Por Gabriela Baczynska e Elizabeth Piper
BRUXELAS (Reuters) - A enfraquecida primeira-ministra britânica, Theresa May, pediu aos seus colegas líderes da União Europeia nesta quinta-feira concessões para que ela consiga conquistar algum apoio no Parlamento no mês que vem para um acordo que possa garantir que o Reino Unido saia de maneira suave da UE.
Chegando em Bruxelas para uma conferência um dia após uma tentativa frustrada de derrubá-la em seu país, May disse que não estava esperando um avanço imediato, mas que queria ajuda para que o pacote que ela havia acertado com a UE no mês passado fosse ratificado em Londres, onde muitos de seu Partido Conservador são contrários.
May foi recebida com boa vontade pelos líderes da União Europeia, mas também com um alerta: o acordo de divórcio alcançado no mês passado não será reaberto.
Ela apresentou seu pedido durante um jantar com líderes que têm dito que um tipo de texto declaratório com o objetivo de diminuir as preocupações dos britânicos poderia ser divulgado na quinta-feira, com mais podendo ser feito no mês que vem, antes de May apresentar seu pacote aos parlamentares.
Diplomatas dizem que uma das opções seria estipular um prazo --possivelmente o final de 2021-- como um alvo recomendado para concluir uma aliança comercial próxima entre UE e Reino Unido que colocaria fim à necessidade de um tratamento especial para a fronteira seca com a Irlanda --atual centro da discórdia no partido de May.
Entretanto, até a introdução de uma data para a resolução das questões seria complicado para a aceitação de alguns, inclusive para Dublin, enquanto May luta para satisfazer uma exigência de seus críticos para um limite de tempo rígido.
O plano especial para a fronteira com a Irlanda poderia deixar o Reino Unido submetido para sempre às regras alfandegárias da UE até que uma maneira melhor seja encontrada para garantir que não haja controles de fronteiras prejudiciais na fronteira terrestre entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda.
O desembarque do Reino Unido da UE, a maior mudança de política comercial e externa do país em 40 anos, está se mostrando um desafio complicado pelas divisões profundas no Partido Conservador de May.
Com menos de quatro meses para a data estipulada para a saída do Reino Unido no dia 29 de março, May enfrenta um impasse no Parlamento sobre o acordo, que endureceu as posições no país, jogando mais incerteza sobre as empresas que estão tentando prever o que acontecerá com a economia.
"Eu reconheço a força das preocupações na Câmara dos Comuns e é isso que irei apresentar aos colegas hoje", disse May. "Eu não espero um avanço imediato, mas o que eu espero é que possamos sim começar a trabalhar o mais rápido possível sobre as garantias necessárias."
Os líderes da UE foram claros. Todos disseram que precisam saber o que May queria assegurar em Bruxelas mas também alertaram que o Reino Unido não poderia renegociar o acordo de saída.
Embora alguns tenham buscado atenuar suas palavras ao expressar a vontade de ajudar May, o presidente francês, Emmanuel Macron, foi direto.
"Não podemos renegociar o que foi negociado por meses a fio", disse ele a jornalistas. "É Theresa May que precisa nos dizer qual a solução política que ela espera conseguir para encontrar uma maioria que aprove esse acordo."
A chanceler alemã, Angela Merkel, foi mais um pouco mais branda. "Nós podemos, é claro, falar sobre se há garantias adicionais, mas nisso os 27 membros da UE estão juntos e farão seus interesses claros, embora sempre no espírito de que iremos querer relações muito boas com a Grã-Bretanha após a Grã-Bretanha deixar a União Europeia".
May conquistou um voto de confiança no partido na quarta-feira por 200 votos a 117, mas o tamanho da votação contra ela aprofundou as divisões a poucas semanas da votação do Parlamento para aprovar o acordo do Brexit e evitar uma saída desordeira da UE. A vitória também veio a um preço --May prometeu que renunciaria até a próxima eleição, marcada para 2022.
Sua porta-voz disse que o acordo do Brexit será apresentado ao Parlamento "assim que possível" em janeiro.