Após ter renovado máxima do dia aos 107 mil pontos, o Ibovespa chegou a devolver os ganhos que sustentava até o meio da tarde mesmo com o desempenho ruim de Nova York no pós-feriado, que colocou a perda do Nasdaq a 2,60% no fechamento, em dia de forte pressão sobre os rendimentos dos Treasuries, com o yield de 10 anos a 1,8772% no pior momento da sessão. Ao fim, apesar das preocupações domésticas quanto ao avanço da articulação do funcionalismo federal por aumento salarial, o Ibovespa encontrou força, na contramão do exterior, para assegurar leve ganho de 0,28%, aos 106.667,66 pontos, com giro a R$ 29,9 bilhões nesta terça-feira. Na semana, cede 0,24%, mas sobe 1,76% no mês e no ano.
No início da tarde, a piora em Nova York levou o Ibovespa a zerar os ganhos do dia pontualmente, antes de iniciar rápida recuperação que o levaria, minutos depois, aos 107.012,60 pontos, em alta de 0,60%, reaproximando-se da máxima intradia da última sexta (107.061,73), o melhor nível intradiário desde 20 de dezembro (107.171,21 pontos). Nesta terça, conseguiu se manter na linha dos 106 mil pontos pelo terceiro fechamento seguido, tendo chegado na mínima desta terça-feira aos 105.786,09 pontos, saindo de abertura a 106.369,27.
Após ter oscilado para o negativo, o Ibovespa voltou a se recuperar, embora de forma tímida, com Nova York firmemente plantada no vermelho em meio à crescente expectativa dos investidores globais de que o Federal Reserve venha a ter de agir de forma "abrupta", o que colocou os rendimentos de 10 anos dos Treasuries a níveis não vistos havia dois anos, conforme observa em nota a Nova Futura Investimentos.
"Quem ditou o ritmo do mercado global hoje foram as Treasuries, (com os yields) nos maiores níveis (desde o início) da pandemia. O mercado está preocupado com o tamanho da medicação que os BCs precisarão dar para controlar a inflação. No início do ano, a inflação implícita que se precificava na taxa de juros de referência, a Fed fund rate, de 0,83%, significava três altas já contratadas e uma possível quarta. Hoje, a taxa implícita saiu de 0,83% e foi para 1,1%, ou seja, quatro altas contratadas, de 0,25% - e está rolando um novo debate, se vai ter uma quinta alta", diz Antonio Carlos Pedrolin, líder da mesa de renda variável da Blue3.
Como pano de fundo para os temores sobre inflação, a geopolítica volta a desempenhar algum papel na aversão global a risco, com a Casa Branca considerando que a Rússia possa atacar a qualquer momento a vizinha Ucrânia, onde um movimento separatista no leste do país vem causando tensões de tempos em tempos, desde ao menos 2014. Para piorar o cenário externo, um ataque com drone aos Emirados Árabes Unidos, a partir do Iêmen, lançou o Brent aos US$ 88 por barril na máxima desta terça, contribuindo para reforçar as dúvidas com relação à inflação nos Estados Unidos e no mundo.
"O mercado aqui segue monitorando também a movimentação dos rendimentos dos títulos americanos, acima de 1,8% para o yield de 10 anos, um patamar que há muito não alcançava. Os rendimentos de curto prazo também estão subindo, em reflexo de que o Federal Reserve pode ser mais duro no combate à inflação ao longo do ano. Além disso, há o risco fiscal no Brasil, com protestos e reivindicações de aumentos salariais por servidores públicos. A questão fiscal ainda assombra, o que se refletiu hoje especialmente no dólar futuro", diz Stefany Oliveira, analista da Toro Investimentos.
Ainda assim, Vale ON (SA:VALE3) (+2,45%) e siderurgia (Gerdau (SA:GGBR4) PN +3,40%, CSN ON (SA:CSNA3) +2,59%), assim como parte dos bancos (Bradesco (SA:BBDC4) PN +1,81%, máxima do dia no fechamento; BB (SA:BBAS3) ON +0,89%), deram suporte ao Ibovespa, em dia de recuperação do minério e de expectativa por juros mais altos, ante a percepção de que o Federal Reserve precisará agir com intensidade ainda neste ano. Na ponta do Ibovespa, destaque para PetroRio (SA:PRIO3) (+4,82%), Cogna (SA:COGN3) (+3,69%) e Gerdau PN (+3,40%). No lado oposto, Locaweb (SA:LWSA3) (-10,61%), Banco Inter (SA:BIDI4) (Unit -10,43%), Alpargatas (SA:ALPA4) (-7,88%) e BRF (SA:BRFS3) (-5,78%).
"2022 inicia um ciclo contracionista, com elevação de juros e, em teoria, migração de recursos para ativos de renda fixa e mercados mais desenvolvidos", observa em relatório a equipe de Equity Research do Banco Inter. "Contudo, ainda vemos espaço para recuperação da bolsa local, vislumbrando um patamar de 125 mil pontos para o fim do ano, uma vez que vemos os papéis negociados no mercado brasileiro demasiadamente descontados em virtude de uma maior percepção de risco já precificada", acrescenta o texto.