Por Andre Romani
SÃO PAULO (Reuters) - A plataforma de negociação de criptoativos MB considera abrir uma nova frente de expansão internacional, na qual atuaria apenas como distribuidora de ativos digitais, enquanto aguarda o aval regulatório para entrar no México, disse Fabrício Tota, diretor de novos negócios da companhia, à Reuters.
A MB, anteriormente conhecida como Mercado Bitcoin e que tem o conglomerado japonês SoftBank como acionista, esperava entrar no ano passado no México por meio de uma aquisição, em estrutura similar a sua chegada à Portugal no início de 2022, mas o negócio não saiu no prazo esperado.
"Tem uma pendência de aprovação regulatória", disse Tota. "Há uma expectativa que a aquisição seja aprovada ainda este ano, mas é muito mais uma expectativa do que uma obrigação do regulador de se manifestar."
Em meio à complexidade de adentrar em diferentes jurisdições, o executivo afirmou que a MB avalia expandir suas operações de um segundo modo, apenas como distribuidora, em uma estrutura mais simples que aproveitaria os negócios da empresa em tokenização.
"A gente pensa em expansão em várias frentes. A, primeira, mais óbvia é, de fato, a de existir, ter operações em outros países", afirmou o executivo, detalhando, em seguida, um segundo caminho: "Mas não necessariamente você precisa ter uma operação física para você ter essa presença internacional."
A MB, um dos unicórnios brasileiros (startups avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares), vem diversificando atividades nos últimos anos, como em tokenização - criação de representações virtuais de um ativo real. Esse segmento, segundo o diretor, deve ganhar mais força na companhia, diante da volatilidade dos mercados de criptoativos e seu impacto em plataformas de negociação ao redor do globo.
A ideia, de acordo com o executivo, é fazer a ponta final da distribuição de tokens em outros países por meio de parceiros, enquanto a originação, estruturação e as amarrações legais para garantir que o ativo digital de fato seja representativo de um ativo real continuariam no Brasil.
A MB tem quatro anos de experiência em tokenização, tendo realizado quase 130 ofertas, de tokens de precatórios a ativos ligados a clubes de futebol, que movimentaram cerca de 380 milhões de reais.
Tota disse que esteve nos Estados Unidos no último mês para participar de eventos internacionais e "testar a água" sobre a demanda pela distribuição de ativos tokenizados no exterior, expansão que, a princípio, não teria um prazo para ocorrer.
O diretor afirmou que há diversos desafios ainda a serem resolvidos para colocar o projeto de pé, como certa ressalva do investidor estrangeiro a se expor ao real - embora as taxas de juros aqui estejam atrativas -, o que demandaria operações de hedge ou ofertas de tokens em euros ou dólares.
O executivo não revelou países específicos que a empresa mira entrar com projetos de distribuição de tokens, mas disse que essa expansão poderia ter outra característica em relação ao atual projeto internacional da empresa, que engloba Portugal, e mira, além do México, a Argentina, o Chile e a Colômbia.
"Eu não necessariamente preciso de um lugar similar ao Brasil, eu posso ter demanda por esse tipo de ativo, seja na Europa, nos Estados Unidos, na Ásia, é meio indiferente", disse ele. "Eu não fico tão restrito a entender tudo do local, entender de regulação, recrutar, ter time local para atendimento."
FOCO NO ATACADO
O setor de criptoativos viveu uma crise global no ano passado, com a quebra de gigantes como a FTX e mais uma série de pedidos de proteção contra falência, após uma virada no mercado. O bitcoin, a principal referência da indústria, cedeu mais de 64% em 2022, mas mostra recuperação parcial de cerca de 66% neste ano.
A MB, da holding 2TM e que tem 3,8 milhões de clientes, movimentou 40,3 bilhões de reais em 2021, mas não forneceu os números do ano passado.
Tota disse que a MB pretende elevar as operações no mercado institucional - no qual hoje, por exemplo, permite que empresas ofertem negociação de criptoativos em seus aplicativos -, um outro modo para que fique menos exposto aos riscos de uma exchange em um mercado volátil.
"Se em 2020-2021 foi um ciclo de crescimento essencialmente de varejo, agora, talvez, seja um ciclo que não seja somente de varejo", disse.
O executivo afirmou que a recente demissão de 8% da equipe da MB - são cerca de 300 funcionários atualmente - anunciada em meados de agosto, tem relação com esse maior foco no atacado, e garantiu que a posição de caixa da companhia é "confortável", enquanto ainda "não é o momento ideal" para uma captação via mercado privado ou uma abertura de capital em bolsa, diante dos juros ainda elevados globalmente.
(Edição Alberto Alerigi Jr.)