Indicação de melhora dos mercados internacionais na manhã desta terça-feira respinga no Ibovespa, que busca recuperação, depois de ter fechado a segunda-feira em queda de 1,02%, aos 111.725,30 pontos. O recuo aconteceu na esteira do acirramento das tensões entre Rússia e Ucrânia, após Moscou reconhecer a independência de duas regiões. Apesar do clima ainda tenso e incerto, hoje há sinais de melhora de alguns ativos, exatamente porque ainda não se sabe até onde a situação prosseguirá, e há relatos de que a Rússia estaria aberta ao diálogo.
Como ressalta Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos, esse quadro abre cada vez mais a possibilidade de volatilidade nos mercados, em meio a divergências de informação o tempo inteiro. No entanto, Cozzolino avalia que é um cenário que tende a beneficiar commodities, especialmente o petróleo. "Nesse conflito geopolítico, o Brasil pode se tornar uma alternativa interessante, pautado muito no fluxo de estrangeiro, pensando numa Selic que pode ir para 12%, 12,5% hoje está em 10,75% ao ano/", diz.
"A Rússia é o principal driver do momento, tem feito preço e isso tem sido nítido", reforça Eduardo Teles, especialista em renda variável da Blue3, lembrando que ontem mesmo com a piora das bolsas europeias e dos índices futuros de ações de Nova York (bolsa por lá ficou fechada por causa de feriado), a alta das ações das petrolíferas ajudou a amenizar a queda do Ibovespa.
A despeito das incertezas, que acabam por gerar volatilidade, o momento também pode ser de oportunidades, diz Teles, lembrando de uma das frases do mega investidor e bilionário Warren Buffett, que vai nessa linha. "Quando tiver medo, também haverá oportunidade", resume Teles.
Durante a madrugada, o petróleo WTI saltou quase 4%, ampliando os ganhos robustos da véspera, em meio à escalada das tensões entre Ucrânia e Rússia. Ontem, o presidente russo, Vladimir Putin, autorizou o envio de tropas para as regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia, depois de reconhecê-las como repúblicas independentes. Hoje, contudo, há relatos de que o governo russo estaria aberto a negociações e que o da Ucrânia não acredita em uma guerra conta seu país. Já o Ocidente diz que adotará sanções contra a Rússia.
Conforme o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, há incertezas quanto aos próximos passos da Rússia na região, após o anúncio do envio de tropas às regiões separatistas. Segundo ele, caso não ocorram incursões no restante do território ucraniano, os mercados podem conter o nervosismo, mas ainda é prematuro descartar avanços nas tensões. Os preços do gás natural na Europa e do petróleo seguem pressionados, com o barril Brent ensaiando uma aproximação aos US$ 100."
Às 11h03, o petróleo WTI subia 2,90%, a US$ 92,83 e o tipo Brent, referência para a Petrobras (SA:PETR4), tinha alta de 2,17%, a US$ 97,44 o barril. Já o preço do minério de ferro negociado em Qingdao, na China, fechou em queda de 1,3%, cotado a US$ 135,78 a tonelada. Ainda assim, as ações das mineradoras e siderúrgicas avançavam. Petrobrás subia entre 1,60% (PN) e 1,11% (ON); Vale ON (SA:VALE3), 0,92%; CSN ON (SA:CSNA3), 0,20%; Usiminas (SA:USIM5) PNA, 1,38%.
As ações da Eletrobras (SA:ELET3) devem ficar no radar dos investidores, enquanto a agenda de indicadores e de eventos pode ficar em segundo plano, dadas as preocupações geopolíticas. De um lado, por conta da afirmação feita ontem pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em entrevista à Jovem Pan. Ele disse não acreditar que a Eletrobras seja privatizada já no primeiro semestre, ao contrário do que tem dito membros da equipe econômica.
Em outra ponta, acionistas da companhia se reúnem hoje para deliberar sobre o processo de privatização da Eletrobras, que deverá ocorrer no modelo de capitalização, por meio de uma oferta de ações tanto na Bolsa brasileira, a B3 (SA:B3SA3), quanto na Nyse, em Nova York. As ações reagem em alta de 1,40% (PNB) e de 1,86% (ON).
Às 11h06, o Ibovespa subia 1,35%, a R$ 113,229,66 pontos. O dólar à vista cedia 0,90%, a R$ 5,0604.
De acordo com Eduardo Cubas, sócio da Manchester, apesar de o Brasil não sofrer diretamente como acirramento geopolítico, o avanço do petróleo pode reforçar ainda mais preocupação das contas públicas e da inflação, que segue persistentemente elevada. "Quanto mais duradoura, pode piorar o cenário, aumentar o custo das commodities, de vários itens ligados ao setor e respingar nos preços combustíveis", avalia.
Neste sentido, a afirmação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que voltou a dizer que PECS dos Combustíveis estão definitivamente afastadas, traz certo alívio. "Tudo o que vai contra impactar a arrecadação, que não mexerá no fiscal, é positivo para o País e para o investidor", avalia Teles, da Blue3.