Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O plantio da soja 2024/25 da SLC Agrícola (BVMF:SLCE3), uma das maiores produtoras de grãos e oleaginosas do Brasil, aconteceu em momento favorável, e as lavouras estão com potencial máximo atualmente, afirmou nesta quarta-feira o diretor-presidente da companhia, Aurélio Pavinato.
"O plantio da soja em Mato Grosso aconteceu em momento de alta produtividade, e as demais regiões estão plantando em época excelente", afirmou ele, durante teleconferência com analistas para comentar os resultados.
"Até o momento, estamos com lavouras de soja com potencial máximo", acrescentou.
A produtividade média da soja da SLC (comercial + sementes) foi estimada em 3.976 kg por hectare, 0,6% acima do previsto para a temporada passada, que acabou encerrando abaixo das expectativas, a 3.276 kg/ha.
A previsão de área plantada está 0,4% abaixo do projetado inicialmente, para 378,3 mil hectares, respondendo por 51,5% das culturas da companhia.
Se reduziu levemente a previsão de área para a soja, a SLC projeta aumento de 0,7% na segunda safra de milho em relação à primeira intenção de plantio, para 119,8 mil hectares.
Já o algodão (primeira e segunda safras) deverá ter uma área de 192,12 mil hectares, queda de 0,7% ante o previsto inicialmente.
Contudo, a SLC prevê elevar a área plantada em 2024/25 na comparação com o ciclo anterior para essas principais culturas. A soja terá crescimento de 18,2%, e o milho segunda safra, de 25,9%, enquanto o algodão deverá avançar 1,8%.
Outras culturas, que incluem feijão, milheto e sorgo, deverão apresentar recuo de cerca de 24%, para 43,7 mil hectares.
A área total da companhia está estimada em cerca de 734 mil hectares, avanço de 11% na comparação anual.
Pavinato disse que a companhia está crescendo mais do que previsto em sua estratégia para um ano, "recuperando o que deixamos de crescer" na safra anterior -- a empresa ampliou sua joint venture com a Agro Penido (Fazenda Pioneira), constituiu uma joint venture com a Agropecuária Rica S/A (Fazenda Preciosa) e fechou um novo contrato de arrendamento no Piauí (área anexada à Fazenda Parnaguá).
O plantio de soja no Brasil, especialmente no Centro-Oeste, começou um pouco mais tarde do que o normal, mas chuvas a partir de meados de outubro fizeram deslanchar os trabalhos, o que é importante também para a janela climática da segunda safra, de milho e algodão.
A área semeada até 8 de novembro era de 293,14 mil hectares nos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Maranhão e Bahia, representa 77,45% da área prevista para a soja
A SLC Agrícola teve prejuízo líquido de 17,3 milhões de reais no terceiro trimestre, após lucro de 167,3 milhões de reais no mesmo período do ano anterior, conforme relatório de resultados divulgado na terça-feira.
CHINA E CUSTOS
A SLC avalia que o cenário de preços globais de commodities agrícolas é de baixa para o próximo ano, após uma grande safra nos Estados Unidos em 2024/25 e sinalizações de que Brasil e Argentina também caminham para ter grandes produções no período, segundo o CEO.
Ele avalia que os custos para os agricultores brasileiros não têm muito espaço "para ajuste" para baixo, o que "desenha" uma futura safra 2025/26 com "margens apertadas".
"Ainda depende de conseguir fixar no momento certo para ter margens melhores... mas quando olha o setor como um todo é que 25/26 será parecida com 24/25 em termos de rentabilidade", disse Pavinato.
Em relatório publicado na véspera, a SLC afirmou que iniciou as compras dos insumos para a safra 2025/26, "com a aquisição de 80% do cloreto de potássio", já travando "33,7% da soja, considerando os compromissos".
Pavinato disse também que uma eventual guerra comercial entre China e Estados Unidos, no caso da ocorrência de tarifas retaliatórias pelos chineses em commodities agrícolas em 2025, com a chegada de Donald Trump ao poder, teria impacto menor para o Brasil na comparação com 2018.
Ele explicou que a China está mais preparada, com maiores estoques de produtos agrícolas, enquanto também compra uma fatia menor de produtos como soja e algodão atualmente nos EUA em comparação com o que comprava em 2018.
Naquele ano, o Brasil foi beneficiado com a migração da demanda chinesa para sua soja, algodão e carnes, já que as tarifas chinesas para produtos dos EUA deixaram os brasileiros mais competitivos.
"Então a nossa visão é que o 'trade war' em 25 será mais amenizado sobre seus efeitos para o Brasil do que foi em 2018", disse ele.
Questionado por analista sobre pressão de Estados como o Mato Grosso contra a Moratória da Soja -- acordo entre tradings que proíbe a compra de grãos produzidos em áreas desmatadas do bioma amazônico após 2008 --, Pavinato minimizou o movimento.
Segundo ele, o setor brasileiro deve seguir se adequando à demanda de países europeus, que são contra o cultivo de soja em áreas desmatadas, independentemente da legislação brasileira, que permite o uso de parte das áreas nativas para agricultura.
"A Moratória da Soja não vai deixar de existir", disse ele, lembrando que a Europa é importante cliente do Brasil, especialmente para o farelo de soja.
(Por Roberto Samora)