Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Ministério Público de Minas Gerais recomendou à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN (SA:CSNA3)) que pague aluguel de 1.500 reais, mais despesas inerentes à mudança, para cada núcleo familiar que deseje se mudar em função do medo de morar próximo de uma barragem de rejeitos de mineração da empresa em Congonhas (MG).
No documento, os promotores também recomendaram o pagamento de outros 1.500 reais mensais, em caráter adicional ao aluguel, até que a situação esteja definitivamente resolvida, sem que os valores sejam caracterizados como indenizações.
Para fundamentar as recomendações, o órgão afirmou que pessoas que vivem próximas da chamada Barragem Casa de Pedra vivem atualmente sob alta pressão psicológica devido ao risco de rompimento da estrutura e que há inúmeros relatos de moradores demonstrando medo e angústia.
O MPMG pontuou que, em estudo realizado pela CSN em 2017, há a informação de que se ocorrer o rompimento do maciço principal da barragem de Casa de Pedra, "em um tempo de 15 minutos, serão atingidas 3.740 edificações".
O estudo da empresa também aponta, segundo o MPMG, que no caso de um colapso a mancha de inundação atingirá além de residências, estação de tratamento de água da Copasa (SA:CSMG3), escolas, áreas de lazer, praças, estabelecimentos comerciais, estabelecimentos de saúde, dentre outras edificações.
Dessa forma, o MP também recomendou que a empresa elabore um plano para a remoção voluntária dos moradores dos bairros Cristo Rei e Residencial Gualter Monteiro. O MP não estimou no documento o número de residentes nestas áreas.
O tema de segurança de barragens ganhou força desde 25 de janeiro, após o rompimento de barragem de rejeitos da mineradora Vale (SA:VALE3) em Brumadinho, distante cerca de 80 quilômetros de Congonhas. O desastre atingiu áreas da própria empresa, comunidades, vegetações e rios da região, deixando mais de 300 pessoas mortas ou desaparecidas.
O desastre da Vale ocorreu pouco mais de três anos após o colapso de uma barragem da Samarco, joint venture da Vale com a BHP,, em Mariana (MG), que deixou 19 mortos, centenas de desabrigados e poluiu o rio Doce até o mar do Espírito Santo.
O MP deu 10 dias úteis de prazo para a CSN se manifestar sobre as recomendações. Procurada pela Reuters, a CSN não pode ser contatada imediatamente.
Em fevereiro, a CSN reafirmou que todo o tratamento de rejeitos de seu braço de mineração será feito a seco até o final deste ano e que investiu 250 milhões de reais nos últimos dois anos em tecnologia de empilhamento a seco. Segundo a empresa, o descomissionamento e posterior revegetação da barragem da mina Casa de Pedra são consequências do rejeito a seco, mas que o processo será de longo prazo.
A barragem de Casa de Pedra tem 76 metros de altura e está a cerca de 300 metros de um bairro de Congonhas. A instalação tem capacidade para acumular cerca de 50 milhões de metros cúbicos de rejeito. A barragem de Brumadinho tinha cerca de 12 milhões de metros cúbicos.