Por Julia Payne e Kate Abnett
BRUXELAS (Reuters) - Líderes de países europeus pró-nuclear e especialistas em energia vão pedir uma retomada da energia nuclear, nesta quinta-feira, em uma cúpula em Bruxelas, buscando reconstruir o setor europeu após anos de declínio gradual.
O impulso político para expandir a energia nuclear - uma fonte de energia de baixo carbono - faz parte do esforço para atingir as ambiciosas metas climáticas da Europa. Mas enfrenta ventos contrários, incluindo a falta de investimento, os custos excessivos e os atrasos que têm assolado projetos recentes.
"Sem o apoio da energia nuclear, não temos chance de atingir nossas metas climáticas a tempo", disse o chefe da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol, a repórteres antes da Cúpula de Energia Nuclear em Bruxelas.
A energia nuclear caiu em desgraça na Europa devido a preocupações com a segurança após o acidente nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011, que levou a Alemanha a fechar imediatamente seis usinas nucleares e a desativar gradualmente seus reatores restantes. Os três últimos foram desligados em abril de 2023.
Mas a necessidade de encontrar alternativas ao gás russo após a invasão da Ucrânia por Moscou em 2022 e o compromisso da União Europeia de reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa em 55% até 2030 renovou o interesse pela energia nuclear.
No entanto, os países da UE permanecem divididos quanto à promoção da energia nuclear, com dois campos entrincheirados - um liderado pela França, que acredita que a expansão nuclear é crucial, e o outro incluindo os países antinucleares Áustria e Alemanha, que querem que o foco permaneça nas fontes renováveis, como eólica e solar.
O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, disse que a Europa precisa se libertar de ser "refém de abordagens ideológicas".
De acordo com uma declaração conjunta vista pela Reuters, os líderes da cúpula de energia nuclear em Bruxelas devem "se comprometer a trabalhar para liberar totalmente o potencial da energia nuclear, tomando medidas como condições favoráveis para apoiar e financiar de forma competitiva a extensão da vida útil dos reatores nucleares existentes".
A declaração também se compromete com a construção de novas usinas nucleares e com a implantação antecipada de reatores avançados, incluindo pequenos reatores modulares em todo o mundo, mantendo os mais altos níveis de segurança e proteção.
Rafael Grossi, chefe da agência atômica da ONU, a AIEA, disse que a energia nuclear precisa ser tratada em pé de igualdade com outros projetos de energia.
"Ainda temos uma arquitetura internacional e institucional que proíbe o financiamento de projetos nucleares", afirmou Grossi. "Isso não é um concurso de beleza."
Os Estados Unidos também estão procurando retomar o setor nuclear.
"Estamos apoiando a iniciativa francesa de incentivar o Banco Mundial e outros bancos de desenvolvimento a eliminar a restrição ao financiamento nuclear", disse aos repórteres John Podesta, assessor sênior do presidente dos EUA para energia limpa.