Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros fecharam a segunda-feira em alta, em movimento de ajuste ante o forte recuo de sexta-feira e após a divulgação de dados fracos sobre a economia chinesa, com os investidores à espera de novos dados de inflação a serem divulgados no Brasil e nos EUA durante a semana.
Pela manhã, os mercados reagiram aos dados fracos divulgados pela China. O índice de preços ao produtor chinês caiu pelo nono mês consecutivo em junho, com baixa de 5,4% em relação ao mesmo período do ano anterior, informou a Agência Nacional de Estatísticas. Foi a queda mais acentuada desde dezembro de 2015.
Já o índice de preços ao consumidor chinês permaneceu inalterado na comparação anual, de ganho de 0,2% observado em maio, impulsionado por uma queda mais rápida nos preços da carne suína. Isso frustrou a expectativa de alta de 0,2%.
Os números fracos da inflação chinesa reforçaram preocupações em torno da recuperação econômica do gigante asiático, importante comprador de commodities do Brasil. Isso trouxe certo viés negativo para os ativos brasileiros, que se traduziu na alta das taxas futuras.
Como na última sexta-feira os juros futuros no Brasil haviam registrado queda firme, na esteira da aprovação da reforma tributária na Câmara dos Deputados, investidores também aproveitaram esta segunda-feira para corrigir posições, conforme um profissional da área de renda fixa ouvido pela Reuters.
Ainda assim, o avanço dos juros futuros pouco alterou a precificação na curva a termo para o próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Os investidores seguem à espera de dados econômicos importantes, como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho no Brasil, na terça-feira, e o índice de preços ao consumidor norte-americano em junho, na quarta-feira.
“O que vemos hoje (segunda-feira) é uma volta dos juros, mas muito pífia. As taxas voltaram um pouco, porque estão com leve tendência de alta de curto prazo, e haviam caído muito na sexta-feira. É natural voltar a subir”, comentou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior.
Segundo ele, os dados de inflação desta semana poderão dar mais subsídios para os investidores a respeito dos próximos encontros de política monetária dos bancos centrais do Brasil e dos EUA. Faria Júnior afirma, porém, que parece claro que o BC vai cortar a taxa básica Selic e o Federal Reserve vai promover mais um aumento de juros.
Nesta segunda-feira, durante entrevista ao podcast "O Assunto", o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender o corte da Selic. Segundo ele, o juro real no Brasil não para de subir, com a inflação caindo, o que estaria "constrangendo" a atividade e o crédito.
Perto do fechamento desta segunda-feira, a precificação na curva a termo brasileira era de 49% de chances de corte de 0,50 ponto percentual da Selic em agosto e de 51% de probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual. Na sexta-feira, perto do fechamento, estes percentuais eram de 46% e 54%, respectivamente.
No exterior, no fim da tarde os rendimentos dos Treasuries caíam, com os investidores também à espera dos dados de inflação norte-americanos.
Às 16:37 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- caía 4,40 pontos-base, a 4,0038%.
Pela manhã, o BC divulgou o relatório Focus, com as projeções do mercado para os principais indicadores econômicos. O relatório mostrou poucas mudanças nas últimas semanas: o IPCA projetado para 2023 foi de 4,98% para 4,95% e para 2024 seguiu em 3,92%; a Selic esperada para o fim deste ano permaneceu em 12,00% e para o fim do ano que vem, em 9,50%.