Por Douglas Busvine
BERLIM (Reuters) - O Google anunciou nesta quarta-feira que fez um grande avanço na pesquisa de computadores ao usar um computador quântico para resolver em minutos um problema complexo que levaria milhares de anos para ser resolvido pelo mais poderoso supercomputador da atualidade.
A confirmação oficial do avanço na computação quântica veio em um artigo publicado na revista científica Nature, após semanas de controvérsias sobre se a alegação do Google de "supremacia quântica" era válida.
Os cientistas da computação há décadas buscam aproveitar o comportamento das partículas subatômicas que podem existir simultaneamente em diferentes estados - em contraste com o mundo "real" que as pessoas percebem ao seu redor.
Assim, enquanto a computação tradicional depende de bits, ou conjuntos de uns e zeros, a computação quântica usa bits quânticos, ou qubits, que podem ser um e zero ao mesmo tempo.
Essa propriedade, chamada superposição, multiplica-se exponencialmente à medida que os qubits são entrelaçados. Quanto mais qubits puderem ser agrupados, mais poderoso será o computador quântico.
Mas há um problema: os pesquisadores quânticos precisam resfriar os qubits para quase zero absoluto para limitar a vibração - ou "ruído" - que causa erros nos cálculos. É nessa tarefa extremamente desafiadora que a equipe de pesquisa do Google fez um progresso significativo.
O presidente-executivo da Alphabet (NASDAQ:GOOGL), controladora do Google, Sundar Pichai, comparou a conquista à construção do primeiro foguete que conseguiu deixar a atmosfera da Terra e tocou a borda do espaço, um avanço que colocou as viagens interplanetárias no domínio do possível.
TAREFA ALEATÓRIA
O Google desenvolveu um microprocessador, chamado de Sycamore, formado por 54 qubits. Medindo cerca de 10 milímetros, o processador é baseado em alumínio e índio recobertos por silício.
No experimento, os pesquisadores conseguiram fazer 53 qubits, conectados entre si, a interagirem no chamado estado quântico.
Os cientistas então deram ao computador quântico uma tarefa complexa de detectar padrões em uma série de números aparentemente aleatórios. A máquina conseguiu resolver o problema em 3 minutos e 20 segundos e os pesquisadores estimaram que o mesmo problema precisaria de 10 mil anos para ser resolvido pelo supercomputador Summit, o mais poderoso do mundo hoje.
"Este dramático aumento na velocidade comparado com todos os algoritmos clássicos conhecidos é uma realização experimental da supremacia quântica nesta tarefa computacional", escreveu a equipe de pesquisa, liderada por Frank Arute, da área de inteligência artificial do Google.
ESPERA AÍ...
Enquanto a pesquisa atraiu aplausos, com William D. Oliver, do MIT, comparando suas descobertas na Nature com os primeiros voos dos irmãos Wright, os céticos dizem que o Google está exagerando sua conquista.
Pesquisadores da IBM (NYSE:IBM), a principal rival da computação quântica do Google, disseram que um supercomputador com armazenamento em disco adicional pode resolver o problema dos números aleatórios em no máximo dois dias e meio, com maior fidelidade - ou precisão.
Eles também disseram que o Google arriscou enganar o público ao sugerir que os computadores novos substituiriam os existentes.
"Os computadores quânticos nunca reinarão 'supremos' em relação aos computadores tradicionais, mas trabalharão em conjunto com eles, já que cada um tem suas qualidades únicas", escreveu Dario Gil, diretor de pesquisa da IBM.
Torsten Siebert, gerente do programa de pesquisa em computação quântica da Sociedade Fraunhofer da Alemanha, disse que o Google alcançou uma fidelidade impressionante em seu experimento envolvendo um grande número de qubits.
Por fim, disse ele, os computadores quânticos provavelmente trabalharão em conjunto com os computadores clássicos - cada um com seus pontos fortes.
"Certamente compartilhamos as preocupações da IBM sobre o conceito geral de 'supremacia quântica' em relação a um avanço verdadeiramente orientado para sua aplicação", disse ele, acrescentando que é provável que o progresso seja alcançado através dessas combinações híbridas de equipamentos.