Os juros futuros fecharam o dia em alta. O alívio nos prêmios de risco se esvaiu ao longo da tarde, conforme o dólar foi acelerando o ritmo de avanço ante o real e renovando máximas na casa de R$ 5,29. A piora do câmbio acabou por mitigar a influência de queda dos rendimentos dos Treasuries sobre a curva doméstica, num dia em que o PIB no primeiro trimestre alimentou a cautela do mercado em relação à política monetária.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,415%, de 10,394% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026, em 10,87%, de 10,80%. O DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 11,21%, de 11,16%, ontem, e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,66% (de 11,63%).
As taxas estiveram em baixa moderada pela manhã, com o recuo nos yields dos Treasuries servindo de anteparo ao impacto do PIB do primeiro trimestre, que subiu 0,8% na margem, acima da mediana das estimativas (0,7%) e com abertura que mostra atividade aquecida pela robustez do mercado de trabalho e pelo alívio na política monetária. Pelo lado da demanda, chamou a atenção o crescimento de 1,5% no consumo das famílias e os investimentos (+2,7%) e pelo lado da oferta, o PIB de serviços, que cresceu 1,4% e atingiu patamar recorde.
"O crescimento do consumo e do investimento refletem o forte desempenho da demanda doméstica, que cresceu 1,7% na margem", destaca Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, que calcula um carry over de 1% para o PIB este ano deixado pelo dado do primeiro trimestre.
"Se não fossem os Treasuries, a curva hoje certamente abriria com o PIB e ao longo da sessão o mercado também foi ficando muito nervoso com o dólar", afirma Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos. Na segunda etapa dos negócios, os juros zeraram a queda e passaram a subir com a escalada da moeda americana até R$ 5,2961, que fechou hoje no maior nível desde março de 2023, a R$ 5,2854.
Num mercado já propenso a apostar no fim do ciclo de queda da Selic em função dos níveis de desancoragens das expectativas de inflação em relação à meta de 3%, o dólar perto dos R$ 5,30 somado ao PIB são vistos como argumentos para reforçar a postura mais cautelosa do Banco Central, ainda que o ritmo de crescimento nos próximos trimestres possa perder fôlego pelos efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul, ainda difíceis de mapear.
"O PIB acima do consenso e com uma composição mais forte nos segmentos mais sensíveis ao mercado de trabalho dão maior robustez às narrativas de maior preocupação com as expectativas de inflação e, portanto, ao fim do ciclo de corte de juros", avalia o economista Álvaro Frasson, do BTG Pactual (BVMF:BPAC11).
Em Roma, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, demonstrou apoio ao trabalho do Banco Central. "Tenho muita confiança técnica no Banco Central. Temos pessoas qualificadas que vão tomar a melhor decisão levando em conta todos esses fatores", Haddad ao abordar as próximas reuniões do Copom. Ele defendeu que o BC continue a perseguir as metas de forma a manter a inflação baixa. "Essa é minha crença, de que os diretores do BC vão se guiar por essa missão institucional."
A curva americana, por sua vez, respondeu a dados fracos da economia dos EUA, com destaque para a abertura de postos de trabalho no relatório Jolts, que diminuiu para 8,059 milhões em abril, com revisão em baixa nos dados de março. As taxas dos Treasuries chegaram nas mínimas à tarde a operar nos menores níveis em quase três semanas. Por volta das 17h, a taxa da T-Note de dez anos estava em 4,33%, após ter chegado a romper ontem o nível de 4,40%. Outro fator a contribuir para o ajuste é a expectativa de queda de juro pelo Banco Central Europeu (BCE), que se reúne na quinta-feira.
O relatório Jolts e a pesquisa ADP que sai amanhã antecedem a divulgação do relatório de emprego de maio, na sexta-feira. "Se o payroll vier na mesma linha, setembro tende a se consolidar nas apostas do mercado", afirma Veronese, a respeito do mês em que o Federal Reserve começará a cortar juros. Além disso, os indicadores do dia também elevaram as apostas de que a autoridade monetária entregará uma redução acumulada de 50 pontos-base nos juros este ano, com duas quedas de 25 pontos.