Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs voltaram a cair nesta quarta-feira, na esteira da divulgação de dados fracos de atividade econômica no Brasil e do recuo dos rendimentos dos títulos de dez anos nos EUA, após a inflação no Reino Unido desacelerar, pesando sobre as curvas de juros ao redor do mundo.
Foi a nona queda dos juros futuros no Brasil em 14 dias úteis de dezembro, o que dá uma dimensão do movimento mais recente de eliminação de prêmios na curva brasileira. Em quatro sessões de dezembro as taxas subiram e em uma delas ficaram praticamente estáveis.
No início do dia, o Escritório de Estatísticas Nacionais do Reino Unido informou que o índice de preços ao consumidor subiu 3,9% em novembro, em taxa anual, após registrar alta de 4,6% em outubro. A inflação atingiu em novembro o menor nível em mais de dois anos.
A queda da inflação elevou a expectativa de que o Reino Unido possa se juntar aos Estados Unidos e cortar juros já no primeiro semestre de 2024, o que pesou sobre as taxas dos títulos britânicos e também sobre os yields dos Treasuries.
O título norte-americano de dez anos -- referência global de investimentos -- viu sua taxa oscilar abaixo de 3,90%.
Esta euforia em torno de juros menores chegou ao Brasil e contribuiu para a queda das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros). O movimento foi reforçado pelos dados de atividade econômica em novembro, que decepcionaram.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) recuou 0,06% em outubro na comparação com setembro, em dado dessazonalizado. O resultado ficou abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters com economistas, de avanço de 0,10%. O IBC-Br é um sinalizador de tendência para o Produto Interno Bruto.
“Em nossa visão, a atividade doméstica continuará perdendo força no curto prazo. Projetamos que o PIB crescerá 3,0% em 2023 e 1,5% em 2024”, afirmou a área de Macro da XP (BVMF:XPBR31), em nota sobre o IBC-Br enviada a clientes.
A fraqueza da atividade econômica, na visão do mercado, contribui para uma inflação menor no Brasil, o que favorecia a retirada de prêmios na curva a termo nesta quarta-feira.
O movimento também ocorria um dia após a agência de classificação de risco S&P elevar a nota de crédito de longo prazo do Brasil de BB- para BB -- algo que foi comemorado na véspera pelo governo e visto como positivo pelos agentes do mercado, a despeito das dúvidas em torno da área fiscal.
Durante a tarde, as negociações em torno da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024 prosseguiam em Brasília, com o governo atuando para tentar assegurar a aprovação do projeto no Congresso até o fim desta semana.
Se o Legislativo não aprovar o Orçamento antes do início do recesso parlamentar, o governo será forçado a iniciar 2024 sob a vigência de uma regra que limita os desembolsos dos ministérios até que a aprovação aconteça.
O relator da Lei Orçamentária Anual (LOA), deputado Luiz Carlos Motta (PL-SP), afirmou durante a tarde que seu parecer deve prever um valor total de 73 bilhões de reais em investimentos públicos em 2024, ante 58 bilhões de reais na versão original do governo. Por outro lado, as verbas para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foram cortadas em quase um terço.
Em meio ao temor do mercado em torno da versão final da LOA, ainda a ser conhecida, as taxas futuras desaceleraram um pouco a queda no fim da tarde.
Neste contexto, a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,055% no fim da tarde, ante 10,06% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 9,585%, ante 9,617% do ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 estava em 9,67%, ante 9,709%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2028 estava em 9,91%, ante 9,969%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 10,31%, ante 10,399%.
Perto do fechamento a curva a termo precificava 99% de chances de o corte da taxa básica Selic em janeiro ser de 0,50 ponto percentual, como vem sinalizando o BC. As chances de corte de 0,75 ponto percentual estavam em apenas 1%. Atualmente, a Selic está em 11,75% ao ano.
Às 16:39 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 3,60 pontos-base, a 3,8864