SÃO PAULO (Reuters) - Após os fortes ajustes de baixa da véspera, as taxas dos contratos futuros de juros ficaram próximas da estabilidade nesta quarta-feira, com investidores mantendo posições mais otimistas quanto ao início dos cortes da taxa básica Selic em meio a uma avaliação mais favorável sobre o arcabouço fiscal e com cenário externo benigno.
A terça-feira foi marcada pela divulgação da inflação pelo IPCA, que foi de 0,71% em março, ante 0,84% em fevereiro. Os números favoráveis de inflação, somados à percepção de que o novo arcabouço fiscal pode ser mais robusto, com travas adicionais para gastos, disparou os ajustes de baixa na curva a termo. Somente o vencimento para janeiro de 2026, um dos destaques, perdeu 26 pontos-base.
O ajuste da terça-feira na curva de juros refletiu a perspectiva de que o Banco Central poderá antecipar o início dos cortes da Selic.
Nesta quarta-feira, o movimento de melhoria dos ativos brasileiros continuou, com a bolsa e o real em alta, mas o mercado de juros pouco se movimentou.
Segundo o economista da BlueLine Asset Management, Flavio Serrano, os investidores se mantiveram posicionados após o forte movimento da véspera.
“Já temos uma chance de cerca de 60% de corte da Selic na reunião de junho precificados na curva. Antes, havia 20% de chances de um corte de juros em junho”, comentou Serrano, sobre os resultados do movimento mais recente.
No fim da tarde, a taxa do DI para outubro de 2023 estava em 13,435%, ante 13,431% do ajuste anterior. Já a taxa para janeiro de 2024 estava em 13,135%, ante 13,127% do ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,795%, ante 11,764%. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,735%, ante 11,737% do ajuste anterior.
Perto do fechamento, a curva a termo precificava apenas 5% de chances de o BC reduzir a Selic em 0,25 ponto porcentual no encontro de política monetária de maio e 95% de probabilidade de ele manter a taxa em 13,75% ao ano.
A BlueLine trabalha com o horizonte de um início de cortes apenas em agosto, mas de fato desde terça-feira, em função do otimismo trazido pelo IPCA e pelo arcabouço, tem crescido no mercado a avaliação de que o BC pode começar antes, em junho. Para o encontro de política monetária de maio, a avaliação é de que as chances de corte são mínimas.
O diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, afirma que era de se esperar algum efeito do IGP-M divulgado pela manhã sobre a curva de juros, mas o indicador, que subiu 0,05% em março, pouco fez preço. Novamente, a principal questão era sobre quando o BC começará a cortar os juros.
“Se caminharmos para um corte lá na frente, como o mercado está precificando, as taxas devem cair ainda mais. O câmbio e os contratos futuros para 2025, para 2027, estão querendo mudar de lado”, avaliou Faria Junior.
“E isso não é mérito só nosso: o juro americano continua caindo, as moedas commodities estão subindo. Então, temos o fiscal melhor, mas o exterior também está a nosso favor”, acrescentou.
Pela manhã, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que o índice de preços ao consumidor subiu 0,1% no mês passado, desacelerando após avançar 0,4% em fevereiro. O resultado elevou a expectativa de que o Federal Reserve não seja agressivo em sua próxima decisão de política monetária.
Durante a tarde, o Fed publicou a ata de seu mais recente encontro de política monetária. Nela, o banco central norte-americano informou que várias autoridades consideraram interromper o aumento da taxa de juros já na reunião de março.
A revelação deu novo impulso aos ativos de maior risco no exterior e colocou os rendimentos dos Treasuries em baixa.
Às 16:35 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 2,70 pontos-base, a 3,4074%.
(Por Fabrício de Castro)