SÃO PAULO - Empresas podem viver muito tempo com prejuízos contábeis, mas nenhuma sobrevive um dia, sequer, sem caixa. Ou, em bom português, dinheiro na conta corrente para pagar compromissos, como fornecedores e funcionários. O prejuízo de R$ 583 milhões do Grupo Pão de Açúcar (SA:PCAR4) no segundo trimestre é ruim. Mas preocupante, mesmo, é a queima de R$ 7,3 bilhões do caixa no primeiro semestre.
Primeiro, porque deixou a maior varejista do país com “apenas” R$ 3,7 bilhões no fim de junho. Segundo, porque significa uma perda de caixa 68% maior que a do mesmo período do ano passado. Terceiro: o tombo de caixa levou a empresa de credora líquida (quase R$ 600 milhões) para devedora líquida de R$ 2,7 bilhões entre os semestres comparados. Por fim, obter dinheiro está mais caro: os encargos bancários cresceram 40%, os custos para desconto de recebíveis de carnê subiram 2,3%; e a venda de recebíveis de cartão encareceu 1,6%.
Não é por acaso que o release de divulgação dos resultados enaltece a “sólida reserva de caixa e aplicações financeiras”, além de R$ 2 bilhões em recebíveis não antecipados, e linhas de crédito pré-aprovadas de R$ 1,3 bilhão. Agora, some tudo isso e verá que chega a R$ 7 bilhões – sim, menos que os R$ 7,3 bilhões que o Pão de Açúcar desembolsou entre janeiro e junho.
Não é por acaso, também, que o UBS alertou seus clientes de que pode revisar as projeções para a varejista. Em relatório assinado pelos analistas Gustavo Piras Oliveira, Guilherme Muller e Alejandra Obregon, o banco suíço afirma que espera duas coisas do Pão de Açúcar: uma reação mais convincente das vendas no critério mesmas lojas, a partir da agressiva política comercial do setor de alimentos; e um maior controle das despesas operacionais. Descontando o financês, trata-se apenas de aumentar as receitas e cortar gastos – tudo o que impacta o caixa.