Taxas curtas dos DIs cedem com IPCA-15 e Treasuries, mas longas sobem com temor fiscal

Publicado 25.02.2025, 17:03
Atualizado 25.02.2025, 17:05
© Reuters. Notas de 200 reaisn02/09/2020. REUTERS/Adriano Machado

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs de curto prazo fecharam a terça-feira em leve queda após a prévia da inflação brasileira de fevereiro, apesar de elevada, ficar abaixo do projetado pelo mercado, em movimento puxado ainda pelo forte recuo dos rendimentos dos Treasuries no exterior.

Entre os contratos de longo prazo, porém, as taxas encerraram com altas firmes, refletindo a desconfiança dos investidores na política fiscal do governo Lula e em meio à expectativa de mudanças ministeriais em Brasília.

No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 -- um dos mais líquidos no curto prazo -- estava em 14,59%, em queda de 4 pontos-base ante o ajuste de 14,627% da sessão anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 marcava 14,475%, ante o ajuste de 14,512%.

Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 14,55%, ante 14,458% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 14,57%, em alta de 11 pontos-base ante 14,459%.

Na prática, a curva a termo inclinou.

No início do dia o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o IPCA-15 -- considerado uma espécie de prévia para a inflação oficial -- subiu 1,23% em fevereiro, maior taxa desde abril de 2022 (+1,73%) e a maior alta para um mês de fevereiro desde 2016 (+1,42%). Em janeiro, o indicador havia mostrado aumento de 0,11%.

Apesar da forte aceleração, o dado de fevereiro ficou abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters, de avanço de 1,33%.

Profissionais ouvidos pela Reuters ponderaram que o IPCA-15 abaixo do projetado contribuiu para a queda das taxas dos DIs, em especial entre os contratos mais curtos.

“O que nós precisamos considerar é que atualmente já tem um volume muito expressivo de notícias negativas refletidas nos preços. Então, quando nós temos um dado que vem abaixo do que o mercado já espera e já precifica, acaba tendo um impacto positivo”, disse Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, em comentário a clientes.

“Ao longo de toda a extensão da curva de juros, nós já projetamos, e o mercado já precifica, inflação acima do teto da meta do Banco Central, ao longo do horizonte de pelo menos dois anos. Então, qualquer dado abaixo do que o mercado já espera acaba tendo um impacto positivo”, reforçou.

Além do IPCA-15, as taxas no Brasil reagiam ao recuo firme dos rendimentos dos Treasuries no exterior, em meio aos sinais de desaceleração da economia norte-americana e aos receios em torno da política tarifária do governo de Donald Trump.

A terça-feira foi um típico dia de fuga para a segurança dos Treasuries, o que pesou sobre os yields e, em paralelo, sobre a curva brasileira.

“Temos uma boa ajuda do ambiente externo em relação ao fechamento na curva de juros. Os (rendimentos dos) Treasuries recuam bem em dia de aversão a risco”, resumiu Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos. “Temos visto dados mais fracos da economia norte-americana e há um fluxo para os Treasuries, o que acaba ajudando o movimento”, acrescentou.

Na ponta longa da curva, porém, as taxas se recuperaram ao longo da sessão e aceleraram os ganhos na reta final, refletindo os temores do mercado com a política fiscal do governo.

Na noite de segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou em rede nacional sobre dois programas federais -- o Pé de Meia e o Farmácia Popular --, ressaltando sua abrangência. Mesmo sem novidades, o pronunciamento de Lula foi citado por profissionais como um motivo de cautela no mercado.

“Acho que isso sempre dá um certo medo, que é o medo que a gente vai ter daqui para frente, que é como este governo reage à queda de popularidade”, pontuou Moreira. “Se a reação for mais gasto, mais contabilidade criativa... Aí o mercado fica aqui mais cauteloso.”

Outro ponto de atenção é a dança das cadeiras no ministério da Lula. Como informou a Reuters na véspera, Lula voltou a considerar a possibilidade de apontar a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) no lugar de Alexandre Padilha, que deve ser deslocado para o Ministério da Saúde. Gleisi é uma crítica notória da política monetária do Banco Central, dos cortes de gastos do governo e do mercado financeiro.

Perto do fechamento desta terça-feira a curva brasileira precificava 98% de probabilidade de alta de 100 pontos-base da taxa básica Selic no próximo mês, como vem indicando o BC. Atualmente a Selic está em 13,25% ao ano.

Porém, para maio o mercado de opções de Copom da B3 (BVMF:B3SA3) precificava na segunda-feira 47,00% de probabilidade de alta de 50 pontos-base da Selic, 19% de chances de manutenção, 14,50% de probabilidade de alta de 25 pontos-base, 12,00% de chances de elevação de 75 pontos-base e apenas 5,50% de chances de alta de 100 pontos-base.

Às 16h47, em meio à busca dos investidores por segurança, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 9 pontos-base, a 4,304%.

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