Investing.com – As ações da empresa de transportes e logística Sequoia (BVMF:SEQL3) despencaram quase 80% em um ano, chegando ao patamar de R$1. Se ficaram em nível ainda inferior, a companhia seria negociada a valores na casa de centavos, se tornando uma “penny stock” – ainda mais suscetível à alta volatilidade e à baixa liquidez. Endividamento elevado e possível necessidade de novo aumento de capital estão entre os motivos elencados por analistas consultados pelo Investing.com Brasil para esta situação.
Empresas com valor baixíssimo de negociação indicam momentos de dificuldades financeiras, processos de recuperação judicial ou até o risco de que as companhias fechem as portas, de fato. No Brasil, regra da B3 (BVMF:B3SA3) define que as companhias não podem ter preço de fechamento de suas ações abaixo de R$1 por 30 pregões consecutivos e devem adotar medidas para reverter a situação caso ocorra. Saiba mais sobre as penny stocks aqui.
O que houve com a cotação da Sequoia?
Em dois anos, as ações recuaram 95%. Somente no último mês, a baixa foi de 34%. Arlindo Souza, analista de ações do TC, acredita que os fundamentos da empresa pioraram muito. A companhia foi afetada pela alta da inflação e cenário de juros altos nos últimos anos, pois a receita é bem correlacionada com o varejo. “Então a empresa que tinha que crescer muito para justificar o valuation e, no ambiente de juros mais altos, não vai conseguir entregar isso. E a outra forma como ela é influenciada negativamente nesse cenário de inflação mais alta é com menores margens”, detalha.
Por outro lado, a empresa também está num processo de turnaround, fazendo um churn forçado no segmento de pesados, o que vem influenciando resultados da companhia, evidente no primeiro trimestre deste ano, segundo o analista do TC, que espera resultados ruins no 2T23.
A alavancagem e os passivos financeiros estão pesando no balanço, completa Souza. “Tanto o endividamento como um derivativo chamado equity swap. Quando a empresa faz isso, ela aposta na alta das suas próprias ações. Se a ação dela se valorizar, ela tem um ganho no seu balanço, mas aconteceu o inverso. Ela não performou bem, de acordo com as demais small caps do mercado”, compara.
Com a perda forte no balanço e passivo em torno de R$50 milhões para ser liquidado desse instrumento financeiro, após anúncio de aumento de capital, o TC avaliou que o valor de R$100 milhões seria insuficiente para melhorar a liquidez do balanço da Sequoia, o que motiva recomendação neutra para as ações.
Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, afirma que existem motivos para o mercado avaliar grandes riscos, mas não ao ponto de a companhia se firmar como penny stock de fato, caso consiga levar adiante seu processo de reestruturação.
Queizoz avalia que o mercado precifica a companhia a caminho de uma recuperação judicial ou de uma reestruturação financeira. “Justamente pelo passado recente, pelos últimos dois trimestres da companhia que foram desafiadores por questões tanto do mercado de atuação do e-commerce e também pela reestruturação da empresa que está deixando de operar a frente B2B e ficando só no B2BC”.
Para Queiroz, os fundamentos da companhia podem voltar a melhorar se a reestruturação for bem-sucedida e a empresa continuar entregando o que vinha apresentando antes dessa reestruturação. “Esse lado não justificaria essa precificação de penny stock, porque a gente está falando de uma empresa que pode desinvestir desse B22 vendendo algo por volta ali de R$100, R$200 ou R$300 milhões, podendo levantar esse nível de quantia financeira, e isso reduziria sensivelmente a dívida da companhia, perto de R$600 milhões. A empresa poderia perder 25% de receita, mas diminuir 50% na sua dívida caso consiga vender esses ativos”, aponta, com perspectiva de reprecificação mais próxima da realidade dos pares, caso isso ocorra.
A dificuldade de precificar os fundamentos leva à cotação atual, no entanto. “Quitando essa dívida com recebíveis, alongando esse prazo, os fundamentos da companhia vão permanecer e se o mercado conseguir ter visibilidade do que é a nova Sequoia, pode deixar de precificar ela como se fosse uma penny stock”, lembra, ao reforçar os riscos muito elevados percebidos pelo mercado nesse momento.
A média das estimativas de analistas compiladas pelo InvestingPRO é de um preço-justo de R$1,35, potencial de valorização de 29%.