Por Marta Nogueira, Roberto Samora e Cesar Bianconi
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO, 22 Abr (Reuters) - A Petrobras teve um prejuízo de 21,6 bilhões de reais no ano passado, mostrou balanço auditado nesta quarta-feira, após contabilizar perdas de 6,2 bilhões de reais por corrupção e reduzir em mais de 44 bilhões de reais o valor de seus ativos.
A empresa, no centro da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, não pagará dividendos referentes ao exercício de 2014 para preservar caixa, mesmo tendo mais de 100 bilhões de reais em reservas de lucros no fim de dezembro.
"Não vamos pagar dividendos", afirmou e repetiu o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, durante entrevista coletiva.
A publicação do resultado do terceiro trimestre do ano passado estava atrasada em mais de cinco meses e a companhia aproveitou para divulgar também os dados do quarto trimestre e de todo o ano de 2014.
No terceiro trimestre de 2014, a petroleira reconheceu perdas de 6,2 bilhões de reais por pagamentos indevidos descobertos pela Lava Jato, que investiga o desvio de dinheiro de contratos da Petrobras com envolvimento de ex-funcionários, executivos de empreiteiras e políticos. Isso levou a um prejuízo líquido de 5,3 bilhões de reais de julho a setembro do ano passado.
No quarto trimestre, a estatal reduziu o valor de seus ativos em 44,3 bilhões de reais, após ter reavaliado uma série de projetos, principalmente a Refinaria Abreu e Lima (em Pernambuco) e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). A empresa citou problemas no planejamento dos projetos, uso de taxa de desconto com maior prêmio de risco, postergação da expectativa de entrada de caixa e menor crescimento econômico.
O prejuízo líquido da Petrobras de outubro a dezembro, após o efeito da redução dos ativos, ficou em 26,6 bilhões de reais.
Os mais de 50 bilhões de reais por corrupção e, principalmente, pela diminuição do valor dos ativos não ficaram muito distantes das abordagens rejeitadas pelo Conselho de Administração da Petrobras no fim de janeiro, que apontavam para uma sobreavaliação de ativos em pouco mais de 60 bilhões de reais.
Naquela ocasião, a companhia optou por divulgar números sem qualquer baixa contábil e sem o aval da auditora externa PricewaterhouseCoopers, que se negou a assinar o documento. Dias depois, a então presidente da estatal Maria das Graças Foster e cinco diretores renunciaram, surpreendendo integrantes do governo.
Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e homem de confiança da presidente da República Dilma Rousseff, foi indicado no começo de fevereiro para comandar a Petrobras. Seu primeiro desafio foi garantir a publicação do balanço auditado para afastar o risco de uma execução de dívidas de bilhões de dólares por credores.
Bendine disse a jornalistas nesta quarta que a divulgação do balanço auditado volta a garantir normalidade no relacionamento com acionistas e credores.
"Estamos passando a limpo os erros cometidos no trato com os recursos da companhia para podermos lidar com o mercado com a transparência que esse exige e merece receber", afirmou o executivo.
EBITDA MENOR, DÍVIDA MAIOR
A geração de caixa da Petrobras medida pelo Ebitda ajustado(sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) foi de 8,5 bilhões e de 20,1 bilhões de reais no terceiro e no quarto trimestres do ano passado, respectivamente. No acumulado de 2014, o Ebitda totalizou 59,1 bilhões de reais, contra quase 63 bilhões de reais em 2013.
O prejuízo líquido de quase 22 bilhões de reais no ano passado se compara ao lucro de 23,6 bilhões de reais no ano anterior.
A Petrobras encerrou dezembro com endividamento bruto de 351 bilhões de reais, alta de 31 por cento sobre o fim de 2013. A relação entre dívida líquida e Ebitda, um indicador de alavancagem da companhia, subiu para 4,77 vezes, de 3,52 vezes um ano antes.
Dentro de cerca de 30 dias, a companhia espera apresentar seu plano de negócios para o período de 2015 a 2019, que deverá reduzir os investimentos previstos. Será priorizada a área de exploração e produção de petróleo e gás, segmento mais rentável da estatal.
ALÍVIO FINANCEIRO
Segundo o diretor financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro, a Petrobras tinha 25,6 bilhões de dólares em caixa alguns dias atrás.
O risco de não publicação de balanço auditado causou temor, mas não impediu que a empresa conseguisse financiamentos. Na semana passada, a petroleira informou que já cobriu suas necessidades de financiamentos para este ano.
A Petrobras firmou acordos totalizando 9,5 bilhões de reais entre financiamentos e limites de crédito pré-aprovado com Caixa Econômica Federal, BB e Bradesco.
A empresa também acertou com o banco Standard Chartered (LONDON:STAN) um acordo de cooperação para uma operação de venda com arrendamento e opção de re-compra de plataformas de produção, no valor de até 3 bilhões de dólares e prazo de 10 anos.
No começo do mês, a estatal anunciou a assinatura de um financiamento com o Banco de Desenvolvimento da China (CDB) de 3,5 bilhões de dólares.
Adicionalmente, a petroleira anunciou em março a aprovação de um robusto plano de desinvestimento de 13,7 bilhões de dólares para o biênio 2015 e 2016, visando à redução da alavancagem, preservação do caixa e concentração nos investimentos prioritários.
(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier)