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Temor fiscal prevalece e nem mesmo NY e Vale impedem queda forte do Ibovespa

Publicado 22.10.2021, 08:30
© Reuters.  Temor fiscal prevalece e nem mesmo NY e Vale impedem queda forte do Ibovespa
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O mau humor dos últimos dias se alonga para esta sexta-feira no mercado doméstico, à medida que investidores e especialistas veem com grande preocupação iminente recuo do arcabouço fiscal do País. O Ibovespa cai acima de 2%, renovando mínimas, enquanto o dólar sobe, chegando a testar R$ 5,7185, influenciando os juros futuros, que renovam máximas.

O clima adverso local está longe ficar tranquilo, e a curva de juros mostrando Selic em 9,12% no fim deste ano e em 12,75% em 2022, conforme o estrategista-chefe do Mizuho (NYSE:MFG), Luciano Rostagno.

Hoje, a lista das altas na carteira do índice Bovespa é maior do que na véspera, quando este número girava em torno de um ou dois, e com destaque ainda para valorização dos papéis da Vale (SA:VALE3) (alta de quase 2,5%), que se recuperam, em sintonia com a elevação do minério de ferro na China. A despeito disso, ações de peso como Petrobras (SA:PETR4) e bancos caem fortes. A petrolífera cedia acima de 3%, enquanto, no setor financeiro, destaque para o recuo de quase 5% de Bradesco (SA:BBDC4) PN; BB (SA:BBAS3) cedia 3,50%.

"Para falar a verdade, o mercado está reagindo assim negativamente a semana inteira. Teve a ansiedade para saber os detalhes do novo auxílio, qual seria a fonte de financiamento, depois a frustração com a suspensão da entrevista que daria as informações sobre o benefício, indicando que haveria certo comprometimento fiscal", diz Alexandre Almeida, economista da CM Capital. "Agora, fomos surpreendidos com a saída de membros da equipe técnica, o que traz uma percepção de piora da política econômica", completa. Almeida.

Neste cenário, nem mesmo alivia internamente a moderada alta da maioria das bolsas americanas, à medida que investidores se mostram aliviados com a chinesa China Evergrande Group (HK:3333)  (OTC:EGRNY), que pode evitar um calote, enquanto analisam balanços mistos de grandes empresas dos EUA

A derrota da equipe econômica para a ala política do governo na mudança do teto de gastos para abrir espaço no orçamento de 2022 para um auxílio de R$ 400 culminou com pedido de exoneração de quatro integrantes do Tesouro Nacional. O secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, o secretário Jeferson Bittencourt e seus respectivos adjuntos, Gildenora Dantas e Rafael Araujo, pediram demissão dos cargos.

Além da discordância com relação à mudança no teto de gastos proposta na comissão especial que analisa a PEC dos Precatórios, as saídas também são uma resposta ao anúncio feito ontem pelo presidente Jair Bolsonaro de um auxílio de R$ 400 para caminhoneiros.

Ontem, a comissão especial da Câmara que analisa a PEC dos precatórios concluiu a votação do texto, que deve ir a plenário na semana que vem. Combinadas, as mudanças no texto aprovado abrirão R$ 83,6 bilhões no teto em 2022, segundo cálculos do governo revelados pelo Broadcast. O governo Jair Bolsonaro terá esse espaço à disposição no ano em que o presidente buscará a reeleição.

"O governo está dando com uma mão e permitindo que a inflação tire com a outra poder de compra", afirma Carlos Duarte, planejador financeiro CFP pela Planejar.

A saída da cúpula do Tesouro Nacional por conta das mudanças no Teto de Gastos já era esperada. "De qualquer forma, o quadro atual continua marcado por elevadas incertezas e forte aversão ao risco, o que resulta em elevados prêmios", afirma em nota a MCM Consultores.

Os potenciais substitutos de Bruno Funchal comentados seriam o ex-ministro do Planejamento Esteves Colnago, o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, e o secretário de Orçamento Federal, Ariosto Culau.

As mudanças reforçam o isolamento do ministro da Economia, Paulo Guedes, que há algum tempo já não é visto como 'queridinho' do mercado. Segundo Duarte, ficou muito clara para os agentes que o ministro está apoiando o governo, enquanto uma ala da equipe econômica não vê como correta a forma para abarcar o pacote de bondades. "O mercado perdeu a confiança em Guedes há muito tempo. Ele como fiador não garantiria a estabilidade do País. Porém, claro que uma eventual saída dele seria ruim, pois podem colocar um substituto com medidas populistas", diz.

Neste sentido, o investidor deve ficar de olho nas movimentações de uma eventual paralisação dos caminhoneiros no próximo dia 1º, dado que a categoria ficou descontente com o valor da ajuda do governo. "Uma greve agora é tudo o que o Brasil não precisa. Se a questão fiscal continuar em segundo plano, veremos mos ainda mais escalada da inflação e dos juros, além da possibilidade da volta do debate sobre pedido de impeachment do presidente", cita Duarte, planejador financeiro CFP pela Planejar.

Para completar, os dados do setor externo de setembro ficaram piores do que o esperado. O déficit em conta corrente ficou em US$ 1,699 bilhão, mais negativo do que a mediana de -US$ 1,600 bilhões na pesquisa Projeções Broadcast. Já o IDP ficou em US$ 4,495 bilhões (mediana de US$ 5,200 bilhões).

Às 11h22, o Ibovespa cedia 2,50%, aos 105.046,74 pontos, na mínima. Em Nova York, Dow Jones subia 0,39% e S&P 500, 0,11%, enquanto Nasdaq cedia 0,29%.

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