RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA (Reuters) - A mais alta autoridade da Procuradoria Geral da República do Brasil pediu nesta terça-feira punição para todos os envolvidos no suposto esquema de fraude de contratos da Petrobras, e afirmou que espera uma "eventual substituição" da diretoria da estatal, ainda que os atuais diretores não tenham culpa pelos casos de corrupção investigados.
Os mais fortes comentários do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, foram feitos durante discurso proferido em Conferência Internacional de Combate à Corrupção, em Brasília, enquanto procuradores federais se preparam para denunciar 11 executivos de seis das maiores empreiteiras do Brasil, suspeitas de pagarem propina para garantirem contratos, em esquema que teria também pagamento a políticos brasileiros.
Dois ex-diretores da Petrobras chegaram a ser presos por envolvimento no esquema, que incluiria pagamentos para políticos do PT, PMDB e PP.
Ao falar sobre as denúncias de corrupção que envolvem a Petrobras e diversas empreiteiras, Janot disse que o país "se vê convulsionado por um escândalo que, como um incêndio de largas proporções, consome a Petrobras e produz chagas que corroem a probidade administrativa e as riquezas da nação".
Para ele, como trata-se de uma petroleira com economia mista, com controle da União, é necessário mais rigor e transparência na sua forma de atuar.
"Esperam-se as reformulações cabíveis, inclusive, sem expiar ou imputar previamente culpa, a eventual substituição de sua diretoria, e trabalho colaborativo com o Ministério Público e demais órgãos de controle", declarou Janot.
O procurador-geral frisou ainda que a resposta àqueles que participaram de atos ilícitos que envolvem a Petrobras será firme, na Justiça brasileira e fora do país.
Ele citou ainda que nos últimos meses foram autorizadas missões de procuradores da República à Suíça e à Holanda, para investigações relacionadas aos casos conhecidos como Lava Jato e SBM Offshore, fornecedora de plataformas para a Petrobras, que teria pago propina a funcionários da estatal para vencer contratos.
Janot disse que outra equipe de procuradores da República irá aos Estados Unidos, em janeiro de 2015, para cooperar com a Securities and Exchange Commission (SEC) e o Departamento de Justiça norte-americano, para aprofundar investigações.
A propósito, a Petrobras e seus principais executivos enfrentam ação coletiva em um tribunal federal de Nova York por suposto esquema de corrupção e fixação de preços de contratos, que advogados acreditam que tenham inflado o valor dos ativos da estatal brasileira.
A ação foi movida pelo escritório de advocacia Wolf Popper LLP no Distrito Sul de Nova York na segunda-feira em nome de investidores que compraram ações da empresa brasileira em Nova York, entre 20 de maio de 2010 e 21 de novembro deste ano.
As ações preferenciais da Petrobras fecharam em queda de 1,22 por cento, a 11,36 reais, nesta terça-feira, enquanto o Ibovespa recuou 0,16 por cento.
GOVERNO CONFIA NOS DIRETORES
Procurada, a Petrobras não se manifestou sobre as declarações do procurador-geral da República.
Já o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que o governo não vê necessidade de mudança na diretoria.
Ele afirmou que o governo confia nos atuais diretores e que a estatal está colaborando com as investigações da operação Lava Jato, da Polícia Federal.
"O governo tem uma posição muito clara a esse respeito. Em primeiro lugar, nós afirmamos e reafirmamos que não existem quaisquer indícios ou suspeitas que recaiam sobre a pessoa da atual presidente, (Maria das) Graças Foster, e os atuais diretores", disse o ministro a jornalistas.
(Por Anthony Boadle; com reportagem adicional de Marta Nogueira no Rio de Janeiro e Jeferson Ribeiro em Brasília)