Lojas Renner vê 2º semestre mais difícil, mas 2026 melhor, diz CFO

Publicado 09.09.2025, 09:27
Atualizado 09.09.2025, 09:28
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Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - O vice-presidente de finanças da Lojas Renner, Daniel Martins, enxerga um segundo semestre mais difícil para os resultados da varejista de moda em relação à primeira metade do ano, particularmente o terceiro trimestre, mas adota um tom mais positivo para os últimos três meses do ano, bem como para 2026.

No primeiro semestre, a receita líquida de varejo da companhia cresceu 15,6% sobre um ano antes, com as vendas mesmas lojas aumentando 14,5%. No segundo trimestre, apenas, a receita saltou 18,5%, com expansão de 17,3% nas vendas mesmas lojas.

Martins disse em entrevista à Reuters que há um efeito de base de comparação, uma vez que em 2024, com o outono quente, o consumidor não comprou roupa de frio e postergou o consumo, comprando mais no terceiro trimestre, mas também chamou a atenção para um consumidor que está "mais fragilizado" neste ano.

O executivo ponderou que há um efeito do quadro macroeconômico, com a taxa Selic elevada, o que faz o consumidor ser mais seletivo, mas também citou sazonalidade dentro do padrão neste ano, em que os compradores buscaram roupas de inverno, de margens maiores, no segundo trimestre. Agora, no terceiro trimestre, citou, pouco a pouco o consumidor vai comprar a nova coleção mais focada nos meses de primavera e verão.

"Vai ser um segundo semestre com crescimento menor...o terceiro talvez ainda mais por questão de base de comparação, mas dentro de uma normalidade... Mas depois você entra no quarto trimestre, que tende a ser um período mais forte", afirmou. "Eu tenho uma visão mais positiva do ano de 2026", acrescentou, citando perspectiva de queda de juros no Brasil, que se confirmada permite trabalhar melhor o crédito via o braço financeiro do grupo, a Realize.

No final do primeiro semestre, a carteira total da Realize CFI somava R$6,5 bilhões. Um ano antes, eram R$5,8 bilhões. No segundo trimestre, o grupo teve um aumento de 13% no volume de vendas financiadas pelos cartões próprios.

Martins ressaltou que a Lojas Renner vai seguir com uma política de crédito restritiva no restante do ano, tomando cuidado na originação a novos clientes. Segundo ele, ainda não é o momento de começar a trabalhar perfis de riscos maiores, citando que o patamar de juros atual ainda demanda mais cuidado.

"O nível de originação que a gente vem tendo no ano de 2025 é melhor do que em 2024. Há potencial para mais, mas não dá para explorar agora, tem que esperar um pouco mais...2026 pode sim ser um ano com uma contribuição do crédito para as vendas maior. Mas isso tem que ser feito com muito cuidado", analisou.

"Todo mundo está nesse compasso um pouco de espera, porque todo mundo realmente está falando: ’gente, não é o momento de você fazer nenhuma expansão’", reforçou, acrescentando que muitos varejistas que quebraram no passado tiveram um apetite de crédito que depois se demonstrou excessivo.

Martins avaliou que os níveis de inadimplência do primeiro semestre devem se manter até o final do ano. "Está sob controle. Não acreditamos em piora. Se acontecer alguma coisa, vai ser pontual e marginal porque já operamos com um perfil de risco baixo."

COMPETIÇÃO E EXPANSÃO

O vice-presidente financeiro da Lojas Renner afirmou que a varejista sueca H&M, que a abriu no mês passado sua primeira loja física no Brasil, é mais uma competidora para o grupo brasileiro, "porque ela compete com uma dinâmica também de querer trazer moda, trazer uma experiência, uma marca que vai querer se posicionar no Brasil".

Mas, como CFO de uma varejista que completa 60 anos em 2025, Martins disse que "todo mundo chega com uma sede pelo Brasil e depois vai percebendo como é difícil. ..a dinâmica do Brasil é complicada e, querendo ou não, a Renner é uma empresa brasileira que faz moda para o Brasil".

"Até que ponto a H&M vai trazer a moda de fora que não nasceu sendo pensada para o público brasileiro?", questionou.

Executivos da H&M afirmaram recentemente que os planos da rede de se estabelecer no Brasil evoluíram ao longo de vários anos e que a empresa quer ter preços que sejam inclusivos, bem como tem a "ambição" de aumentar a produção local, desde que mantendo os padrões globais do grupo. A primeira loja da rede foi aberta no shopping de alto padrão Iguatemi, na cidade de São Paulo.

Martins também defendeu a isonomia tributária com grupos globais, citando que os marketplaces estrangeiros que atuam no Brasil ainda pagam menos impostos que empresas nacionais.

"Às vezes, as pessoas falam ’não, mas vocês também trazem produto da China’. Mas o mesmo produto que eu trago da China paga 85% de impostos, o das plataformas paga 47%. Por que eu tenho que pagar 85% e eles pagam 47%? E eu sigo todas as normas e regulações e o outro não segue norma e regulação nenhuma", disse o executivo sem citar nomes de rivais.

O executivo ponderou que o "imposto da blusinha" ajudou a diminuir essa diferença, mas não resolveu. "Ele trouxe uma menor disparidade, mas a disparidade ainda existe. De 47% para 85% ainda é uma diferença que não se justifica."

Ainda assim, Martins reiterou a previsão da Renner abrir de 15 a 20 lojas da marca homônima neste ano, o que significa uma aceleração relevante no ritmo de inaugurações nos próximos meses, ressaltando que o histórico mostra mais inaugurações no final do terceiro trimestre e no começo do quarto trimestre.

O plano de expansão da varejista de moda contempla ainda a abertura de cerca de 15 unidades da bandeira Youcom - voltada ao público mais jovem - e uma a duas da Camicado - de casa e decoração. Nos primeiros seis meses do ano, foram abertas duas unidades da Renner e quatro da Youcom.

DIVIDENDOS E INCENTIVOS

O CFO da Lojas Renner afirmou que é do interesse da companhia, retornar ao acionista excesso de caixa, mas sinalizou que os níveis de preço das ações ainda endossam recompras em detrimento de um dividendo extraordinário.

"Quando o preço da ação está abaixo daquilo que é o valor intrínseco da companhia, nós vamos optar pela recompra de ações", afirmou o executivo, sem detalhar um número sobre uma cotação ideal, mas acrescentando que mesmo os preços-alvo atuais de alguns analistas ainda não capturam o potencial de valor de execução da empresa.

O executivo afirmou que as discussões sobre alocação de capital devem ocorrer mais para o final do ano, e não descartou um mix entre as duas opções: recompra e dividendo extraordinário.

Em fevereiro, a Lojas Renner anunciou um programa de recompra de até 75 milhões de ações, equivalente a 7,13% dos papéis em circulação do mercado, a aproximadamente R$1 bilhão, com prazo de 18 meses. Na ocasião, as ações estavam cotadas ao redor de R$13. Na segunda-feira, fecharam a cerca de R$16.

O grupo também anunciou nesse ano o pagamento de juros sobre o capital próprio (JCP) no valor bruto de quase R$190 milhões referentes ao resultado do primeiro trimestre e de R$203 milhões para o segundo trimestre.

Acionistas da companhia também se preparam para votar no próximo dia 18, em assembleia geral extraordinária, o novo Plano de Incentivo de Longo Prazo a executivos do grupo, tendo em vista o encerramento do Plano de Opções de Compras de Ações e o Plano de Ações Restritas, aprovado em 2015 e aditado em 2020.

O novo plano tem orçamento de R$95 milhões, é composto por ações de performance e ações restritas. No caso das primeiras, elas serão distribuídas de acordo com o atingimento de metas baseadas nos indicadores de retorno total aos investidores (TSR, na sigla em inglês), retorno sobre o capital investido (ROIC) e crescimento do lucro líquido por ação (EPS). O plano teve recomendação das agências ISS e Glass Lewi, disse Martins.

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