Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) espera elevar até a próxima semana os limites de escoamento da energia gerada no Nordeste para o resto do país, depois da finalização de uma obra de transmissão na região, disse nesta quinta-feira o diretor de operações do órgão, Christiano Vieira.
O aumento do escoamento da energia renovável do Nordeste ocorrerá enquanto o Brasil enfrenta uma grave seca que está prejudicando a geração das hidrelétricas, principal fonte da matriz nacional, com redução da produção das grandes usinas hídricas do Norte e necessidade de maior despacho de termelétricas.
Conforme noticiou a Reuters no mês passado, o operador vinha trabalhando para reduzir as restrições de escoamento da energia no Nordeste colocadas desde 15 de agosto do ano passado, quando uma perturbação no sistema elétrico local levou a um apagão de grande escala no país.
Essas limitações de escoamento do Nordeste têm aumentado o volume de cortes de geração renovável, impostos pelo ONS principalmente por motivos de confiabilidade do sistema, em um problema que tem preocupado os investidores das fontes eólica e solar.
"Existem algumas obras de transmissão que estão em curso, uma delas é a de Dunas, a expectativa de conclusão é no final deste mês, começo de outubro", explicou Vieira a jornalistas após participar de evento da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), em São Paulo.
"A expectativa é de que volte a volumes (de exportação de energia) próximos aos praticados antes de 15 de agosto (de 2023). Mas isso significa que vamos ter a condição de cortes do ano passado? Não necessariamente, porque foram integrados muito mais ativos ao sistema, então você aumentou a capacidade de escoamento, mas ao mesmo tempo colocou mais geração no sistema", ponderou.
Vieira também destacou uma alteração feita na metodologia que é aplicada para os cortes de geração. Segundo ele, a mudança começou a ser implementada na operação dos sistemas do Rio Grande do Norte e Ceará e possibilitará que os cortes sejam mais bem distribuídos, não ficando mais concentrados em alguns conjuntos de geradores e regiões.
TÉRMICAS
Em relação a medidas operativas para garantir o suprimento de energia elétrica em meio à seca, Vieira comentou que o ONS não trabalha no momento com a antecipação da entrada em operação de mais usinas termelétricas que ganharam contratos no leilão de reserva de capacidade em 2021.
"O que a gente trabalha com antecipação agora é Termopernambuco... Se pedirem, vai ser avaliado, e vai seguir o processo regular", afirmou.
A severa seca deste ano, que prejudicou o potencial das usinas hidrelétricas, fez com que o governo se mobilizasse para antecipar o contrato da Termopernambuco, usina da Neoenergia (BVMF:NEOE3) que foi recontratada em 2021 e estava prevista para iniciar operação apenas em 2026. O empreendimento voltará à atividade em outubro, conforme autorização dada pela agência reguladora Aneel nesta semana.
Outros empreendedores também haviam sinalizado para a possibilidade de antecipar seus contratos, como as usinas recém-adquiridas pela Eneva (BVMF:ENEV3) do BTG Pactual (BVMF:BPAC11).
Sobre o horário de verão, o diretor do ONS lembrou que o órgão recomendou ao governo brasileiro o retorno da política, mas que a decisão final envolve análise dos impactos para outros setores da economia.
Ele reiterou ainda que, caso não seja aprovada a volta do horário de verão, o ONS tem outros recursos para mobilizar e atender os horários de ponta.
(Por Letícia Fucuchima)