Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros fecharam em alta nesta segunda-feira, com investidores ajustando posições antes da divulgação, na terça-feira, da ata do último encontro do Copom e diante do avanço dos rendimentos dos Treasuries no exterior, numa semana de dados de inflação na China, nos Estados Unidos e no Brasil.
Os Treasuries justificaram em parte a direção das taxas futuras no Brasil. Os rendimentos dos títulos norte-americanos sustentaram ganhos ao longo do dia, em meio à expectativa dos investidores pelas operações do Tesouro norte-americano na gestão de sua dívida. O Tesouro venderá 42 bilhões de dólares em títulos de três anos na terça-feira, 38 bilhões em títulos de 10 anos na quarta e 23 bilhões de dólares em títulos de 30 anos na quinta-feira.
Além da questão técnica, os rendimentos dos Treasuries subiam antes da divulgação de dados de inflação nos EUA na quinta-feira, que podem dar novas indicações sobre o rumo dos juros até o fim do ano.
Antes disso, na quarta-feira, saem os números de inflação na China. Já o Brasil terá na sexta-feira a divulgação, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho.
Estes dados têm potencial para mexer na curva de juros e nas apostas dos investidores sobre o próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), marcado para 19 e 20 de setembro.
Na terça-feira, porém, os investidores estarão atentos à ata do encontro da semana passada, quando o colegiado cortou a taxa básica Selic em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano, e sinalizou a intenção de promover mais cortes de meio ponto percentual.
Os investidores estarão de olho, em especial, nos detalhes sobre a divisão de votos entre os dirigentes do colegiado, que acabou resultando no corte de 0,50 ponto.
"Achei estranha a decisão do jeito que foi, não pela questão técnica dos 50 pontos-base, mas por toda a situação, pelo voto de minerva dado pelo (presidente do BC) Roberto Campos Neto", disse o economista-chefe da Órama, Alexandre Espirito Santo.
"Há muito tempo o BC vinha falando de serenidade, parcimônia e persistência. E com o empate, o Campos Neto votou por 50 pontos-base, e não por 25 pontos-base", acrescentou.
Para Espirito Santo, o avanço dos juros futuros nesta segunda-feira também esteve ligado à expectativa antes da divulgação da ata e a ajustes de posição, com eventual realização de lucros, após os recuos recentes. Na quinta e na sexta-feira da semana passada, os juros futuros haviam cedido.
Apesar do movimento desta segunda-feira, a precificação na curva a termo pouco mudou. Perto do fechamento, a curva de juros brasileira precificava 78% de chances de o Copom cortar a Selic em 0,50 ponto percentual em setembro, contra 22% de probabilidade de redução de 0,75 ponto percentual. Os percentuais são semelhantes aos vistos na sexta-feira.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,485%, ante 12,47% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,54%, ante 10,483% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 9,995%, ante 9,938% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,115%, ante 10,083%.
Pela manhã, o relatório Focus do Banco Central indicou que os economistas do mercado passaram a projetar um afrouxamento monetário mais intenso em 2023 e 2024. A expectativa agora é de que a Selic encerre 2023 a 11,75%, contra 12,00% no levantamento anterior, e termine 2024 em 9,00%, ante 9,25% de uma semana antes.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries seguiam em alta no fim da tarde.
Às 16:41 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 2,70 pontos-base, a 4,0885%.