SÃO PAULO – O Banco Central deu um primeiro passo para sinalizar que pode cortar a Selic no futuro, ao mostrar uma decisão unânime, mas afastou a possibilidade de que o início desse ciclo de cortes aconteça em breve, como parte do mercado acreditava, apontam economistas.
A questão, porém, é que a composição do Copom (Comitê de Política Monetária) pode ser diferente na próxima reunião, que ocorrerá no começo de junho, caso a presidente Dilma Rousseff venha a ser afastada pelo Senado. Logo, esta pode ter sido ser a última reunião do Copom da atual diretoria do BC, comandada por Alexandre Tombini.
“O Banco Central pode ser diferente do atual, porque o atual processo político pode acarretar em mudanças na diretoria da autoridade monetária”, diz Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria. “E quanto mais forte for o nome do presidente do BC, mais intenso pode ser o ciclo de corte dos juros.”
Um nome forte traria credibilidade para a autoridade monetária que, em conjunto com um bom nome para o Ministério da Fazenda, poderia ajudar na estabilidade dos preços, diz Ignacio Rey, economista da Guide Investimentos.
Segundo ele, as incertezas do cenário político podem fazer com que uma possível nova diretoria do BC também decidisse postergar o início do ciclo de corte. “O afastamento de Dilma pode se estender por até 180 dias. Isso envolve tanta incerteza política que o BC pode postergar os cortes”, diz.
Entre os nomes cotados para comandar o BC, o mais cotado é o de Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú (SA:ITSA4) Unibanco, que foi diretor de Política Econômica do BC entre 2000 e 2003. Outros nomes que circulam são o de Carlos Kawall, economista do J. Safra, e o de Mário Mesquita, economista-chefe do banco Brasil Plural (SA:BPFF11).
Decisão unânime
Após três reuniões com dois diretores (Tony Volpon e Sidnei Corrêa Marques) votando por uma alta dos juros, a decisão dessa quarta-feira foi unânime. Isso sinaliza que a autoridade monetária poderia começar a pensar em cortes mais à frente.
O BC reconheceu os avanços no combate à inflação, mas o comunicado disse com todas as letras que “o nível elevado da inflação em doze meses e as expectativas de inflação distantes dos objetivos do regime de metas não oferecem espaço para flexibilização da política monetária”.
Isso não fecha a porta para cortes, mas mostra que eles não virão na próxima reunião, caso a composição do Copom permaneça a mesma.
“O BC deu o primeiro passo para começar a vermos queda dos juros, mas deixou que isso está fora de cogitação agora. O comunicado reforçou que os cortes tendem a começar mais para o fim do ano do que no começo do segundo semestre, como alguns pensavam”, diz o economista da Guide.
Rey projeta que o ciclo de queda da Selic comece na última reunião do ano, em novembro, com um corte de 0,50 ponto percentual (pp) e se estenda por 2017 até a Selic chegar em 12%. Ele não descarta, porém, que uma queda maior, a depender de como será feita a transição política.
Já Jensen, da 4E Consultoria, estima que os cortes comecem em outubro, com queda de 0,25 ponto, engatando em cortes de 0,5 ponto em todo o primeiro semestre do ano que vem, levando a Selic a 11,50% ao ano. “Acreditamos que o ciclo será intenso porque esperamos um novo governo com um ajuste fiscal mais crível do que a expectativa do mercado”, diz o economista.