Por Joyce Lee e Heekyong Yang
SEUL (Reuters) - A LG Electronics encerrará sua deficitária divisão de celulares após não conseguir encontrar um comprador, decisão que deve torná-la a primeira grande marca de smartphones a se retirar completamente do mercado.
A divisão de smartphones da LG acumula quase seis anos de prejuízo, somando cerca de 4,5 bilhões de dólares. A menor das cinco divisões do conglomerado sul-coreano é responsável por cerca de 7% da receita e será fechada em 31 de julho.
Na Coreia do Sul os empregados da divisão serão transferidos para outras empresas e afiliadas da LG, enquanto em outros lugares as decisões sobre emprego serão tomadas em nível local.
No Brasil, a LG tem fábricas em Taubaté (SP) e Manaus (AM). "Como a fábrica de Taubaté é a responsável pela produção de smartphones da empresa, apenas ela sofrerá modificações, a planta de Manaus (AM) continua operando normalmente", afirmou a companhia à Reuters.
Em Taubaté, trabalham cerca de 1.000 funcionários, sendo que 400 são dedicados à produção de smartphones, informou a empresa.
Para o sindicato de metalúrgicos de São José dos Campos e região, a decisão "deve levar ao fechamento de 430 postos de trabalho nas fornecedoras, sendo a maioria ocupados por mulheres".
A entidade afirmou que as fornecedoras da linha de celulares da LG em Taubaté incluem Sun Tech, Blue Tech e 3C. "As trabalhadoras já estão em estado de greve desde semana passada, quando cobravam das empresas um posicionamento transparente sobre o futuro das fábricas", afirmou o sindicato em comunicado.
CHANCE PARA RIVAIS
A decisão global da LG de retirar-se do segmento deixará sua participação de 10% na América do Norte ser engolida por Samsung e Apple (NASDAQ:AAPL).
"Nos Estados Unidos, a LG tem como alvo modelos de preço médio e isso significa que a Samsung, que tem mais linhas de produtos de preço médio do que a Apple, será mais capaz de atrair usuários LG", avaliou Ko Eui-young, analista da Hi Investment & Securities.
O abandono do setor altamente competitivo permitirá que a LG se concentre em áreas de crescimento, como componentes de veículos elétricos, dispositivos conectados e casas inteligentes, disse a empresa.
Em tempos melhores, a LG trouxe uma série de inovações em telefones celulares, incluindo câmeras ultra grande angular. Em seu pico, em 2013, a empresa foi a terceira maior fabricante de smartphones do mundo, atrás apenas de Samsung e Apple.
Mais tarde, porém, seus modelos principais sofreram com problemas de software e hardware, que diminuíram o apetite pelos seus aparelhos. Analistas também criticavam a empresa por falta de experiência em marketing em comparação com rivais chinesas.
Embora outras marcas de celulares bem conhecidas, como Nokia, HTC e Blackberry também tenham caído de alturas elevadas, elas não chegaram a desaparecer completamente do mercado.
A participação global atual da LG é de apenas 2%. Ela vendeu 23 milhões de telefones em 2020, o que se compara a 256 milhões da Samsung, de acordo com o provedor de pesquisas Counterpoint.
A LG tem presença importante em celulares na América Latina, onde se apresenta como quinta maior marca.
Embora marcas chinesas rivais, como Oppo, Vivo e Xiaomi (HK:1810) não tenham muita presença nos EUA, em parte devido às relações bilaterais estremecidas durante o governo de Donald Trump, suas ofertas de produtos de preços baixos e médios devem se beneficiar da ausência da LG na América Latina, dizem analistas.
Eles afirmaram que a LG planeja manter suas patentes de tecnologia de núcleo 4G e 5G, bem como pessoal de pesquisa e desenvolvimento, e continuará a desenvolver tecnologias de comunicação para 6G. Ainda não decidiu se licenciará tal propriedade intelectual no futuro, acrescentaram.
A LG fornecerá suporte de serviço e atualizações de software para clientes de produtos existentes por um período que varia de acordo com a região, acrescentou a companhia.
As negociações para vender parte do negócio ao Vingroup, do Vietnã, fracassaram devido a diferenças nos termos, disseram fontes com conhecimento do assunto.
(Reportagem adicional de Paula Arend Laier, em São Paulo)