R$ 29,00, pois acreditam que a qualidade do banco deve entregar a longo prazo.
Para o BTG Pactual (SA:BPAC11) (SA:BPAC11), no geral, os números ficaram próximos das expectativas. Mas, considerando a linha superior mais fraca e a melhoria de NPL/capital menor em relação aos pares, o banco espera que as ações do Itaú tenham um desempenho abaixo do esperado hoje, devido ao desempenho superior recente.
Enquanto o banco envia uma boa mensagem de que a visibilidade está melhorando, a administração decidiu manter as orientações suspensas por enquanto. A recomendação para o Itaú Unibanco (SA:ITUB4) é de COMPRA, mas a equipe reitera a preferência por players de receita/mercado de capitais/pagamentos, como B3, XP, STNE, PAGS e Inter, em vez de mais histórias de crédito/macroexpostas, como os grandes bancos brasileiros.
Balanço
O banco reservou R$ 7,77 bilhões no período para cobrir possíveis perdas com empréstimos, alta de 92% ano a ano, mas diminuindo 23% em relação ao trimestre anterior.
O índice de inadimplência de 90 dias diminuiu 0,4 ponto percentual no trimestre, para 2,7%, tendência já observada nos maiores rivais privados do Itaú.
Como os bancos estão concedendo aos clientes carência para pagar empréstimos ou renegociá-los em meio à crise, os índices de inadimplência têm mostrado melhora momentânea.
O Itaú afirmou já ter concedido aos clientes carência de até seis meses o equivalente a R$ 52 bilhões em empréstimos para que possam renegociar suas dívidas.
A receita com tarifas também sentiu o impacto das medidas de isolamento social, caindo 7,4% no trimestre, principalmente em cartões de crédito e débito, além da administração de fundos.
No lado do crédito, os empréstimos corporativos lideraram um crescimento de 2,9% da carteira de empréstimos total, mais do que compensando a queda nos empréstimos para pessoas físicas.
Assim como os demais bancos, o Itaú está se apoiando em medidas de redução de custos para aliviar a pressão das perdas com calotes. As despesas operacionais ficaram estáveis no trimestre, embora o número de funcionários do banco tenha aumentado em 2,3% no trimestre.