Por Geoffrey Smith
Investing.com – As saídas de fluxos das ações europeias já são maiores, em termos relativos, do que no primeiro estágio da pandemia em 2020, mas ainda parece ser cedo demais para apostar em uma mudança de tendência.
Essa é a visão dos estrategistas do Citigroup (NYSE:C), que alertam, em nota aos clientes, que os mercados geralmente precisam encontrar um fundo primeiro, antes que as entradas líquidas de fluxo registrem uma retomada.
Os investidores mantêm posições líquidas de vendas nas ações europeias desde a invasão da Rússia na Ucrânia em fevereiro, porém ainda não é possível determinar um fim para esse mau momento: os mercados nacionais registraram quedas de 14% somente no mês passado, devido ao aumento das taxas de juros pelos bancos centrais e das vitórias da Ucrânia no campo de batalha, que fizeram o Kremlin intensificar a guerra, através da mobilização de reservistas, anexação de territórios ocupados e, aparentemente, sabotagem de gasodutos submarinos.
Em uma avaliação dos dados da EPFR, a equipe de analistas do Citi, liderada por David Groman, afirmou que as saídas acumuladas de fluxos de fundos institucionais respondem agora por 6% dos ativos totais sob administração. Isso se compara às saídas de recursos de apenas 3% nos oito meses posteriores ao início da pandemia de Covid-19 em 2020. Em termos históricos, esses números se assemelham mais a outro episódio específico da Europa: a crise da dívida da zona do euro de 2011-12, quando as saídas de capital atingiram 7% dos ativos sob gestão antes de reverterem.
No período, o diferencial entre o valor de mercado das ações dos EUA e da Europa atingiu um nível geralmente visto em momentos de extremo estresse. Nos últimos 16 anos, ressaltaram os analistas, o diferencial entre o múltiplo prospectivo de resultados do MSCI Europe e do MSCI US foi de três em média. Mas atualmente, a diferença é de cinco, já que a Europa é negociada a 11 vezes a expectativa de resultados futuros, ao passo que o múltiplo dos EUA é de 16 vezes.
Analistas do Goldman Sachs (NYSE:GS) argumentaram, no início da semana, que isso, em vez de sinalizar uma oportunidade de compra, reflete na verdade o fato de que os analistas europeus foram muito lentos em revisar para baixo suas previsões de resultados diante de uma recessão que agora é amplamente vista como inevitável.
Groman e cia. apontaram que só existe um exemplo na história recente em que as ações não conseguiram se recuperar a partir dos níveis em que se encontram. Em média, sua recuperação foi de 16% nos 12 meses seguintes a uma saída tão grande de fluxo. A única exceção foi em 2008, quando recuaram mais 37%.
Hoje, não é possível dizer se o setor financeiro da Europa enfrenta uma reedição daquele período de pesadelo, quando se deparou com um nível inadequado de capital e, em muitos casos, uma liderança politizada e pouco profissional. No entanto, a natureza extremada daquele evento atípico pode moderar o entusiasmo de quem está aguardando o momento certo para aproveitar a queda para comprar.