Investing.com – As previsões dos grandes bancos e consultorias para os mercados financeiros costumam falhar. Isso não se deve à falta de competência dos analistas, mas ao interesse em estimular as vendas com cenários otimistas.
Para 2024, não faltam exemplos disso. Em relatórios extensos, cheios de números e gráficos, o argumento é que os mercados terão um bom desempenho por diversos motivos. Mas poucos leem esses documentos na íntegra e, assim, as contradições passam despercebidas, como nota o site Zerohedge.
David Kostin, estrategista-chefe do Goldman Sachs, divulgou sua projeção para 2024 em 15 de novembro, mas logo teve que revisá-la, porque o mercado reagiu tão bem à mudança de postura do Fed que o alvo de fim de ano para o S&P 500 para 2024 ficou defasada.
Inicialmente, Kostin projetava que o S&P 500 chegaria a 4700 pontos. Mas, como esse patamar já foi atingido, ele teve que elevar sua estimativa.
O novo alvo é de 5100 pontos, o que mostra que essas projeções não levam em conta os fatos do mercado, como aponta o Zerohedge:
“Poucas horas depois, ficamos surpresos novamente quando Kostin publicou uma nova projeção, desqualificando seu Magnum Opus de 2023 (que ninguém leu) e elevando ousadamente sua meta para 2024 de 4700 para 5100. Mas por que? Afinal, nada mudou no mês anterior (quando a projeção anual abrangente para 2024 foi publicada, válida por um ano), exceto a virada ‘dovish’ [acomodatícia] de Powell. No entanto, como o S&P já havia alcançado sua meta de fim de ano para 2024, Kostin teve que fazer uma projeção mais audaciosa e agressiva (já que em Wall Street só o preço importa, não importa como se chega lá), e foi isso que ele fez, prevendo uma alta de 8% do mercado (de 4700) para 5100, porque ‘a queda da inflação e o relaxamento do Fed manterão os juros reais baixos e sustentarão um múltiplo P/L de mais de 19.’”
Isso tudo é muito curioso, na medida em que o Goldman defende que os seis cortes de juros já embutidos pelo mercado para 2024 vão se deparar com dados econômicos ainda mais fortes. O Produto Interno Bruto (PIB) deve ficar no topo da tendência de longo prazo, enquanto o índice de preços ao consumidor (PCE) deve se aproximar rapidamente da meta de 2% no segundo semestre do ano, e a taxa de desemprego deve se manter baixa.
Diante disso, investidores privados devem ficar alertas. Por que o Goldman Sachs (NYSE:GS) projeta cinco cortes de juros para 2024, enquanto o Fed planeja apenas três? Será que o banco central realmente vai reduzir os juros mais depressa, mesmo com a melhora da atividade econômica, a baixa taxa de desocupação e a elevação dos salários?
Para essa questão crucial, os economistas do Goldman não oferecem uma resposta, e assim Zerohedge chega à seguinte conclusão:
“[…] Agora temos ainda mais dúvidas do que antes, o que nos leva à conclusão de que, mais uma vez - como em todos os anos anteriores - ou a previsão otimista de mercado da Goldman ou sua previsão econômica ainda mais otimista estarão completamente erradas. Provavelmente as duas.”
Como mencionado no início, o objetivo da bolsa de valores não é fazer previsões precisas - trata-se de impulsionar os preços das ações, o que é melhor alcançado disseminando otimismo coletivo.
No entanto, o que o Goldman prevê não é o “pouso suave” almejado pelo Fed, mas um pouso do banco central dos EUA que nunca foi realizado em sua história. A atividade econômica continua acelerando, a inflação recua para 2% e o crescente déficit orçamentário é tão irrelevante quanto os 100 bilhões de dólares que o Fed retira do mercado em liquidez mensalmente.