Por Pedro Fonseca
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira o ex-presidente da Petrobras (SA:PETR4) Aldemir Bendine, em nova fase da operação Lava Jato, por suspeita de ter recebido junto com parceiros pagamento irregular de 3 milhões de reais da empreiteira Odebrecht[ODBES.UL] já durante o curso da maior investigação de combate à corrupção da história do país.
Bendine foi presidente-executivo da Petrobras de fevereiro de 2015 a maio de 2016, tendo sido indicado para o cargo pela então presidente, Dilma Rousseff, após a deflagração da Lava Jato. Antes de assumir a petroleira, Bendine fora presidente do Banco do Brasil (SA:BBAS3).
Os investigadores da Lava Jato descobriram, graças à quebra do sigilo telefônico de Bendine, que o executivo, que possui passaporte italiano, tinha passagem marcada para Portugal para sexta-feira, o que foi levado em conta pelas autoridades para deflagrar a operação nesta quinta-feira.
“O Ministério Público Federal pediu a preventiva por entender que estavam disponíveis os elementos para tanto. Bendine foi nomeado para a Petrobras e praticou crimes graves quando já avançava a operação Lava Jato", disse o procurador da República Athayde Ribeiro Costa, em entrevista coletiva.
"Soma-se ainda o fato de que Bendine possui nacionalidade italiana. Os operadores, por sua vez, possuem negócios consolidados em Portugal. É concreto o risco à ordem pública, sendo necessário também resguardar a aplicação da lei penal e obstrução criminal", afirmou, acrescentando ainda que os investigadores só localizaram passagem de ida de Bendine para a Europa.
De acordo com as investigações, Bendine já havia solicitado pagamento de propina no valor de 17 milhões de reais à Odebrecht na época em que estava à frente do banco para viabilizar a rolagem de dívida de um financiamento da empreiteira, mas o pagamento não foi efetuado, segundo o Ministério Público Federal (MPF).
No entanto, às vésperas de assumir a Petrobras, Bendine e seus operadores voltaram a pedir pagamento de propina da empreiteira, que acabou pagando 3 milhões de reais de forma irregular em troca de benefícios dentro da estatal de petróleo, inclusive em relação às consequências da Lava Jato, de acordo com os investigadores.
"A colaboração premiada dos executivos da Odebrecht foi o ponto de partida das investigações. A partir daí, a investigação se aprofundou e revelou estreitos vínculos entre os investigados e permitiu colher provas de corroboração dos ilícitos narrados", disse o MPF em comunicado.
VAGA NA VALE
O procurador Athayde Ribeiro Costa citou ainda um suposto interesse de Bendine em buscar um lugar na mineradora Vale (SA:VALE5), também por meio de pedidos de propina. A Vale anunciou em março deste ano a contratação de Fabio Schvartsman como diretor-presidente no lugar de Murilo Ferreira.
"Bendine veio do Banco do Brasil, foi para a Petrobras e, segundo as provas, havia pedido de propina. E, além disso, segundo constam de notícias de colaboração da J&F, Bendine tentava, com pedidos de propina, buscar lugar na Vale. Nós temos que impedir essa promiscuidade", afirmou, sem fornecer detalhes.
A operação desta quinta-feira, 42ª fase da Lava Jato, recebeu o nome de "Cobra", em referência ao codinome dado a Bendine nas planilhas de pagamentos ilegais da Odebrecht, de acordo com a Polícia Federal.
Além de Bendine foram presos dois supostos operadores do esquema que teriam participado do recebimento da propina, e a PF ainda cumpriu 11 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e nos Estados de Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo.
Um email enviado ao escritório de advogados que defendem Bendine não foi respondido de imediato na manhã desta quinta.
Em junho, quando o juiz federal Sérgio Moro autorizou abertura de inquérito para investigar Bendine, o escritório Bottini & Tamasauskas Advogados negou que o ex-presidente da Petrobras tenha cometido as supostas irregularidades. [nL1N1JA1HM]
Procurada nesta quinta-feira, a Petrobras não respondeu imediatamente a pedido de comentário sobre a prisão de Bendine. No início de maio, quando surgiram as primeiras informações sobre suspeita de propina paga pela Odebrecht a Bendine, o diretor-executivo de Governança e Conformidade da Petrobras, João Elek, afirmou a jornalistas que as irregularidades apontadas foram investigadas internamente e nada havia sido comprovado.
A Odebrecht, que fechou acordos de delação premiada e leniência com as autoridades brasileiras, veio a público reconhecer seus erros e pedir desculpas. A empresa se declarou comprometida em combater e não tolerar a corrupção e também declarou ser responsabilidade da Justiça a avaliação de relatos específicos feitos por seus executivos e ex-executivos.
(Reportagem adicional de Maria Clara Pestre e Marta Nogueira)