SÃO PAULO (Reuters) - A Toyota anunciou nesta quarta-feira investimento de 1,7 bilhão de reais na produção de um novo automóvel compacto híbrido flex no Brasil, marcando uma ampliação no portfólio "verde" da marca que foi a primeira no país a apostar nessa motorização.
O investimento foi possibilitado por acordo da montadora com o governo de São Paulo, onde estão as fábricas da Toyota no Brasil, para a liberação de cerca de 1 bilhão de reais em créditos tributários gerados e acumulados em atividades principalmente de exportações do grupo japonês. A liberação dos recursos se dará ao longo dos próximos quatro anos.
A liberação dos créditos para o novo carro ocorreu por meio do programa estadual ProVeículo Verde, que incentiva projetos de desenvolvimento de veículos menos poluentes com a liberação de crédito acumulado de ICMS.
"A gente vai trocar crédito de ICMS acumulado. Esse dinheiro vai virar aquisição de bens de capital, contratação de pessoas", disse o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. "Faz muito sentido trocar Capex (investimento) por tributo", acrescentou.
A Toyota não informou o total de crédito que tem junto ao Estado de São Paulo, mas o gerente de tributação da companhia no país, Rafael Ceconello, afirmou que o valor é maior que o 1 bilhão de reais que será usado no projeto do novo carro.
"Todos sabemos a importância do etanol na matriz energética brasileira. É uma solução muito prática, sustentável e acessível", disse o presidente da Toyota no Brasil, Rafael Chang, durante o anúncio na sede do governo paulista.
Segundo o executivo, o investimento vai permitir a efetivação de 700 trabalhadores hoje com contratos temporários nas fábricas da companhia nas cidades de Sorocaba e Porto Feliz.
A montadora japonesa foi a primeira no Brasil a lançar e produzir um carro com motorização híbrida flex, capaz de funcionar a bateria, gasolina e etanol. O modelo lançado foi o sedã Corolla em 2019 e hoje já há uma versão utilitária com essa motorização, o Corolla Cross. Os carros são produzidos no país em São Paulo com componentes como bateria e motor elétrico importados.
Chang afirmou que o modelo compacto, que ainda não tem nome, começará a ser produzido no final de 2024 e também vai utilizar baterias importadas do Japão, mas que o lançamento do carro vai ajudar a montadora a ampliar o mercado para uma eventual localização do componente, o mais caro em um veículo híbrido, no Brasil.
O modelo também será exportado para a América Latina, afirmou o executivo, evitando citar detalhes como preço ou características do veículo.
A opção por lançar um veículo compacto híbrido ocorre em um momento em que a maior parte da indústria no Brasil se concentrou sobre veículos de gama mais alta, que geram margens melhores.
O governo Luiz Inácio Lula da Silva tem discutido com algumas montadoras medidas que permitam a venda de um chamado "carro verde de entrada", que seria mais acessível à população e com tecnologia que reduza emissões de poluentes. As conversas ocorrem enquanto as vendas de carros híbridos e elétricos, ainda que tenham cifras globais modestas, têm disparado no país.
Segundo dados da associação de montadoras, Anfavea, as vendas de veículos híbridos e elétricos no Brasil no primeito trimestre somaram cerca de 14,8 mil unidades, expansão de cerca de 50% sobre o mesmo período do ano passado.
Atualmente, apenas as montadoras Stellantis (NYSE:STLA) e Renault (EPA:RENA) trabalham no segmento de entrada no Brasil, com os modelos Mobi e Kwid, ambos a combustão, mas os preços estão na casa dos 70 mil reais.
"Tem que ser acessível, por isso que estamos trazendo neste momento um veículo compacto", disse Chang sobre o carro que a Toyota pretende lançar em 2024. "Dentro de nossa oferta de veículos, vai ser um veículo mais acessível", acrescentou.
(Por Alberto Alerigi Jr.)