SÃO PAULO (Reuters) - A empresa de serviços financeiros e software StoneCo (NASDAQ:STNE) teve lucro líquido ajustado de 234,8 milhões de reais no quarto trimestre de 2022, revertendo prejuízo de 32,5 milhões no mesmo período do ano anterior, diante de avanço nas receitas com meios de pagamentos, disse a companhia nesta terça-feira.
Analistas esperavam, em média, lucro de 206,7 milhões de reais de outubro ao fim de dezembro, segundo dados da Refinitiv.
O lucro líquido sem ajustes, que incluem marcação ao mercado com investimento -- já desfeito -- no Inter, e amortizações relacionadas a aquisições, foi de 78,8 milhões de reais no período, após prejuízo de 801,5 milhões de reais um ano antes.
A companhia vêm expandindo seus negócios financeiros para além de meios de pagamentos, oferecendo serviços bancários, e recentemente implementou ajustes na sua forma de precificação. Além disso, a StoneCo passou por mudanças organizacionais, com o novo presidente-executivo, Pedro Zinner, assumindo em algumas semanas.
"O quarto trimestre consolidou uma grande virada que o nosso negócio teve ao longo de 2022", disse à Reuters a diretora de estratégia da StoneCo, Lia Matos.
A StoneCo, que bateu as projeções que havia divulgado ao mercado para o trimestre, revelou estimativas semelhantes para os primeiros três meses de 2023. No entanto, a administração da companhia observa que o começo de ano é costumeiramente mais difícil para o setor, enquanto os últimos meses têm ganhos maiores em meio ao período de festas.
"O primeiro trimestre é sempre sazonalmente o mais fraco do ano e o quarto trimestre o mais forte", afirmou Rafael Martins, diretor de finanças e relações com investidores. "A gente atropelou a sazonalidade quase com esse 'guidance'".
A empresa espera receita acima de 2,6 bilhões de reais, lucro antes de impostos (Ebt) maior do que 265 milhões de reais e volume total processado (TPV) no segmento de micro, pequenas e médias empresas entre 77 bilhões de reais e 78 bilhões de reais.
Os executivos também comentaram o atual cenário de incerteza no crédito, primeiro diante da crise da varejista Americanas, que pediu recuperação judicial em janeiro, e agora pela quebra do Silicon Valley Bank, nos Estados Unidos.
Martins disse que a StoneCo não tem exposição ao SBV e adicionou que a empresa tem bastante "flexibilidade" sobre a questão do crédito, à medida que poderia não captar no exterior caso necessário e que grande parte do custos de captação vem de vendas de recebíveis. "É um risco que não é nem nosso, é dos bancos emissores", disse Martins.
Inteligência de preço
A companhia registrou receita total de 2,7 bilhões de reais no trimestre, aumento de 44,5% ano a ano. Na última divulgação de resultados, a companhia havia publicado estimativa de receita acima de 2,6 bilhões de reais. O avanço foi impulsionado pelo avanço de 49,3% nas receitas com serviços financeiros -- o principal da companhia --, enquanto o faturamento em software subiu 20,8%.
O TPV do braço financeiro da empresa avançou 12,4% no período frente a um ano antes. O segmento que atende micro, pequenas e médias empresas foi o destaque, tendo exibido alta de 22,8%, a 81,9 bilhões de reais, batendo as estimativas da própria empresa de 78 bilhões a 79 bilhões de reais. Do outro lado, o TPV da área de clientes maiores caiu 18,5%.
A empresa passou a adotar em meados de 2022 uma estratégia mais consevadora de preços, que vem mostrando resultados. O "take rate" cobrado dos micro, pequenos e médios empresários pela StoneCo ficou em 2,21% no último trimestre do ano passado, contra 1,71% no quarto trimestre de 2021, e ainda assim o número de clientes ativos no segmento subiu 48,3% em 12 meses.
"A inteligência de preços que temos hoje é importante", disse Martins. Ele, inclusive, acrescentou que a empresa está "muito mais preparada com a estrutura de 'pricing' para conseguir reagir rápido às mudanças macroeconômicas".
O comentário vem à medida que a alta dos juros no Brasil virou alvo de preocupação de analistas quanto ao setor de meio de pagamentos. As despesas financeiras da StoneCo aumentaram 32,4% no trimestre em comparação anual, para 911,5 milhões de reais, mas tiveram leve queda frente ao terceiro trimestre.
As despesas com vendas cresceram 27,6% frente ao mesmo período de 2021, e as administrativas saltaram 52,8%, estas influenciadas por fatores sazonais, como ligados a pessoal. A empresa projeta uma queda nas despesas administrativas na base sequencial no primeiro trimestre e espera que elas não subam acima da inflação em 2023, segundo Martins.
(Por Andre Romani)