Por Jessica Bahia Melo
Investing.com – A JSL (SA:JSLG3), empresa brasileira de logística, transporte rodoviário de cargas e fretamento, que pertence à holding Simpar (SA:SIMH3), reportou os resultados do 1T22 nesta terça-feira (3), após o fechamento do mercado.
A companhia, localizada no município de Mogi das Cruzes (SP), apresentou receita bruta de serviços de R$ 1,5 bi, alta de 47%, e EBITDA de R$ 219 milhões, 71,4% maior que o 1T21. Na contrapartida, o lucro líquido ajustado foi de R$ 37,2 milhões, 22% menor na mesma comparação.
No trimestre, a empresa fechou R$ 700 milhões em novos contratos, com prazo médio de operação de 40 meses com destaque para os setores de papel e celulose (30%), alimentos e bebidas (26%) e siderurgia e mineração (12%). Em relação aos segmentos operacionais, destaque para as operações dedicadas (52%) e transporte de cargas (34%).
“É um ano desafiador por todo o cenário político pendular, guerra, pandemia, Copa do Mundo, mas vejo que é também de muitas oportunidades. Passamos, pelos últimos três anos, por desafios que nem sabíamos que existia e soubemos navegar bem. Gosto de dizer que não controlamos os ventos, mas as velas e o leme”, aponta Ramon Alcaraz, CEO da companhia.
As ações da JSL caíram 3,77% nesta terça-feira, cotadas a R$6,63. A variação anual é negativa em 35,21%. Segundo estimativa do InvestingPro, as ações da companhia possuem alta potencial de 65,79%, com preço-justo em R$11,11.
Cenário para aquisições
A empresa realizou seu IPO (oferta pública inicial, na sigla em inglês) em setembro de 2020, após reorganização societária da Simpar (antes chamada de JSL, que se transformou no braço logística da holding). Em entrevista exclusiva ao Investing.com Brasil, Ramon Alcaraz e Guilherme Sampaio, CEO e CFO da JSL, contam que desde o IPO, a companhia realizou cinco aquisições (Fadel, Transmoreno, Transportadora Rodomeu, TPC e Transportes Marvel ) e prevê um cenário propício para novas operações do tipo neste ano.
“Temos muitas expectativas de M&A neste ano, temos várias empresas sendo analisadas. Acho que esse ano, com dificuldades de aumentos de insumos, repasses e aumento de juros, acho que o mercado fica mais receptivo. Continuamos otimistas e agressivos nesse caminho de crescimento”, reforça Alcaraz.
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Confira a entrevista:
Investing.com – Após o IPO, o que mudou na companhia? Quais os novos desafios a serem enfrentados a partir de agora?
Ramon – Muita coisa mudou, mas não a estratégia, o que possibilitou a receita e resultados. Se anualizarmos a receita bruta, estamos falando de 80% maior do que no IPO. Isso é muito mais do que nós projetamos na época. Quem imaginaria que estaríamos em um mundo super inflacionário e com reajustes de dois dígitos? Quando fizemos o IPO, falamos em apostar no crescimento orgânico e outra via seria as aquisições. Fizemos cinco desde então e essas empresas cresceram em volume até maior que a JSL. Nesse primeiro trimestre, cresceram 31%.
Inv.com – O Ebitda subiu, mas na contrapartida o lucro líquido apresentou um recuo frente ao 1T21. Por quais motivos? Qual deve ser a estratégia parta reverter esse número?
Guiherme - Como a companhia possui uma geração de caixa muito forte, tem tendência de desalavancagem muito grande caso resolva desacelerar o plano de aquisições e CAPEX. Com CDI que saiu da faixa de 2% para 11,5% e dívida líquida que subiu 1,3 bilhão, a empresa entende que é um resultado super positivo. A empresa não acredita que a taxa de juros vai ficar nesse patamar por muito tempo e, se ficar, todo ano atualizamos nossa base de contratos, com custo de capital atualizado.
Inv.com – Como devem enfrentar os desafios de pressão de custos?
Ramon – Vai ser um ano difícil, mas acreditamos muito na nossa capacidade de renegociação, nesse primeiro trimestre tivemos um trimestre dos mais agressivos em relação ao aumento de custos, diesel, pneu, peça, manutenção e ainda tivemos resultado visto pelo EBITDA e EBIT maior inclusive que a própria receita. Isso é fruto de renegociação rápida com os clientes, cada um com sua realidade e seu momento. Não são todos iguais e não podem ser tratados como se fosse. Agilidade é o grande termo, não temos tempo de ficar esperando.
O segundo ponto é a eficiência na gestão de custos, fazer mais com menos. A prática é relativamente simples, exige uma disciplina grande. Para ter ganhos de produtividade, é preciso carregar maior volume com menos veículos. Fazer sistemas onde o motorista consiga fazer a mesma coisa com economia de combustível. Toda vez que lançamos programa de economia de combustíveis, temos ganhos na ordem de até 20%. É nisso que apostamos para neutralizar efeito do aumento de insumos: renegociação nos reajustes e busca de eficiência.
Inv.com – Quais estratégias têm sido utilizadas para acelerar as entregas de encomendas e otimizar os processos?
Ramon – Tecnologia é grande aliada da eficiência. Gastamos bastante tempo e recurso nisso. Quando falei da redução de combustíveis, conseguimos isso por meio da tecnologia. Temos sistemas que conseguem medir cada gota de combustível que passa pelos bicos injetores em cada trecho para cada motorista. Conseguimos saber onde está cada motorista, cada caminhão, cada carga. Assim, é possível ganhar otimização de tempo.
Inv.com – A empresa assumiu compromisso com descarbonização. Como vão atuar nessa frente e quais os resultados até o momento?
Ramon - Temos atuado em várias frentes de ESG. Temos investido muito em segurança, pois somos uma empresa de mais de 25 mil colaboradores. Investimos em diversidade de gênero, começamos no ano passado uma campanha chamada “Mulheres na direção”, para aumentar escopo em um ambiente predominantemente masculino. Ampliamos o projeto “Você quer, você pode”, que consiste em transformar jovens de comunidades carentes em profissionais.
Em relação à diminuição de poluentes, temos trabalhado em pilotos com veículos elétricos, com caminhões GNV, gás natural veicular, e outra frente em combustíveis híbridos, com GNV e diesel. Apesar de ter redução na economia de combustíveis menor do que caminhão elétrico, é possível replicar muito mais, porque o custo é mais baixo. A JSL trabalha com a idade média da frota própria de 3,9 anos, ante idade média do Brasil de 11 anos. A idade média dos nossos autônomos é de 11 anos, inferior aos 23 anos da média Brasil. Esse também é um caminho para uma emissão menor de poluentes. Tivemos uma redução na intensidade emissão de poluentes no ano passado de 9%.
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